(continuação II parte)
Seria fastidioso querer dar, posto que fosse uma noção genérica dos trabalhos da Convenção, e de seus principais Oradores, que todos requintáram sobre os de primeira, e segunda Assembleia, como era de esperar, e como se viu na nossa segunda, que, nos seus Preopinantes escoohidos a dedo, encovou a primeira, sem que lhe faltassem os Lakanais, os Barreres, os os Danous, que enunciassem ideias novas, e peregrinas sobre a educação da mocidade... Quando a França nadava em sangue, já se colhia o fruto da Maçonaria ou do Ateísmo; e os dias de Robespierre são a prova terminante, de que já se tinha realizado em grande parte o sistema do ímpio Mirabeau, e de que se entornava sobre Paris, e outras Cidades populosas o cálice da vingança Celeste; pois que outra que a França via cair diariamente, só na primeira daquelas Cidades, um cento de cabeças, acudindo esse Povo iluso a tão medonho espectáculo, como acode o Português (pelo que não é digno de louvor) a uma corrida de Touros!!
Chegaram outros dias aparentemente mais serenos, porém tão contrários à instrução Religiosa, como tinham sido os primeiros, de que pastará das um argumento, que vem no Relatório de João Debry (o que escapou à matança de Rastad) apresentado a 23 do Vindemiario, ou mês das vindimas, ano 6º, pois já tinha desaparecido da França tudo quanto era nome Cristão, ou que despertasse a lembrança do Cristianismo [apenas de modo oficial, visto que sempre houve grandes resistentes que fugiam à visibilidade]; já tinham cessado inteiramente as Festas Cristãs, que eram substituídas pelas Cívicas. (tivemos guardas assim chamadas, e pouco tardariam as Festas.) Para desenfado meu, e de alguns leitores ponho aqui um brevíssimo catálogo das tais Cívicas...
Festa da Fundação da República, no 1º do mês das vindimas;
Festa da Mocidade, a 10 do Germinal;
Festa dos Maridos, a 10 do Floreal;
Festa do Reconhecimento, a 10 do Prureal;
Festa da Agricultura, a 10 do Misidor;
Festa da Liberdade, a 9 e 10 do Thermidor [ver o calendário dos revolucionários, aqui]
Festa da Fundação da República, no 1º do mês das vindimas;
Festa da Mocidade, a 10 do Germinal;
Festa dos Maridos, a 10 do Floreal;
Festa do Reconhecimento, a 10 do Prureal;
Festa da Agricultura, a 10 do Misidor;
Festa da Liberdade, a 9 e 10 do Thermidor [ver o calendário dos revolucionários, aqui]
Tudo isto é substanciado da Lei de 3 de Brumário, ano 4º, que foi o derradeiro acto, ou remate dos trabalhos da Convenção; e ainda que estas Cívicas, apesar do atractivo da licença de costumes, e de muito dinheiro, que neles se consumia, para se tornarem aparatosas, e exaltarem a imaginação dos assistentes, e do engodo de banquetes fraternais, determinados na própria Lei, nem por isso medraram, e nunca tiveram aquela voga, e aplauso, que em melhores tempos haviam conseguido as Festividades Cristãs, ficou todavia como reinando em França o Ateísmo, pelo menos prático, da maneira que o tal Debry falava com a sua gente, e não dava o menor escândalo aos seus ouvintes, arengando-os pela maneira seguinte.
"A Realeza tem subido em audácia, destruindo em proporção do que nós edificámos: o fanatismo ulcerado, (coberto de chagas) está rondando em trono da infância, para fazer brotar nesses corações singelos o ódio à República, e o amor da superstição. Combatamos fortemente estes inimigos da felicidade Social; e ainda que não fossemos senão membros do Corpo Legislativo, ainda que fossemos só vinte, poderíamos dizer com os Exércitos Franceses, quando falam dos Tiranos "chegou-lhes a sua hora". Ah! se é necessário uma superstição, seja a nossa a da Liberdade, criemos este fanatismo de maneira, que a Constituição, e a República levem todas as nossas homenagens, e distribuam como lhes aprouver todas as recompensas."
Não é preciso que eu me demore a comentar este fragmento de eloquência Liberal, que contém nada menos que o verdadeiro Alcorão do Maçonismo; e que leais seriam as escolas formadas nesse tempo, e sob tais direcções, e auspícios? Escolas de Ateísmo, em que nunca se passou de cantigas Patrióticas, ou ímpias, e da nova Moral Republicana, que é uma coisa assim chamada, com que se cobrem os mais nefandos delitos, e as mais desconhecidas atrocidades. Parece-me justo dar aos meus leitores uma noção, posto que mui sumária, dessa tão apurada Moral, que se aprendia em França pelos anos de 1798, e 1799, e reparem nesta data, para saberem os anos, que contam agora muitos Franceses imbuídos nesta Moral. ora quando se trata dos nossos deveres para com os outros homens, que coisa mais respeitável aos olhos da Moral Cristã do que a propriedade? Furtar, ser ladrão, eis aqui umas prendas, que ninguém quer nos seus filhos, e nos seus amigos, e que são geralmente detestadas; porém a benigna Moral Republicana segue um rumo diferente; senão haja vista ao Livro Magistral, a um dos melhores Compêndio de Moral, que se tem escrito no Mundo, Compêndio que não mostra que o seu Autor seja, ou deixe de ser Católico, e que em todo o caso prova, que o seu Autor não era Ateu, quer dizer a Lei natural, ou Catecismo do Cidadão Francês, que os nossos Demagogos de 1820 quiseram que fosse o Catecismo Português, que saiu à luz com licença da Comissão de Censura!! Ora o juízo recém feito, ou acima escrito sobre tal produção de trevas, é de um Realista, defensor da Causa de Luís XVIII de França, e nomeado por este Soberano para uma Cadeira de História no Colégio de Luís o Grande!!! (Veja-se a Biografia Universal, tomo 49 - impressa em Pais (1827) pág. 443) Já eu disse no meu "Punhal dos Corcundas", que este Livro, que não tem nada contra a Religião Cristã, ensina positivamente, que a Fé é a virtude dos tolos, e agora direi mais alguma coisa, para que todos os Proprietários deste Reino estejam à lerta, para se acautelarem da negra sorte, de que os ameaça o infernal Maçonismo, ou Liberalismo.
"A Lei natural (pergunta do Catecismo Volneyano) proíbe o furto? Reposta: Sim, porque o homem que rouba outro, dá a este o direito de o roubar; desde o que não haveria segurança na propriedade, etc."
Conde Volney |
Que zombaria tão clara dos preceitos da lei natural, e Divina? Se o roubo é ilícito meramente por se arriscar nele a propriedade do ladrão; no caso de que este faça bem o seu papel, ou tome bem as alturas ao negócio, de maneira que fique seguro, de que não será inquietado por tal motivo, ai o temos livre de todos os receios, e temores; pois logo que se dissipe toda a apreensão de ser acometido, ou roubado por aquele a quem roubou, nada o poderá conter; e por isso a Lição do Catecismo parece mais talhada para benefício dos salteadores, que para segurança dos ricos, e proprietários. Todo o caso está em que o fruto seja feito com arte, visto que não é o mal do fruto, o que se deve temer, porém o subsequente perigo, de que o que foi roubado possa fazer o mesmo a quem roubou. O Catecismo, apenas foi posto em linguagem [vernáculo], deveria ser logo o Compêndio do suso dos ladrões do Pinhal de Azambuja, e de outras que tais quadrilhas, que, se necessitassem de Comandante, poderiam achar ais que um Discípulo de Volney, tanto em palavras, como em acções, nos Augustos Representantes nos Soberanos Congressos.
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