“Exausta de mantimentos, via-se a
praça de Monção obrigada a render-se pela fome. Que ideou a ladina da portuguesa? De uns restos de farinha mandou preparar uns pães; depois subiu à
muralha, e uns apôs outros os atirou-os aos sitiantes, bradando que havia pão dentro
da praça para dar e vender.
As armas de Monção, revelando à
posterioridade o levantamento do cerco diante daquele feito, provam que
Deusadeu acertou no vinte para a libertação da usa terra.
Monção |
Foi isto em tempo del´Rei D.
Fernando. Passados séculos, em dias de D. João IV, tornou a valentia feminina a
achar-se ligada à história bélica de Monção. Pasmou um dia o exército sitiador
castelhano, ao ver sair da praça, e em som de guerra, o batalhão das trinta
guerreiras, levando à frente, de chuço na mão, como repto ao inimigo, a afamada
Helena Peres.
(…)
E já depois da batalha, estando
os nossos cercando ainda a praça de Melgaço, que presenceiam os dois exércitos?
Nada menos do que uma pequenina amostra do combate dos Horácios e Curiácios.
Grande ruído soa num dos pontos da muralha. Destaca-se, do lado inimigo, uma
intrépida castelhana; do outro, uma portuguesa valorosa. As muitas injúrias
sibilam de uma para a outra como rajadas de vento: e os punhos, de depois de se
levantarem como imprecações tremendas, arremeçam-se para diante,como seno aéreo
espaço cada uma supusesse já despedaçar a contrária. As línguas já não têm mais
injúrias para despedir, nem os braços mais ameaças, O repto para virem às mãos
rompe a final como supremo anseio. Correm então para o meio do campo. Não são
duas mulheres, são duas fúrias. Têm por espectadores,; e as duas feras,
primeiro com as armas, depois corpo a corpo, enovelam-se aos
murros, arrancam mutuamente os cabelos na sua raiva furiosa, até que a inimiga, heróica mas vencida, é forçada a ceder a palma à nossa Inês Negra, a popular
combatente de Melgaço.”
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