07/04/15

Jacques-Bénigne BOSSUET (Enciclopédia)

Bossuet

"BOSSUET (Jacques-Bénigne) - Bispo, pregador e escritor fr. (Dijon, 1627 - Paris, 1704). Filho de magistrados borgonheses, fez os estudos no Colégio dos Jesuítas de Dijon, depois no Colégio de Navarra, em Paris. Frequenta então o Hôtel de Rambouillet (onde quer a lenda que ele tenha pronunciado o primeiro sermão em 1643). O encontro com S. Vicente de Paulo vai definitivamente orientar-lhe a vida e a eloquência (1648). Doutorado em Teol., é ordenado sacerdote, em 1652, e vai exercer em Metz os encargos do canonicato que obtivera desde 1640, com zelo e cuidado pastorais directamente inspirados por S. Vicente de Paulo. Pronuncia os primeiros grandes sermões e panegíricos, em particular o Panégyrique de Saint Paul (1657): fazendo o elogio daquele que foi forte pela fraqueza, denuncia os artifícios e exageros da eloquência sacra do seu tempo, exalta e define o "pequeno método" de "Monsieur Vicent". Volta a Paris, em 1659: os dez anos seguintes vão ser os das grandes obras oratórias. Prega quaresmas e adventos, tanto na cid. como perante a côrte. Os auditórios acorrem aos seus grandes sermões (Sur l'éminente dignité des pauvres, 1659; Sur la Parole de Dieu, 1661; Sur l'impénitence finale, 1662; Sur la mort, 1662; etc.): com uma eloquência veemente, que não poupa o rei, que o ouve, utiliza "todos os adornos da elocução" para levar os ouvintes à oração e a vida mais cristã. Pronuncia as suas primeiras grandes Oraisons funèbres, em particular a de Henriqueta de França (1669) e a de Henriqueta de Inglaterra (1670): ao evocar as façanhas e os méritos do morto, põe o problema da vida eterna e das verdadeiras grandezas humanas, as da alma. Em 1670, é nomeado pelo rei preceptor do delfim. Continuando, mesmo assim, a prégar, entrega-se, sobretudo, à educação do futuro soberano, de quem quer fazer um príncipe culto e cristão. Para uso dele, compõe verdadeiros manuais. Um tratado de hist., o Discours sur l´historie universelle (1679), que, em três partes, mostra, na hist. do mundo até ao reinado de Carlos Magno, o modo de proceder de Deus na hist. humana. Um tratado de polít., a Politique tirée de l'Écriture Sainte: todo o método de governo dos homens deve ser fundado na lei cristã e conforme à palavra de Deus. Um tratado de filos., inspirado pelo cartesianismo dominante: o Traité de la connaîssance de Dieu et de soi-même, onde afirma que o dogma cristão resolve os problemas metafísicos, esclarece os acontecimentos e fundamenta o poder. O delfim casou em 1689. Em 1681, B. é nomeado bispo de Meaux e vai entregar-se a esse cargo episcopal até à morte. Pronuncia ainda, algumas grandes orações fúnebres, entre ouras as da rainha de França (1683), da princesa palatina, Anne de Gonzague (1685), e do príncipe de Condé (1687). Para as crianças da sua dioc., compõe um Catéchisme (1687); para as religiosas de Meaux e de La Ferté-sous-Jouarre, obras dogmáticas, como as Élévations sur les mystères de la religion chrétienne e as Méditations sur l´Evangile. Defensor da fé católica, tinha já combatido o protestantismo, em Metz, publicando a Réfutation du catéchisme du pasteur Ferry (1655) e, mais tarde, a Exposition de la foi catholique (1671), livro que foi seguido de conversões, em particular a de Turenne. Em 1688, publica a sua Histoire des variations des Églises protestantes (1691), seguida de Avertissements aux Protestants (1691). Contra o Pe. Caffaro, autor de uma dissertação a favor do teatro, publica a suas Maximes et réflexions sur la comédie (1694), violento ataque contra o teatro, que, ao pintar as paixões humanas, sobretudo as do amor, corrompe os costumes e enfraquece as almas. Escreveu, tb., um Traité de la concupiscence, publicado depois da sua morte. Em 1682, abre a Assembleia Extraordinária do Clero de França com um "sermão sobre a unidade da Igreja" e redige a Declaração sobre as liberdades da Igreja Galicana. Os últimos anos foram dominados por uma luta apaixonada, por vezes injusta, com Fénelon, Madame Guyon e os defensores do quietismo (> amor puro). Em reposta à Explication des maximes des saints, de Fénelon, publica a Instruction sur les étas d'oraison (1697), a a Relationsur le quiétisme (1698), a seguir à qual o quietismo foi condenado em Roma, em 1699. B. foi sepultado na catedral de Meaux, cid. para sempre ligada ao nome da "Águia de Meaux". Espírito pujante, inteligência capaz de grandes sínteses, B. é sobretudo célebre pelo talento oratório. Recusando-se a cultivar a eloquência por si mesma, impõe sempre a si próprio um plano religioso que põe ao serviço de um raciocínio simples, claro, e do qual tira uma força de convicção maior. O estilo dos sermões sabe aliar a simplicidade audaciosa a grande precisão de vocabulário e à plenitude da palavra tomada no sentido rigoroso. Admiravelmente rítmico, o período oratório é bem apoiado tanto pelo rasgo lírico e pela imaginação poética, rica e variada, como pelo rigor da lógica incontestável. Deve subscrever-se o juízo de P. Valéry: "Nul plus sûr de ses mots, plus fort de ses verbes, plus énergique et plus délié dans tous les actes du discours, plus hardi et plus heureux dans la syntaxe et en somme plus maître du langage, c'est-à-dir, de soi-même."" (Enciclopédia Luso Brasileira).

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