D. Afonso Henriques |
Na base dessa falsa crença generalizada que portam, os militantes da "hispanidad" têm 3 "exemplos" de nós, por eles deturpados (igualmente divulgados em Portugal pelo liberalismo, maçonaria, e república):
- D. Afonso Henriques teria roubado o território ao seu avô, Rei de Leão, território ao qual gostam de indicar como "Condado Portucalense";
- D. João I teria sido ilegítimo Rei de Portugal. D. João I de Castela teria sido o legítimo Rei de Portugal - portanto o nosso teria usurpado o Trono de Portugal ao Rei de Castela;
- D. João IV teria tomado o Trono de Portugal ilegitimamente. Os Filipes teriam sido legítimos reis de Portugal. Nova usurpação ao Rei Filipe, e roubo feito pelos portugueses de Portugal a Castela, acham!
- D. Afonso Henriques teria roubado o território ao seu avô, Rei de Leão, território ao qual gostam de indicar como "Condado Portucalense";
- D. João I teria sido ilegítimo Rei de Portugal. D. João I de Castela teria sido o legítimo Rei de Portugal - portanto o nosso teria usurpado o Trono de Portugal ao Rei de Castela;
- D. João IV teria tomado o Trono de Portugal ilegitimamente. Os Filipes teriam sido legítimos reis de Portugal. Nova usurpação ao Rei Filipe, e roubo feito pelos portugueses de Portugal a Castela, acham!
Antes de continuar, gostaria de lembrar pelo menos aos carlistas que foram eles colaboradores, amigos, apoiantes, de que D. Miguel I de Portugal como legítimo Rei de Portugal, e que os princípios nos quais assenta tal legitimidade são na verdade os mesmos onde está suportada a legitimidade dos três reis acima mencionados.
Repito que a interpretação histórica dos "militantes da hispanidad", interpretação deles que nos coloca muitíssimo mal, à partida não é necessariamente fruto da maldade, mas é sim da herança. O próprio conceito de "hispanidad" está comprometido com a construção que, aparentemente foi iniciada no séc. XIX, antes da criação deste significante, mas que, na realidade, vem sendo construído desde o séc. XVI. Reapareceu e revigorou mais tarde, em tempos da guerra civil em Espanha. No fundo é sempre uma afirmação perante a ameaça que se faça sentir.
Não quero deixar de alertar para o facto de que António Sardinha, inicialmente não-católico, não tendo à partida nada a ver com os Tradicionalistas do séc. XIX em Portugal, veio a converter-se ao catolicismo, tentando depois encontrar o Portugal autêntico. Ao cruzar-se com a "hispanidad" dela recebeu algumas luzes, mas também uma versão que não era tão nossa (isto implica vários problemas). António Sardinha chega a negar alguns pontos do movimento tradicionalista português (não confundir com o grupo fechado e restrito depois formado com esse nome), como é exemplo a forma como trata o tema "absolutismo" (nisto limitou-se a copiar a opinião de Espanha, e contrariar o legado Português, tal como outros o tinham feito e continuaram afazer - o conceito espanhol é, pasme-se, a trasladação íntegra dos inventores do conceito: sociedades iluministas e lojas maçónicas em contacto com Benjamin Franklin). É oportuno dizer isto, visto que António Sardinha pode ser infelizmente usado como que para fazer um ponto de unidade entre o Tradicionalismo Português e a militância da "hispanidad" (tentativa assente em fantasias). Sem dúvida, muito de António Sardinha está bem, mas nem tudo.
A visão que muitos militantes da "hispanidad" têm sobre a fundação de Portugal é a mesma que em Portugal os liberais do séc. XIX afirmaram, e que os republicanos e maçons continuaram e propagaram - especialmente por conveniência. Ambos descrevem a fundação de Portugal como um acto de rebelião. Grande parte dos da "hispanidad" hoje, como eu ouvi indirectamente a um Senhor Padre, dizem que foi um roubo de D. Afonso Henriques ao Rei de Leão, seu avô, e a sua mãe D. Teresa. A liberalice, maçonaria, e repúblicanismo, como lhes convêm legitimar a rebeldia e a revolução popular, aproveitam estas raras infelicidades dos da "hispanidad" para se escudarem e para parecer que a rebelião está também legitimada pelos nossos antepassados (seria rebelde a fundação, seria rebelde a subida de D. João I, seria rebelde a subida de D. João IV, e por fim seria até legítima a usurpação de D. Pedro IV, e depois a imposição republicana, e por aí fora).
É demorado tratar agora da questão da legítima fundação de Portugal. Darei apenas algumas notas necessárias.
A legitimidade do intento de D. Afonso Henriques assenta na questão da Reconquista e do seu significado. Uma reconquista requer a devolução dos territórios aos seu, e não o reagrupamento territorial assim, sem mais, por este ou aquele Senhor. Não que a população seja eleitora de reis, contudo um novo rei neste caso deve perguntar à população se o reconhece como Rei (o reconhecimento não pode ser confundido com a legitimação, mas é a confirmação operacional de um direito que se adquiriu previamente - o sentido das aclamações régias em Portugal não são o da eleição popular, mas sim reconhecimento daquele a quem cabe o Trono por direito). Outra é a questão da divisão territorial da Igreja, outra é a questão da etnia e territórios defendidos mais a sul. Por fim, D. Afonso VII de Leão reconhece ao neto D. Afonso Henriques, reconhece não verdadeiramente seus os territórios que tentara manter baixo a forma de Condado (contudo faz-se Imperador deste ... Reino!?) Portanto, vai dar ao mesmo! O Papa Alexandre II reconheceu Portugal como Reino, e como Vassalo da Santa Sé (o suficiente contra qualquer pretensão de Afonso VII). Dizer que D. Afonso Henriques foi rebelde, é dizer que o Papa Alexandre II o foi, e que a Igreja o tem continuado a ser. Para mais, D. Afonso Henriques tornou-se depois Venerável da Santa Igreja (o processo de beatificação não levou a melhor por oposição de Castela) e a seu lado teve aquele que foi o primeiro santo do Reino de Portugal: S. Teotónio. (Curiosamente, também um santo homem esteve ao lado do Rei D. João I para defender a nossa independência frente a Castela, sendo este mesmo santo homem o próprio Chefe das milícias de Portugal, o Santo Condestável D. Nuno Alvares Pereira. Onde os rebeldes procuram encontrar famosos rebeldes para a própria rebeldia, a realidade mostra Santos para que vejam ali a Justiça e a mais serena ordem.
D. João I de Leão e Castela, por casamento com a Princesa de Portugal D. Beatriz, julgou-se com direito ao Trono de Portugal depois da morte de D. Fernando. D. Beatriz ao casar com D. João I de Leão e Castela, torna-se assim rainha estrangeira. Segundo as Cortes de Lamego (da fundação de Portugal - bem sei que muitos não aceitam como verdadeiras umas Côrtes que dizem aquilo que depois foi sempre a nossa tradição), a Coroa não pode ir parar a Rei estrangeiro (nada mais lógico mas não usado em tantas outras monarquias onde a usurpação do Trono sempre existiu desde sempre), e este princípio esteve sempre presente ao longo da nossa história, na nossa tradição, repito. Outro perigo que incomodou a todos foi o apoio de D. João I de Leão e Castela ao antipapa Clemente VII, e que consideraram um cisma prático, argumento que por si dispensaria qualquer outro de maior complexidade. A legitimidade do Rei de Portugal, portanto, depende da ortodoxia católica e da sua vinculação ao Trono de Pedro Apóstolo. Ao contrário do que dizem hoje muitos dos militantes da "hispanidad", não houve qualquer ilegitimidade em recusar D. Beatriz e D. João I de Leão e Castela. Depois desta justa rejeição sobraram pouquíssimos possibilidades, de tal maneira que, imagine-se: a legitimidade passa para um ilegítimo filho de D. Pedro I de Portugal, D. João I Mestre da Ordem de Avis. Caso interessante que nos dá algum apoio no conhecimento a propósito dos filhos ilegítimos. Se D. Afonso Henriques teve a S. Teotónio ao lado, D. João I teve a D. Nuno Alvares Pereira, como disse antes. Mas, segundo os militantes da "hispanidad", o nosso D. João I foi ilegítimo Rei, homem defendido por beatificado cavaleiro, e que defendeu o verdadeiro Papa, mas teria sido legítimo o estrangeiro D. João I de Leão e Castela, que nem teve católico discernimento para defender verdadeiro Papa!
D. João IV de Portugal é igualmente pintado como ladrão, um rebelde que teria roubado aos Filipes o Trono de Portugal. Ora, os Filipes eram reis estrangeiros, e foram tolerados porque, principalmente, tínhamos perdido grande parte da Nobreza militar em Alcácer Quibir. Houve trato: manteríamos a independência como Reino e manteríamos as nossas Côrtes. É verdade que desta vez não tivemos santo a apoiar a verdadeira legitimidade, mas já estavam mais que apoiados e transmitidos os princípios sobre os quais podemos dizer sem dúvida que é legítima a expulsão do rei estrangeiro, e legítima a aclamação de D. João IV.
Volto aos Carlistas para lembrar que o mesmo D. Miguel I de Portugal que os apoiou, e com o qual eles concordavam e apoiavam também, era legítimo Rei de Portugal contra a tentativa de usurpação de seu irmão D. Pedro, e que os princípios nos quais a legitimidade deste rei assenta são os mesmos que eles NEGAM em todos os casos anteriores aqui tratados!
Não .... não somos ladrões, não somos rebeldes, não somos desobedientes, como dizem aqueles que sempre tentam contra o nosso! A caridade que os da "hispanidad" nos querem fazer, é de, à nós "ladrões", "desobedientes", rebeldes" converter a... eles!
A visão que muitos militantes da "hispanidad" têm sobre a fundação de Portugal é a mesma que em Portugal os liberais do séc. XIX afirmaram, e que os republicanos e maçons continuaram e propagaram - especialmente por conveniência. Ambos descrevem a fundação de Portugal como um acto de rebelião. Grande parte dos da "hispanidad" hoje, como eu ouvi indirectamente a um Senhor Padre, dizem que foi um roubo de D. Afonso Henriques ao Rei de Leão, seu avô, e a sua mãe D. Teresa. A liberalice, maçonaria, e repúblicanismo, como lhes convêm legitimar a rebeldia e a revolução popular, aproveitam estas raras infelicidades dos da "hispanidad" para se escudarem e para parecer que a rebelião está também legitimada pelos nossos antepassados (seria rebelde a fundação, seria rebelde a subida de D. João I, seria rebelde a subida de D. João IV, e por fim seria até legítima a usurpação de D. Pedro IV, e depois a imposição republicana, e por aí fora).
É demorado tratar agora da questão da legítima fundação de Portugal. Darei apenas algumas notas necessárias.
A legitimidade do intento de D. Afonso Henriques assenta na questão da Reconquista e do seu significado. Uma reconquista requer a devolução dos territórios aos seu, e não o reagrupamento territorial assim, sem mais, por este ou aquele Senhor. Não que a população seja eleitora de reis, contudo um novo rei neste caso deve perguntar à população se o reconhece como Rei (o reconhecimento não pode ser confundido com a legitimação, mas é a confirmação operacional de um direito que se adquiriu previamente - o sentido das aclamações régias em Portugal não são o da eleição popular, mas sim reconhecimento daquele a quem cabe o Trono por direito). Outra é a questão da divisão territorial da Igreja, outra é a questão da etnia e territórios defendidos mais a sul. Por fim, D. Afonso VII de Leão reconhece ao neto D. Afonso Henriques, reconhece não verdadeiramente seus os territórios que tentara manter baixo a forma de Condado (contudo faz-se Imperador deste ... Reino!?) Portanto, vai dar ao mesmo! O Papa Alexandre II reconheceu Portugal como Reino, e como Vassalo da Santa Sé (o suficiente contra qualquer pretensão de Afonso VII). Dizer que D. Afonso Henriques foi rebelde, é dizer que o Papa Alexandre II o foi, e que a Igreja o tem continuado a ser. Para mais, D. Afonso Henriques tornou-se depois Venerável da Santa Igreja (o processo de beatificação não levou a melhor por oposição de Castela) e a seu lado teve aquele que foi o primeiro santo do Reino de Portugal: S. Teotónio. (Curiosamente, também um santo homem esteve ao lado do Rei D. João I para defender a nossa independência frente a Castela, sendo este mesmo santo homem o próprio Chefe das milícias de Portugal, o Santo Condestável D. Nuno Alvares Pereira. Onde os rebeldes procuram encontrar famosos rebeldes para a própria rebeldia, a realidade mostra Santos para que vejam ali a Justiça e a mais serena ordem.
D. João I de Leão e Castela, por casamento com a Princesa de Portugal D. Beatriz, julgou-se com direito ao Trono de Portugal depois da morte de D. Fernando. D. Beatriz ao casar com D. João I de Leão e Castela, torna-se assim rainha estrangeira. Segundo as Cortes de Lamego (da fundação de Portugal - bem sei que muitos não aceitam como verdadeiras umas Côrtes que dizem aquilo que depois foi sempre a nossa tradição), a Coroa não pode ir parar a Rei estrangeiro (nada mais lógico mas não usado em tantas outras monarquias onde a usurpação do Trono sempre existiu desde sempre), e este princípio esteve sempre presente ao longo da nossa história, na nossa tradição, repito. Outro perigo que incomodou a todos foi o apoio de D. João I de Leão e Castela ao antipapa Clemente VII, e que consideraram um cisma prático, argumento que por si dispensaria qualquer outro de maior complexidade. A legitimidade do Rei de Portugal, portanto, depende da ortodoxia católica e da sua vinculação ao Trono de Pedro Apóstolo. Ao contrário do que dizem hoje muitos dos militantes da "hispanidad", não houve qualquer ilegitimidade em recusar D. Beatriz e D. João I de Leão e Castela. Depois desta justa rejeição sobraram pouquíssimos possibilidades, de tal maneira que, imagine-se: a legitimidade passa para um ilegítimo filho de D. Pedro I de Portugal, D. João I Mestre da Ordem de Avis. Caso interessante que nos dá algum apoio no conhecimento a propósito dos filhos ilegítimos. Se D. Afonso Henriques teve a S. Teotónio ao lado, D. João I teve a D. Nuno Alvares Pereira, como disse antes. Mas, segundo os militantes da "hispanidad", o nosso D. João I foi ilegítimo Rei, homem defendido por beatificado cavaleiro, e que defendeu o verdadeiro Papa, mas teria sido legítimo o estrangeiro D. João I de Leão e Castela, que nem teve católico discernimento para defender verdadeiro Papa!
D. João IV de Portugal é igualmente pintado como ladrão, um rebelde que teria roubado aos Filipes o Trono de Portugal. Ora, os Filipes eram reis estrangeiros, e foram tolerados porque, principalmente, tínhamos perdido grande parte da Nobreza militar em Alcácer Quibir. Houve trato: manteríamos a independência como Reino e manteríamos as nossas Côrtes. É verdade que desta vez não tivemos santo a apoiar a verdadeira legitimidade, mas já estavam mais que apoiados e transmitidos os princípios sobre os quais podemos dizer sem dúvida que é legítima a expulsão do rei estrangeiro, e legítima a aclamação de D. João IV.
Volto aos Carlistas para lembrar que o mesmo D. Miguel I de Portugal que os apoiou, e com o qual eles concordavam e apoiavam também, era legítimo Rei de Portugal contra a tentativa de usurpação de seu irmão D. Pedro, e que os princípios nos quais a legitimidade deste rei assenta são os mesmos que eles NEGAM em todos os casos anteriores aqui tratados!
Não .... não somos ladrões, não somos rebeldes, não somos desobedientes, como dizem aqueles que sempre tentam contra o nosso! A caridade que os da "hispanidad" nos querem fazer, é de, à nós "ladrões", "desobedientes", rebeldes" converter a... eles!
2 comentários:
Bom texto!
E o que dirão os adeptos da hispanidade do facto de Castela ter nascido como condado dependente do Reino de Leão? Será que a sua transformação em reino independente também foi uma rebeldia e um roubo? Gostava de os ver tratar este assunto.
Cumprimentos.
Reaccionario,
Obrigado por comentar.
Infelizmente não sei muito da história deles, o que deles sei melhor é lá pelas voltas de Isabel a Católica etc. Quanto ao nascimento do Reino de Castela, seja como for, não pode servir-nos. Ou seja, na minha opinião bastará que façamos justiça ao nosso, que o deles deles é!
Não sei se sou a pessoa indicada para tratar esse assunto que pede! Contudo conheço um parecido, por um lado, que é o facto de Isabel a Católica ser ilegítima Rainha de Castela até que o nosso D. João II lhe DEU a legitimidade colocando no Convento D. Joana (legítima Rainha), e passando assim a sucessão para a próxima, que era Isabel.
Agora temos alguns psuedo-tradicionalistas portugueses que dizem que D. Afonso Henriques foi ladrão (acho que estão comprometidos politicamente com integralismos e hispanidades). Bastará demonstrar que o território do pretendido "condado portucalense" não coincidia realmente com o território do Reino de Leão, e que os senhores das terras e moradores já ali estavam antes de Leão os querer abarcar. Se isto foi bem explicadinho, a coisa anda.
Volte sempre.
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