21/08/14

SACRILÉGIO DE COIMBRA (ano de 1362), etc. etc....

Tristíssimo caso que venho contar em duas versões complementares (além da confusão que há a respeito de um nome):

"Incluímos aqui o desacato e o milagre ocorrido em Coimbra, parece que em 1362, e a ele se referem dois documentos pontifícios: uma bula de Bonifácio IX, dada em Roma a 22 de Abril de 1391, e outra bula "Sincere devotionis affectu" do mesmo Pontífice (datada de 18 de Novembro de 1396).

As três sagradas Formas sacramentais, roubadas por um rapaz chamado José, criado do tesoureiro da Sé de Coimbra, por instigação de um judeu a quem as vendeu, foram por este enterradas num lugar imundo ou estrumeira, onde se conservaram largo tempo sem se corromperem "... miraculo divino illese et integre permanserunt", no dizer da bula, até que o Prelado, sabedor do sacrilégio, mandou que as sagradas Partículas fossem levadas em procissão triunfal para a sua catedral, onde as conservou com todas as honras.

A historicidade do facto está bem firmada pelos documentos pontifícios em que se declara a intenção de D. João I e do Prelado conimbricenses D. Martinho da Charneca, que corroboraram o poedido de Ana Gonçalves e seu marido Martinho da Maia, todos pessoas de categoria, naquela cidade, para obter a confirmação papal de direito de padroado sobre a capela, que eles tinham edificado.

Essa capela e hospital anexo para os pobres, constitua pelos impetrantes no local em que foram depositadas as Hóstias consagradas, recebeu o nome de Corpo de Deus.

Dar-se-ão mais alguns informes sobre este caso, quando tratarmos dos atentados contra o S.S. Sacramento. Pinho Leal refere-se a este facto." ("Formas do Culto Eucarístico - Milagres e Outros Prodígios Relacionados com o S.S. Sacramento da Eucaristia", Manuel Vaz Genro. Lisboa, 1959; pag. 81)

"Segundo o Padre Luís Montez Matoso, prégador e Notário Apostólico, no folheto, que se imprimiu em 1745, de vários desacatos que tiveram lugar no Reino até ao seu tempo, a igreja do Corpo de Deus, de Coimbra, teve a seguinte origem:
Em 1362 vivia em Coimbra um mancebo católico chamado João, o qual, induzido por um judeu chamado Josepho, roubou da Catedral um vaso de prata com  5 fórmas consagradas, que vendeu ao judeu, e este, levando-as à sua sinagoga, depois de lhe dizer muitas blasfémias, as lançou em azeite a ferver e depois as fez em pedaços e enterrou num local imundo da mesma sinagoga.
Divulgado este horroroso sacrilégio, foi o Bispo com o Clero e Povo, derramando copioso pranto, buscar o Senhor ofendido, ao sítio, e depositou na catedral, sendo preso o sacrílego e punido com a pena de morte (o Padre Montez não diz se foi o rapaz, que roubou as partículas, se o judeu).
Em memória deste caso se converteu a sinagoga em igreja dedicada ao Corpo de Deus." (Portugal Antigo e Moderno... - II Volume. Augusto de Pinho Leal. Lisboa, 1874; pag. 355.)

Certamente que o condenado à morte foi o cristão, e que a Sinagoga foi proibida, extinta e feita templo de Deus.

Mas que é feito hoje deste templo, antes ao serviço do demónio e depois feito casa de Deus? Sobre ele destaco duas notícias:


1 - O Desinteresse Por Deus e Pelo Nosso

Este templo é ainda estudado mas como sinagoga. Ou seja, o interesse que lhe têm querido dar como templo é meramente o que nele já praticamente não há. Do templo, da casa de Deus, do alto feito de reparação sentida pelos nossos antepassados, e que foi atenção do Papa, nem hoje parece interessar mais que umas pedrinhas que possam fazer ali entender a antiga sinagoga. Dramático, terrível! ...

O templo, o lugar, foi alvo do interesse dos arqueólogos, o que se nota pelo trabalho editado "A Sinagoga Medieval de Coimbra, à Luz dos Novos Achados na Rua Corpo de Deus" (Sara Oliveira Almeida, e Susana Temudo).

O terrível sacrilégio, ou melhor, sacrilégios históricos, exigiram a condenação à morte de um jovem católico e a extinção da sinagoga e elevação do edifício a templo católico. Não bastou, pois o templo foi dedicado ao "Corpo de Deus" (ultrajado por aqueles dois jovens) em reparação e em compensação do culto de Nosso Senhor Sacramentado. E bastou!? Não bastou; também a rua tomou o nome "rua do Corpo de Deus". Que grande importância não está aqui dita por todos estes aspectos, proclamada pelos nossos antepassados! E hoje, o único que vemos elevar em tudo isto é uns vestígios da sinagoga! Valha-vos Deus ...

Aproveitemos agora alguns dado deste levantamento arqueológico.

Para situar as pedrinhas da "sinagoga", situou-se a antiga judiaria da época fora das muralhas da cidade de Coimbra.

Na notícia preliminar arqueológica lê-se o resumo do feito que importa:

"Ainda no que  concerne às fontes, e não obstante o que passou exsudar de efabulação, refira-se que a hodierna toponímia reporta-se a um desagravo envolvendo o furto de partículas sagradas. Consta que nos anos de 1361-62 um judeu residente no bairro da judiaria promoveu o roubo de hóstias consagradas do sacrário da Catedral, acabando por enterrá-las nas proximidades da sua habitação-sinagoga, de acordo com algumas contes (TAVARES, 1980: 66). Estas foram resgatadas por D. Vasco Fernandes, Arcebispo de Toledo, acolhido no Convento de S. Domingos, que, por sua vez, promoveu a fundação de uma ermida no local, sob a invocação do Corpo de Deu, sendo certo que em 1367 aquela se encontrava já concluída (Carvalho, 1918).
Este episódio, interessante a vários títulos e fundamental para o assunto aqui tratado, preludia a transferência da comunidade hebraica daquele local. De facto, transcorridos poucos anos, o bairro será desvastado pelos exércitos castelhanos, em 1372, cabendo o golpe de misericórdia a D. Fernando, quando em 1370 ordena a refortificação da muralha e a construção da barbacã (ALARCÃO, 2008:152), com a transferência dos seguidores da lei mosaica para a Judiaria Nova, localizada no arrabalde da cidade.
[...]Sendo necessário esperar pelo início do séc. XIX para, na planta topográfica de Coimbra de Isidoro Emílio Baptista, de 1835, vermos retratado o desenho que a rua e o largo da capela ostentam actualmente."

2 - Do Importantíssimo Templo a Restaurante e Casa de Fados.

O sino não toca para o Culto Divino, as notas que soam são outras bem profanas (só humanas). Eis que o templo edificado com choro para a adoração de Deus, e para reparar tamanha ofensa, no mundo dos "homens civilizados" tornou a dar-se ao primitivo espírito ímpio (pelo menos). O templo chama-se agora "à Capela" e é um espaço de um restaurante e casa de fados. É certo que, no nosso tempo de gente "civilizada", é mais fácil encher um templo com fados do que com verdadeiro cultos!

"À Capela" é o letreiro que existe agora na fachada daquele templo!

Diz assim um anúncio: "Esta casa de fados localiza-se na Capela de Nossa Senhora da Vitória, um templo que, depois de sofrer obras de restauração, abriu ao público em 2003, já com novas funções." Um templo!? A casa de fados situa-se NA capela!? Com novas funções, sim senhor! Diz ainda "Um belo local onde o Fado de Coimbra impera e arrepia os ouvintes, nacionais e estrangeiros, já que esta é uma casa de passagem obrigatória quando se vem à cidade dos estudantes". Um local onde o fado impera, e onde deve imperar o Santíssimo Sacramento. S. Fado exige uma passagem obrigatória.... deixem esmola, que a casa é negócio que "localiza-se NA Capela". Que elevação, que coerência, que grandiosidade: passarão séculos e ainda falarão na casa de fados, e dirão como é que os burros dos antigos não fizeram o mesmo em vez de andarem a adorar Deus Omnipotente! E onde está a Sagrada Hierarquia!? Acomoda-se, ou ate concorda!?

A casa de fados é um restaurante! Os fados são à noite. Mas que fosse hoje a "última ceia", e saísse dali a vendilhice, e que as paredes fossem restituídas ao RESTAURO do templo. Mas... não estamos em tempos de merecer tanto! Somos "civilizados"!

Este templo tinha sido depois dedicado a Nossa Senhora da Victoria, que triunfa sobre os inimigos da Fé! E assim foi feita esta dedicação pelos nossos antigos mais recentes porque era o culminar de todo o sentido deste templo, pela sua história e finalidade!

Assim vai o mundo!...

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