07/11/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XXIII)

(continuação da XXII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis
Cap. XXIII
Meditação Sobre a Morte 

1. Bastante rápido se concluirá contigo este assunto; por isso, olha como vives. Hoje está vivo ò Homem, amanhã terás desaparecido da Terra. Perdido de vista, breve estarás perdido na lembrança de todos os que te conheceram.
Ó descuido e dureza do coração humano, que cuida só das coisas presentes e não olha para as futuras! De tal modo te deves ter em tuas obras e pensamentos, como se houvesses de morrer hoje.
Uma boa consciência não teme a morte. É, pois, melhor fugir do pecado que da morte. Se hoje não estás pronto, como estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto, e como sabes que ele te é concedido?

2. De que aproveita viver muito tempo, quando tão pouco o aproveitamos em emendar-nos? A vida longa não emenda sempre, antes muitas vezes aumenta a culpa. Prouvera a Deus que, ao menos por um dia, vivêssemos bem neste mundo! Muitos contam os anos da sua conversão, mas na verdade é pouco o fruto da sua emenda. Se é tanto para recear o morrer, pode ser que seja mais perigoso o viver muito.
Bem-aventurado o que traz sempre diante dos olhos a hora da sua morte e cada dia se dispõe para ela.
Se viste morrer alguém, considera que também passarás por aquele transe.

3. Quando te levantares pela manhã, cuida que talvez não chegarás à noite; e em chegando à noite, não te prometas a certeza de chegar até à manhã. Por isso anda sempre aparelhado e vive de tal modo que nunca te apanhe a morte desapercebido.
Muitos morrem repentinamente, porque, na hora em que menos se imagina, há-de vir o Filho do Homem. Quando vier aquela hora, volverás o teu pensamento à vida passada e sentirás muito ter sido frouxo e negligente.

4. Que ditoso e que prudente é aquele que procura ser tal na vida qual deseja que Deus o ache na morte! Porque o perfeito desprezo do mundo, o fervoroso desejo de aproveitar nas virtudes, o amor à observância  dos deveres, a prontidão da obediência, o trabalho da penitência, a negação de si mesmo e o sofrimento das adversidades por amor de Cristo lhe darão grande confiança de morrer feliz.
Muitas boas obras podes praticar estando são, mas, enfermo, não sei o que poderás. Poucos melhoram com as enfermidades e poucos os que lucram com as peregrinações.

5. Não confies em amigos e parentes, nem dilates para um futuro incerto o negócio da tua salvação, porque, mais depressa que imaginas, se esquecerão de ti os homens. Melhor é agora fazer com tempo, seguro e previdente, boas obras, que leves diante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros. Se não és cuidadoso contigo mesmo, como fiar dos cuidados dos outros? Eis que o tempo agora é precioso, os dias agradáveis, porque são os da tua salvação. Mas ai!, tu não gastas com proveito esse tempo, do qual depende o teu viver por toda a eternidade. Tempo virá em que desejes um dia, ou uma hora, para a tua emenda, e não sei se a alcançarás.

6. Caríssimo, de quantos perigos te poderias livrar e de quantos temores fugir se sempre estivesses temeroso e suspeitoso da morte! Trata agora de viver de tal modo que na hora da morte te possas antes alegrar que temer.
Aprende agora a morrer para o mundo. Aprende a desprezar tudo para que então possas ir livremente para Cristo. Castiga agora o teu corpo pela penitência, para que possas ter uma confiança certa.

7. Ah, louco! Para que pensas que hás-de viver muito tempo, quando não tens algum dia seguro? Quantos se enganaram morrendo quando menos imaginavam!
Quantas vezes ouviste dizer: "Aquele morreu de uma punhalada, aquele afogou-se, aquele quebrou a cabeça caindo do alto, aquele comendo ficou gelado, aquele jogando expirou?" Outro morreu a fogo, outro a ferro, outro de peste, outro às mãos dos ladrões, e desse modo a morte é o fim de todos e a vida do homem passa ligeiramente como a sombra.

8. Quem se lembrará de ti depois de morreres? Quem rezará por ti? Faz agora, caríssimo, o que puderes, pois não sabes quando morrerás e ignoras também o que te sucederá depois da morte.
Enquanto tens tempo, ajunta riquezas imortais. Seja o teu único cuidado tratar da tua salvação e das coisas de Deus.
Granjeia agora por amigos os Santos, venerando as suas memórias e imitando os seus exemplos, a fim de que, quando saíres desta vida, venham ao teu encontro e te recebam nas moradas eternas.

9. Considera-te como hóspede e peregrino sobre a Terra, ao qual nada devem importar os negócios do mundo.
Conserva o teu coração livre e levantado para Deus, convencido de que nada é permanente na vida terrena.
Dirige ao Céu as tuas orações e gemidos de cada dia, oferece a Deus os teus suspiros e as tuas lágrimas, para que mereça o teu espírito, depois da morte, passar ditosamente ao Senhor.

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES