[(a) - Virgílio lib. 6;
(b) - Martin. hist. lib. 1 c. 13.]
EXCELÊNCIA I
Formosura dos Campos, Hortas, e Jardins de Portugal
A beleza dos campos, hortas, e jardins em Portugal é tal que todo o Reino pode ser comparado ao bosque de Tesália chamado Tempe, de cuja beleza Ovídio fala, (a) ou tudo pode chamar-se Tempe, se Tempe por antonomásia se chama aos bosques amenos, como diz Virgílio; (b) porque está povoado de infinitos jardins belíssimos e tão excelentes que também no verão e inverno se vêem vestidos de rosas, e todo o género de flores (já como o tratou Políbio, e Ateneu refere (c)) em tanta abundância, que os direitos, que na Cidade de Lisboa se pagam ao Rei das flores, que ali se vendem, lhe rendem muito dinheiro. E assim parecerá a quem for a Lisboa, e isto em todas as suas praças, principalmente à porta da Misericórdia, grandíssima quantidade de rosas, e flores dispostas em grinalda, ramalhetes, e outras mil invenções, sem que entre inverno e verão haja nisto alguma diferença. De um jardim destes de Portugal cerca de ter flores por inverno e verão disse Manuel Faria, poeta moderno português. (d)
Pouco distante um campo eu descubro,
Que o sítio mostra da esfera formosa,
Que nunca espera Abril, nem teme Outubro,
Para gozar jasmim, mosqueta, e rosa;
Que é primavera no rigor do gelo,
E pela primavera o mesmo céu.
E diz outro a respeito do termo de Lisboa:
Ver ubi perpetuum vestius gramine camus
Indicat Elysiis longe felicior arvis,
Indicat Elysiis longe felicior arvis,
(e mais à frente:)
Hic nitidi rident alieno tempore flores,
Purpureas hic bruma rosa innoxia redit,
Quas neque torrenti regnat cum Syrius aestu,
Aut rapidi soles urunt, gelidusue Bootes.(e)
E o dito Manuel Faria diz (que se no verso é tão excelente, no o é menos na prosa) noutra parte, falando da região Entre Douro e Minho, dizendo estas palavras (f): "É pelo geral terra de montes verdes que podiam ser prados em outras terras, e seus prados, e vales assim cheios de arvoredo, ervas, flores, e fontes, que apenas apenas os caminhos se vêm definidos: em quase cada árvore se vê uma vide que, quando carregada de cachos pendentes nos braços e ramas fazem uma bela visão e agradável sombra para os caminhantes, que entre amplas coberturas de estrada se riem do Sol, passando como por arcos triunfais: de tal forma é que no ar se comunicam as baixas plantas, que de uma e outra parte acompanham o caminho!" Elegantemente louva também esta mesma província o doutíssimo Agostino Barbosa. (g) Com outras palavras semelhantes descreve o Padre Fr. Nicolau Oliveira (h) a amenidade das ribeiras do Tejo, e todo o termo de Lisboa, dizendo que é tanta que não há país montaria que mais fresco se nos apresente, porque aqui se vêem altas e formosa árvores silvestres, ali outros frutíferos: anos cheios de flores, outros carregados de suavíssimos frutos, os campos matizados com mil géneros de alegres e perfumadas rosas, que com seus vários aromas a si atraem a vista; o ar está povoado de muitas aves, que não se entende se são mais para lhes vemos as penas ou para ouvir seu suave canto.
2. Por fim, Portugal é um jardim curioso, composto de inventivos paneis váteos: de uma parte frutos, de outra flores, aqui se mostram frescos bosques, ali dilatados campos, e parece que a natureza deitou seu poder, quando olhando o outro lado a vemos de arte vencida; frustram-se estes louvores gerais, pois falar em particular em tanta coisa não é possível. Da amenidade dos seus montes, e serras veja-se Duarte Nines (i) na descripção de Portugal, mas fôra melhor vê-los a eles, para um homem ver melhor o que o mundo tem.
[(a) - Ovid. Metamor. lib. 1;
(b) - Virg. lib. 2 Georg. Refert Vianna in Coment. Ovid. metam. lib 1 num 46;
(c) - Polybio lib. 38 histor. Athen lib. 4 dipnosophist;
(d) - Manuel de Faria nas divinas, e humanas fontes na descripção da quinta de S. Cruz;
(e) - Refere Duarte Nunes na descripção de Portugal cap. 34;
(f) - Far. epit. de hist. Port. p. 4 c. 5 n. 4
(g) - Aug. Barbos. in pastor p. 1 tit. 3 c. 8. n. 4;
(h) - Fr. Nicolau grandesas de Lisboa trat. 2 c. 5;
(i) - Duarte Nunes descripção de Portugal c. 9 10 e 11]
(continuação, XIII parte)
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