22/05/15

REFUTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DOS PEDREIROS ILUMINADOS (I)

(continuação do anterior)

Capítulo I
A Filosofia dos Iluminados Não é Original, é Cópia.

Não é a antiguidade que nos desagrada; é a antiguidade que quer parecer novidade, e a nenhuma outra coisa é um Iluminado, um antigo, que quer parecer novo. Se o escutarmos de perto, dirá que é um génio que pensa originalmente, que deve a si tudo o que é, que não tem outra guia mais que sua inteligência, que penetra com a própria luz todas as partes do Mundo inteligível mais incógnitas aos outros. Isto que de si assoalha o Iluminado o obriga a desprezar os outros homens, e a considerá-los como rebanhos, que vão, sem saber porquê, onde os leva o silvo do pastor. À vista disto, ou eu me engano, ou o Iluminado não é isto que diz. Considero de um cabo a outra toda a sua grande obra, seus princípios, seus dogmas, suas razões, e aquele ar de orgulho, e de altivez com que nos trata como ignorantes e pequenos: quando observo suas maliciosas ironias, sua afectação de humanidade, a pompa que faz de virtude, a ambiguidade de suas estudadas expressões, e cem mil artifícios a todas as luzes ridículos; eu não vejo mais do que cópias, e cópias de um muito mau original. Epicuro, (eis aqui o Original continuamente incensado, e não plenamente conhecido), Epicuro, o famoso Epicuro, que eu farei mil vezes aparecer em cena para ser confrontado com as suas cópias. Esta necessária confrontação não desagradará aos espectadores, porque com ela conhecerão o valor dos pensadores, e o mérito dos pensamentos. Vamos aos princípios fundamentais do Iluminismo, que são Deus, e o Homem; e para se não agravarem, descubram-nos estes senhores seus pensamentos. Consideram acaso um Deus providente, que dê Leis ao homem, e que o dirija? Consideram acaso o homem sujeito à justiça, e à providência de Deus? Se desta arte o consideram, acabou-se desde já a nossa questão, e nada tem o Iluminismo com o Epicurismo; mas se isto não é assim, quais são os princípios fundamentais do Iluminismo? Que Deus não cura, nem cuida do homem; que o homem é todo matéria, que tudo acaba na morte quando na morte se dissolve seu corpo. Estes princípios, são os mesmos do Epicuro, e já há mais de dois mil anos que Epicuro negou a Divina Providência, e fez a nossa alma material e mortal para a tornar impenetrável, diz, ele, ao temor da morte, e segura contra o pavor que lhe causavam os Céus. Este mesmo agora reproduzido Epicuro não foi original, e assim como copiou Demócrito nos princípios da Física, também foi cópia de Aristípio nos princípios da Moral; coisa tão sabida nos mesmos dias de Epicuro, que era pública fama ter-se apropriado, e dado por seus alguns escritos daqueles Filósofos. Avancemos contudo o passo por mais remota antiguidade. Acaso os princípios daqueles voluptuosos, e ímpios de que fala a Escritura, não são os mesmos princípios de Epicuro? Vejamos. Uns diziam: "Non videbit Dominus." Isto é o mesmo que negar a Providência. Os outros afirmavam: "Spiritus diffundetur tamquam molli  aer." Isto quer dizer, que tanto a alma, como o corpo do homem se desvanecem e acabam. A Filosofia dos Iluminados é tão velha em seus princípios, como velha a impiedade; e a despeito desta decrepitude atreve-se a dizer que é nova, e mui de fresco imaginada! Só se é nova a capa de simulação e hipocrisia com que se cobre: mas nem esta mesma capa é nova; com ela se embaçou Lucrécio nos primeiros versos de seu Poema, mostrando-se muito receoso de ser tido por mestre de impiedade. Muito mais havia feito Epicuro, chegando com a audácia a se inculcar por mestre exemplaríssimo de Religião, e virtude fundada nos manifestos princípios da impiedade.

(continuação, II parte)

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