EXCELÊNCIA II
1. Portugal é irrigado pelos melhores rios em Hispanha [Península Ibérica], e muitos dos mais afamados do mundo, como o fez notar Estrabão (a). Os principais são o Tejo, ao qual Mariana (b) chama o mais célebrado de Espanha; António de Vasconcelos, (c) tão celebrado como os mais celebrados do mundo; Hieronymo Pablo, (d) Rio celebrado nos versos gregos e lusitanos; e com razão, porque dele disse
Juvenal (e): "Quod Tagus, et rutila Pactolus volvit arena";
Martial (f): "Non illi satis est turbato sordibus auro Hermus, et Hesperio, qui sonat orbe Tagus";[diz o mesmo] noutro lugar (g): "Auriserumque Tagum sitiam";
Pantano (h): "In mare qua Ganges, et qua Tagus aureus intrat";
[diz o mesmo] outra vez: "Dum Tagus aurifero vectatur gurgite";
Mantuano (i): "In mare proripitur Tagus auricoloribus undis";Sílio Italico (l): " Hic certant Pactole tibi Duriusque, Tagusque";
Claudino (m): "Non Thartesiacis, illum satiaret arenis Tempestas pretiosa Tagi".
E é hoje mais célebre que no tempo desses poetas, pelo grande comércio que tem com as mais remotas províncias do mundo, e seus rios, que todos lhe pagam tributo como vassalos.
2. Em segundo lugar vem o Douro, insigne por sua grande capacidade, e porto que deu seu nome à famosa cidade do Porto, que não sei se ele a enobrece, ou ela a ele.
3. O rio Minho, bem conhecido pela divisão que faz entre Portugal e Galiza e por suas águas caudalosas.
4. O Guadiana, célebre pelos campos férteis que rega, e porque (como outro Aleu) depois de haver corrido algumas léguas, mete-se por baixo da terra, e volta a sair, dexando assim uma ponte de 7 léguas, sobre a qual se apascenta muito gado.
5. O Lethes [Lima], que muitos chamaram rio do olvido, por fabulosas histórias, se bem originadas de verdades que dele se contentavam, e o qual hoje os moradores das suas ribeiras chamam Lima.
6. O Mondego, que passa pela nobre cidade de Coimbra, e que por banhá-la deixaram as musas todos os restantes rios, visto ela é honrada pela sua insigne universidade.
7. O Tâmega, ilustrado pelo precioso corpo de S. Gonçalo que está na Vila de Amarante.
8. O rio Ave, do qual mil vezes falam as histórias por ocasião da cidade de Cinania, ou Citania, que em tempos antigos lavou sua corrente, mas mais nomeado hoje pelo corpo de S. Torcato, ou Torcade, que está na igreja pouco distante dele.
9. O Leça está celebrado nos versos de alguns poetas portugueses, e por regar a maior encomenda portuguesa da ordem de S. João.
10. O Sado, não é tão famoso pelo caudal, mas mais porque a opinião diz que por ele entrou Tubal na Hispanha [Península Ibérica].
11. O Zêzere, que (como se disse de Orco com o Peneo) entra no Tejo com tanta fúria que não se mistura com ele por larga distância.
12. O Vouga, é chamado Vacua, ou Vacum pelos antigos geógrafos.
13. O Távora, é famoso pelo nome que deu à ilustre família deste apelido.
14. O Nabão, que corre pela vila de Tomar: insigne cabeça da nossa Ordem de Cristo.
15. O Neiva, o Alva, o Coa, o Soure, o Sor, o Caia, o Seira, o Seda, o Paiva, o Tera, o Montargil, o Caná, o Coruche, o Sosa, o Taveira, o Homem, o Cávado, o Rio de Pé, o de Fafe, o de Visela, o de Landim, o Ferreira, o de Guinfães, o Tuelo, o Tuage, o Pinhão, o Sabor, o Carcedo, o Lomba, o Arda, o Tourões, o Ponsul, o Aravil, o Elia, o Enxarama, o Zadão, o Divor, o Teva.
É assim, são tantos que não podem contar-se, pois numa só província, a de Entre Douro e Minho, que não tem mais de 18 por 12 léguas e em algumas partes não mais de oito, há 200 pontes de rios caudalosos de muita labor e arquitectura. (n) E assim é mais fácil dizer com Estrabão (o) que a terra Lusitana é feliz por ser regada de tantas fontes e rios.
[(a) - Estrabão assim refere Resende de Antiqui. Lusit. lib. 2 tit. de flumin.;
(b) - Marina lib. 1 c. 3 e 4;
(c) - Vasconcelos in discript. Lusitan.;
(d) - Heron. Paul, de flumin. Hispan.;
(e) - Juvenalis;
(f) - Martialis lib. 8;
(g) - Martial. lib. 10;
(h) - Pontanus;
(i) - Mantuan. lib. 4 Agelarior.
(l) - Syl. lib. 1;
(m) - Claud. in Ruf. lib. 1;
(n) - Abraham Ortel. in teat. orbis tab. Portugalliae. Faria e pit. 4 p. c. 5 num 4. Gil Gonçales de Avila no trat. das grandesas de Madrid lib. 4 tit. do conselho de Portugal. Estaço nas antiguidades cap. 56;
(o) - Estrabão referido por Duarte Nunes na descripção de Port. cap. 21]
(continuação, XIV parte)
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