15/08/18

DA IMAGEM DE N. SENHORA DA VITÓRIA

Nossa Senhora da Oliveira
Defronte daquela Real Casa, e magnífico Templo da Colegiada da notável Vila de Guimarães, dedicada à Senhora da Oliveira, e da sua porta principal fica o padrão, (de que falamos no tit. 8 da Imagem de nossa Senhora da Oliveira) e entre ele, e da porta principal distancia de dezassete passos, fica um átrio de passeio. É este padrão (como fica dito) obra não só magnífica, mas muito curiosa pelas muitas Imagens, que nele há, e de obra tão miúda, que parece que não podia obrar coisa mais perfeita em madeira. Fica debaixo de uma abóboda, levantada sobre quatro pilares, revestidos de colunas, (como também já dissemos) e sobre eles assentam quatro arcos com bastante vão, e largura. No alto do arco fronteiro à porta da Igreja se forma uma tribuna, nela se vê um Altar com a frente para o Ocidente, em que está colocada uma devota Imagem de nossa Senhora, a quem dão título de Victória. E a esta soberana Senhora atribuem muitos o milagre da oliveira; porque na ocasião em que a colocaram, reverdeceu. E deram-lhe o título de Vitória, pela que deu a ElRei D. João o Primeiro na batalha de Aljubarrota. Tem obrado muitos milagres, e assim é muito grande a devoção da gente para com esta Santíssima Imagem, e a vão buscar em seus trabalhos, e necessidades. A sua estatura são quase cinco palmos, é de rocha, e de vestidos, que tem muitos, que lhos oferecem os seus devotos em sinal de agradecimento, pelos benefícios que da Senhora recebem. Vem-se aos lados da Senhora, de uma parte São Dâmaso Papa, natural da mesma Vila; e da outra S. Torcato Bispo, e Mártir (cujo corpo está inteiro, uma légua distante da mesma Vila, em um túmulo com grande veneração, e ornato tão rico, que não parece ser coisa de gente muito ilustre, e de povo muito nobre. Ali estão pintados muitos quadros dos milagres, e maravilhas, que a Senhora tem obrado.

Aos pés do Altar desta Senhora está retratado de meio relevo a figura de um Advogado, que se chamava Pedro Lobão, o qual sendo Advogado naquela vila, tomou por empresa o querer derrogar os privilégios, isenções, e liberdades dos caseiros, e trabalhadores da Casa de nossa Senhora, e também dos Priores, e Cónegos daquela Colegiada, e o fazia com tanta instância, e paixão, que estando uma manhã conversando junto daquele Padrão, e defronte da Senhora da Vitória, como Abade de Freitas, e Luís Gonçalves, ambos Cónegos da mesma Colegiada; eles o repreenderam diante de outras mais pessoas, da perseguição que fazia aos tais privilegiados, e que se naquele negócio continuava, se guardasse a ira de Deus. Ao que ele respondeu, que não era o diabo tão feio como o pintam, que em quanto vivesse, (sem embargo do que lhe diziam) não havia de cessar, nem abrir mão disso. A qual palavra ele não tinha acabado de pronunciar, quando repentinamente caiu quase morto em terra, e com a fala de todo perdida, e rosto tão disforme, que mais parecia fantasma horrendo, que homem, e assim foi levado a sua casa, onde logo espirou.

Foi este cadáver levado à sepultura, ao Convento de S. Francisco, onde se seguiu outro sucesso não menos maravilhoso: porque morrendo sua mulher depois de trinta e três anos, se mandou enterrar no mesmo jazigo, o qual sendo aberto para esse efeito, se achou nele o corpo de seu marido todo inteiro, e somente com o gorgomil gastado, e as mortalhas. Foi assim tirado fora da cova, e posto à vista de todo o povo, encostado à parede da Igreja até ir o corpo de sua mulher, para ser enterrado na mesma sepultura, onde foi outra vez sepultado o desforme, e feio cadáver. E para exemplo, dispondo-o assim Deus, para que conhecesse o mundo todo, o quanto a Senhora quer que sejam honrados, e estimados os que a servem, e conservados os seus privilegiados nas honras, e privilégios, que por seu respeito se lhes concederam, se mandou naquele lugar tão público retratar naquele miserável estado, aquele seu perseguidor, e escrever em pergaminho aquele prodigioso sucesso, para se conservar no arquivo daquela Real Casa. Da Senhora da Vitoria escreve o Padre António Carvalho da Costa, em sua Cronologia Portuguesa tom. I lix. I cap. 13 e outros muitos, como se vê do título da Senhora da Oliveira acima. (Santuário Mariano Tomo 4, pág. 188 e seg.)

3 comentários:

Cláudia Arruda disse...

Salve Maria.

Que bela história e linda imagem de Nossa Senhora!

As flores bordadas nas vestes e manto, são amores-perfeitos...que zelo e mimo...

Nossa Senhora da Victória, rogai por nós.

anónimo disse...

Curiosa observação. Agradecidos pela ilustração.

Cláudia Arruda disse...


De nada...

Minha falecida mão cultivava.

O que me chamou atenção, foi pelo significado do nome amor-perfeito: é “amor duradouro” ou também é chamado de “Erva-da-Trindade”, devido as três cores que aparecem na delicada flor, o nome faz referência a Santíssima Trindade.

Quem confeccionou acertou na escolha.

Nossa Senhora é merecedora de tal zelo e mimo.

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