(continuação da I parte)
O certo é, que os Mações acharam, para assim dizer, maré de rosas em todos os Reinos da Europa, e se Deus não tivesse prometido à sua Igreja o assistir-lhe até à consumação destes Séculos, já teríamos visto preenchido literalmente o desejo da Maçonaria. Bem conheceu ela, desde o princípio da Revolução Francesa, o que lhe era conveniente apoderar-se da instrução, e a educação pública, e daqui procedia, que no mesmo ponto em que as cabeças caíram aos centos da guilhonita, se ouviram propostas sobre propostas, indicações sobre indicações, sobre a necessidade de promover, e melhorar a educação da mocidade.... Dá tanta Luz, o que se passou, e discutiu nesta matéria, durante aquela infausíssima revolução, para sabermos explicar o grande papel que os Estudantes, há doze anos a esta parte, ou já fizeram, ou estão fazendo, desde o Vistula até ao Tejo, que me expus ao trabalho de coligir o que me parecesse mais notável, e conducente, para que os bons Portugueses sabiam donde vêm os tiros, e se preveniam, quanto neles for, para os acautelarem, ou remediarem.
Uma das primeiras ideias, ou traças Maçónicas neste particular, de que vou tratando, é arredar da educação da mocidade, tudo quanto cheire a Profissão Religiosa, ou possa lembrar um hábito Fradesco.... Tenha paciência muita gente boa deste Reino, que ainda padece mais, ou menos acesso infernal doença, e que talvez no silêncio de suas habitações se lastime, de que não durasse mais aquele bom tempo, em que para edificação dos bons, e terror dos maus, se punham a concurso várias Cadeiras, com a expressa, e mui rasgada exclusão de Frades. Tenham paciência, mas por atender ao Realismo, posto que anfíbio, e de tarraxa, que professam certos Anti-Monaquistas, devo-lhes ponderar, que a Espada Micaelina pode muito bem cortar esse ódio à Profissão Religiosa, que, na opinião de Santo Atanásio, é próprio de Satanás, e que eles tão indiscretamente deixam transpirar onde menos convinha...... E porque se excluem das nobres funções de educar a mocidade os Monges, ou Frades em geral, e indiscriminadamente? Pelo temor de que eles eduquem a mocidade no Santo temor de Deus, e lhe imprimam sentimentos de Santo temos de Deus, e lhe imprimam sentimentos, e princípios Religiosos. Eis a verdadeira causa porque um dos primeiros cuidados da Revolução Francesa foi a extinção das Ordens Religiosas; eis a verdadeira causa, porque sentindo o grande obstáculo, que preparavam contra os sucessos de Julho os melhores de quantos educadores há, ou tem havido neste mundo, quero dizer, os Jesuítas, porfiaram, trabalharam de dia e de noite, para extorquírem o novíssimo Decreto, que os expulsou da França, e que fez estalar pelo meio um dos melhores espeques do Trono de S. Luís.
Ora chamemos estas coisas de mais longe, pois tenho plena certeza de que não serei por isso nem desagradável, nem pesado aos meus Leitores. A mania das reformas, que é um dos sintomas inerentes às revoluções modernas, trouxe consigo outra mania, que vem a ser, a formação de planos sobre planos, que certamente nunca os houve mais em número, e mais conhecidos pela sua incoerência, e absoluta nulidade. Não houve forma de Governo em França desde 1790 até 1814, que não curasse especialmente da educação da mocidade, e recebesse indicações sobre indicações, para tão altos, e nobres fins. A Constituinte, a Legislativa, a Convenção, o Directório executivo, o Consulado temporário, o Consulado vitalício, e por fim a mais absoluta das Monarquias; todos estes Governos tiveram que fazer, e não pouco, sobre a educação da mocidade. Houve muitos planos já de mais, já de menos autoridade, conforme a preponderância dos omnipotentes sobre as deliberações dos seus Colegas. Houve planos oferecidos por Bispos, logo por Matemáticos, daí a pouco por Filósofos, e também apareceram Legistas, que meteram a sua colherada; e fim, todas as classes de preopinantes meteram mãos à obra das luzes, ou antes Lucigerina, pois em quasi todos, ou para melhor dizer em todos, prevalece a ideia arquétipa, ou fundamental do Maçonismo, que é esta "Nada de Religião Católica, que nos dana, e transtorna os nossos intentos.... ela faz bons Cristãos, e por isso mesmo bons Católicos, e nós o que mais queremos para a Sociedade são os Ateus." Foi um Bispo Francês o que apresentou à Constituinte um plano de Instrução, que corre impresso; e não sei eu o que mais admire, se um Bispo falando como falaria um Ateu; se as actuais verduras deste Prelado, no qual nem as neves de 80 anos podem fazer mossa, para que deixe de conspirar contra o seu Rei legítimo; e se os Reis (permita-se-me esta breve reflexão) e se os Reis fazem uns destes Mordomos mores, para que se queixam depois, e estranham o que deviam temer, quando é certíssimo, que perro velho não toma língua? Neste plano de educação, que mereceu os louvores do Congresso, que o mandou imprimir, e que ficou servindo de aresto para outras ocasiões, em que se tratou do assunto, encontram-se passagens imortais, que deveriam ser mais conhecidas, e que largos e excelentes subsídios me preparam para as minhas Analogias entre a Revolução Francesa velha, e a sua mais parecida filha a Portuguesa de 1826!
Revolução Liberal em Portugal, 1826 - D. Pedro impondo a "Carta Constitucional" |
"É necessário (ouçamos o Pastor já feito Lobo cerval) ensinar a Constituição; é pois necessário que a declaração dos direitos do homem componha para o futuro um novo catecismo da infância." (Pag. 11)
Onde fica a tais horas o catecismo velho? Pereceu de todo, e por isso nós vemos a razão desse adinco indomável, a que o sistema fosse explicado nas Igrejas à Estão da Missa Conventual. Sendo o catecismo novo, parecia-lhe conveniente, que disputasse ao velho até o próprio lugar, em que há tantos Séculos era ensinado, e explicado.
Que protecção daria este Bispo Legislador aos Seminários? Literalmente à Francesa. Esbulhou-os até do seu nome, que é mais do que se desejava; e pôs-lhe outro mui lindo, e expressivo "Escola para os Ministros da Religião" onde teriam lugar pela primeira vez algumas ciências, que nem por isso foram lembradas até esse tempo, nas muitas, e sábias instruções sobre os requisitos necessários para o Sacerdóocio "As regras de medição dos campos, a ciência de medir as superfícies, e os sólidos, o conhecimento dos simples, (botânica) alguns princípios de Hygiena, e de Direito, parece que deverão entrar daqui em diante na Instrução Ecclesiástica."
Por este modo se vinham a fazer os Clérigos uns sabichões, e faltando-lhes o tempo de estudo, para o que certamente lhes é necessário, e indispensável, teríamos em breve melhores curandeiros, e rábulas, do que bons, e bem instruídos Sacerdotes. Mas que se tirou desse cartapácio de géneros de educação em perfeita discordância dos antigos? Cousa nenhuma. Ficou somente a lembrança das imortais lições do Emílio, que o Senhor Bispo deseja se inculquem da parte do Povo Rei a todas as Mães. Ah meus Autores Franceses, que publicais sem rebuço, que as desenvolturas do Clero Secular, e Regular, foram uma das causas da Revolução, estou convosco. Se este Prelado não achasse ao pé de si, e nas mesmas doutrinas, um Bispo de Lydda, e um Bispo de Babilónia, não se teria consumado tão apressadamente o cisma, que foi o prelúdio de outros males ainda maiores, que aguardavam a outrora florescente Igreja Galicana.
Seguiu-se um Plano matemático, e do Matemático Mr. Condorcet, que se esquivou à guilhotina, matando-se com veneno, fim trágico, porém assaz merecido, por quem a 21 e 22 de Abril de 1791 improvisou, ou blasfemou desta maneira "É necessário que nos ocultemos de fazermos ensinar alguma Religião, ou de assalariarmos os Ministros de algum Culto" Toda a Religião particular é má... As proscripção deve estender-se ao que se chama Religião natural.... Custa-me a sustentar a pena, que me foge da mão, porém hei de segurá-la, para que todos os Portugueses conheçam de que modo se engendra facilmente uma Nação Maçónica, cujo elemento são as rapinas, e violências, e que não existe, nem pode existir senão em perpétua contradição com os Povos, que não abraçarem as suas ideias. - Enfim, o puro ateísmo, guisado com uma tal perfectibilidade, é toda a substância de um plano, que foi lido, e aplaudido numa Assembleia Legislativa. Que Assembleia! Que Legisladores!
(continuação, III parte)
(continuação, III parte)
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