14/12/13

DA UNIDADE DA VERDADEIRA RELIGIÃO (V)

(continuação da IV parte)

27. O duodécimo carácter da Divindade, e na inteireza, em que se conservou há mais de dezassete séculos, não obstante os diferentes acometimentos dos seus inimigos. E pode-se aplicar com verdade estas palavras do Profeta: Meus inimigos me combateram logo da minha mocidade...... Os maus me ferirão nos ombros. Eles prolongarão a sua iniquidade, mas o Senhor, que é justo ("Saepe expugnarunt me a juventute mea... Supra dorsum meum fabricaverunt peccatores: prolongaverunt iniquitatem suam. Dominus justus concidit cervices peccatorum.") despedaçou as cabeças dos pecadores, que assim me tratarão.

O Imperador Juliano, para convencer que era falsa a predicação de Jesus Cristo, e destruir o testemunho existente, que o estado dos judeus dava à Religião Cristã, empreendeu mandar reedificar o Templo de Jerusalém, arruinado por Tito muito mais de trezentos anos antes. Por esta causa convocou de todas as partes judeus a Jerusalém. Trabalham com zelo a arrancar os antigos fundamento, na esperança de abrir novos alicerces, tirando-los até à última pedra; cooperando por deste modo, sem olhar ao último cumprimento da profecia do Salvador. Querem continuar; mas ó prodígio da divina vingança! à Medida que se abrem os alicerces, os obreiros são devorados por turbilhões de chamas, que deles saem sem interrupção: a porfia do fogo torna o lugar inacessível, e obriga a que totalmente se largue a obra. Na antiguidade não há argumento de acontecimento mais certo. Contra a Divindade não se pode lutar sem castigo.

Templo de Jerusalém
 A Religião Cristã firme, e seguríssima nos seus fundamentos, sempre saiu victoriosa dos combates, que lhe urdiram. Nunca temeu o exame dos sofistas. Os Profírios, os Celsos, os Plotinos.... debalde esgotaram contra ela as suas subtilezas: Bayle, Voltaire, J. J. Russeau.... nada mais são do que uns ecos fastidiosos destes. Despesa a violência dos seus inimigos: os imperadores, por mais de três séculos embotaramnela as suas espadas sem lucro; o sangue dos seus filhos derramado por todas as partes cada vez ("Semen est sanguis Christianorum." Tertull. Apolog. sub. Trinn.) a fazia mais fecunda. E sempre superior aos fracos esforços do espírito libertino, olha piedosamente ainda hoje para esta multidão tenebrosa, e desprezível de literatores revoltados contra ela, como para um exército de toupeiras, que loucamente se conjuraram de arruinar o Templo de Jerusalém. Quem poderá temer uma Religião, que tem por apoio aquele mesmo, que fundamentou o Universo?

28. O cristianismo logo dos primeiros séculos teve filósofos por partidistas; é facto na história. Estes filósofos não seriam acreditados sem razões; e as razões devem ser sólidas, pois que os factos, sobre quase apoiavam eram todos novos,e que lhes eram fáceis ou de negar, ou de aprovar. Esta prova da Religião é admirável, e S. Agostinho a dizer: "como tem havido incrédulos, crendo os filósofos" ("Cur ergo, philosophis credentibus, infidelis non credit.")

29. As contradições, que experimentou a Religião cristã nos seus princípios, não devem formar prejuízos contra ela, nunca foi contadictada com razões, e com testemunhos, mas sim por perseguições, e castigos. Deixa-se de a perseguir, quando se começa a conhecer.

30. O Evangelho, dizem, não foi recebido ao princípio senão pelo povo: os sábios o mofaram. É um cacto gratuitamente atestado; mas conceda-se como verdadeiro, qual é a conclusão, que daqui se deve tirar? Senão que o povo contra o seu costume não seguiu os seus mestres, mas os mestres seguiram o povo: ora não é um prodígio na ordem moral, que os sábios, e filósofos tomem lições do povo, na escolha de uma Religião, a coisa a mais importante da vida ? É deste modo que aqueles mesmos, que são inimigos do cristianismo, o fortificam, valendo-se daqueles meios, que julgam capazes de o destruir.

31. Se um, ou dois pagãos se converteram numa pregação, dizem eles, mil ficaram na incredulidade. Não se poderia atribuir a conversão dos primeiros a uma credulidade precipitada, e a repugnância dos outros à falta de provas da parte dos pregadores? Não, um pagão convertido nestes princípios formava uma prova a favor da Religião: mil incrédulos pelo contrário não mostravam nenhuma dificuldade. A razão desta diferença, se mostra. Era preciso ter motivos poderosos para abraçar uma religião perseguida, para sacrificar a Jesus Cristo os seus bens; os seus empregos, a sua vida. Mas não os eram necessários para persistir numa religião, cujos princípios se [?]viam bebido com o leite, à qual se afeiçoam por hábito; por prejuízo, por interesse, e por humano respeito. É mais fácil desprezar os factos, que examiná-los, quando se temem as consequências,e os homens não querem ser convencidos.

32. Pretender com os espíritos fortes que a Religião católica não tira a sua força, e autoridade senão da longa sucessão dos séculos que teria sugerido prejuízos, como se fossem provas, isto é ignorar, ou fingir ignorar a caduquez das invenções humanas. Os sistemas da filosofia, ao menos pela maior parte,antecedem ao Evangelho, e remontam-se à mais alta antiguidade; educados por gentios agradáveis, sustentados pela autoridade de grandes nomes, acabaram com o tempo. A Religião cristã pelo contrário, ainda que violentamente perseguida por diferentes inimigos, tem zombado da malignidade dos séculos, que arruína todas as obras dos homens.

33. Quanto se devem consolar os cristãos, de não verem hoje a sua Religião atacada de libelos, em que se aniquila a virtude, se tolera o vício; os vínculos da sociedade quebrados, os fundamentos do trono arruinados, o homem posto no lugar das feras, a lei que havia antes de Liturgo, e Sólon, desprezada como um prejuízo de educação; o Ser Supremo enfim confundido dom a matéria! Quanto é verdadeira esta Religião, que não se pode combater, sem o ofender já não digo a Revelação, mas ainda o mesmo sentido comum das nações! Sim, os delírios do ímpio são causadores de eu a amar, e de me unir a ela mais, e mais; e me provam a verdade das palavras de um Padre antigo: Ninguém é sábio sem a Fé ("Nemo sapiens, nisi fidelis." Tert. lib. do Prascript. cap.3). Uma Religião, que para a perseguir só se pode fazer com as armas da mentira, não é suspeitosa.

(continuação, V parte)

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