Fr. João de Nossa Senhora, o "Poeta de Xabregas" |
Em segundo lugar quero prestar uma homenagem ao Fr. João de Nossa Senhora. Porque se este frade poeta foi, com algumas justiça, desconsiderado entre os seus, o que diriam os seus HOJE, ao verem o estado nada poético no qual nada o nosso clero!? Que são havia de ser hoje o Padre ou Frade que imitasse Fr. João de Nossa Senhora, sem erro doutrinais, sem má filosofia!...
Fr. João de Nossa Senhora foi o grande difusor e impulsionador da devoção de Nossa Senhora Mãe dos Homens (devoção nascida no Convento de Santa Maria de Jesus, Xabregas, Lisboa), e foi ele quem definiu o seu modelo de imagem. Esta imagem e devoção espalhou-se por Portugal e Brasil.
O convento, depois da extinção das ordens religiosas de "decretada" por D. Pedro I do Brasil, passou a quartel militar, como está na pintura. |
"Uma curiosa figura dessa época é a do célebre e popular frade xabregano, Fr. João de Nossa Senhora, vulgo o poeta de Xabregas. Permita-se-nos a este respeito extractar o que dele nos diz Ribeiro Guimarães no Summario, recomendado porém ao leitor, que mais a fundo quiser conhecer a interessante biografia do célebre Frade poeta, que leia a sua Vida escrita por Fr. Jerónimo de Belém e publicada em Lisboa, em 1743:
Nossa Senhora Mãe dos Homens. Imagem encomendada e usada por Fr. João de Nossa Senhora |
Quando havia grandes reuniões de povo, ou pelo entrudo, saía com a sua Senhora Pequenina a prégar, e, com uma pertinácia digna de melhor causa, vociferava contra os desvairos do tempo, inculcando sempre o culto À Senhora Mãe dos Homens. Onde via uma rixa, logo lá aparecia, procurando distrair os bulhentos com suas prédicas.
Teve dias de prégar doze sermões, nas igrejas e nas ruas, porque era muito procurado, por ter fama de excelente prégador; chamavam-lhe o prégador mariano, porque o culto da Virgem era o principal assunto de todos os seus discursos.
Fr. João era também um agitador. Tinha grandes pensamentos para comover o povo, e atraí-lo por artes engenhosas às suas prédicas. Mandou fazer uma imagem de Santa Bárbara, e no dia em que foi colocada no seu altar, pregou ele; mas antes fez anunciar o sermão por editais públicos, deste modo: "Trovão de Santa Bárbara sobre toda a cidade de Lisboa, na igreja de Xabregas. Causou isto grande agitação, mas doutra vez foi o caso mais sério".
Tinha de prégar o sermão anual da mesma Santa, e assim o fez anunciar por cartazes impressos: "Esmola que se dá no dia de Santa Bárbara no real convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas, da Ordem de S. Francisco" e depois concluía assim: "Venha cedo, que das 10h até ao meio-dia, pouco mais ou menos, se hão-de repartir as esmolas".
Isto causou uma revolução em Lisboa. Entendeu o Povo que era esmola pecuniária, e logo começaram os empenhos para a alcançar. O Povo andava alvoroçado, não se falava noutra coisas, e a notícia do caso chegou ao Paço, mas desfigurada. ElRei D. João V, ou os seus Ministros aterraram-se, e persuadiram-se de que o povo, vendo-se logrado, faria alguma desfeita aos frades, a qual quiseram prevenir, e para isso se pôs tropa em armas, e foi colocar-se nas imediações de Xabregas.
Era imenso o borborinho do Povo,e não pouca a vociferação contra o engano que se fizera à pobreza. Mas, enfim, o frade pregou do púlpito, deu satisfação sobre o engano, e os ouvintes aplaudiram-no, excepto uma mulher, a qual procurou o frade para lhe arrancar as barbas.
Se Fr. João para muitos era um entusiasta, um visionário, um [falso]beato [e] ridículo, para muitos era todavia um santo, e piamente acreditavam que o poeta de Xabregas tinha o poder de fazer milagres. Ele era o director espiritual de muitas pessoas de alta categoria, estava relacionando com as famílias mais ilustres, que já neste tempo iam esquecendo as tradições gloriosas dos seus maiores, e entrelaçou-se com ridículas beatices [lembro que é a liberal opinião do autor] e combates de toiros.
Depois da morte de Fr. João, espalhou-se o boato que tinha morrido em cheiro de santidade, e à igreja correu grande multidão, e tanta era a fé que havia em Fr. João, que lhe foram cortando pedaços da mortalha, os quais disputavam com gana, a ponto de o deixarem nu." -//-
Este homem embirrava com as touradas tanto quanto era possível. Numa ocasião já em 1755 houve umas tardes de touros no Rossio: e o frade, querendo desviar o Povo de concorrer a esse divertimento, foi prégar na igreja da Victoria. O Povo, porém, antes quis ir para os touros, do que ir escutar as prédicas de Fr. João, que despeitado, escreveu estas quadras:
No Rossio, se faz festa,
Na Victoria pregação;
Pouca gente assiste nesta,
Mas naquela multidão.
Três meses divertimento
Bem se poderá ecusar;
Tanto rir, tanto folgar,
Pode parar em tristeza.
Na doutrina de Maria,
Tenha Lisboa certeza;
Que toda a sua alegria
Há-de parar em tristeza.
Houve quem visse em tais versos a profecia do terremoto de 1755, e como aconteceu outras vezes que Fr. João se expressasse de modo que os sucessos pareciam tornar proféticos os seus versos e ditos, alguns lhe chamavam profeta, e ele dizia "não sou profeta, mas poeta".
Isto causou uma revolução em Lisboa. Entendeu o Povo que era esmola pecuniária, e logo começaram os empenhos para a alcançar. O Povo andava alvoroçado, não se falava noutra coisas, e a notícia do caso chegou ao Paço, mas desfigurada. ElRei D. João V, ou os seus Ministros aterraram-se, e persuadiram-se de que o povo, vendo-se logrado, faria alguma desfeita aos frades, a qual quiseram prevenir, e para isso se pôs tropa em armas, e foi colocar-se nas imediações de Xabregas.
Era imenso o borborinho do Povo,e não pouca a vociferação contra o engano que se fizera à pobreza. Mas, enfim, o frade pregou do púlpito, deu satisfação sobre o engano, e os ouvintes aplaudiram-no, excepto uma mulher, a qual procurou o frade para lhe arrancar as barbas.
Se Fr. João para muitos era um entusiasta, um visionário, um [falso]beato [e] ridículo, para muitos era todavia um santo, e piamente acreditavam que o poeta de Xabregas tinha o poder de fazer milagres. Ele era o director espiritual de muitas pessoas de alta categoria, estava relacionando com as famílias mais ilustres, que já neste tempo iam esquecendo as tradições gloriosas dos seus maiores, e entrelaçou-se com ridículas beatices [lembro que é a liberal opinião do autor] e combates de toiros.
Nossa Senhora Mãe dos Homens. Encomendada por Fr. João de Nossa Senhora |
Este homem embirrava com as touradas tanto quanto era possível. Numa ocasião já em 1755 houve umas tardes de touros no Rossio: e o frade, querendo desviar o Povo de concorrer a esse divertimento, foi prégar na igreja da Victoria. O Povo, porém, antes quis ir para os touros, do que ir escutar as prédicas de Fr. João, que despeitado, escreveu estas quadras:
No Rossio, se faz festa,
Na Victoria pregação;
Pouca gente assiste nesta,
Mas naquela multidão.
Três meses divertimento
Bem se poderá ecusar;
Tanto rir, tanto folgar,
Pode parar em tristeza.
Na doutrina de Maria,
Tenha Lisboa certeza;
Que toda a sua alegria
Há-de parar em tristeza.
Houve quem visse em tais versos a profecia do terremoto de 1755, e como aconteceu outras vezes que Fr. João se expressasse de modo que os sucessos pareciam tornar proféticos os seus versos e ditos, alguns lhe chamavam profeta, e ele dizia "não sou profeta, mas poeta".
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