No séc. XIX, em Portugal, um dos mais significativos e expressivos difusores dos liberais foi o "Velho Liberal do Douro", do qual selecionámos passagens significativas para advertir os leitores, e as fazemos acompanhar de comentários nossos.
"Reformar edifícios e vestidos é coisa fácil, e por isso o Mundo está cheio de trolhas e remendões; porém reformar Leis e costumes, e levanta uma Nação decadente a um estado de esplendor e de glória é obra de um Génio raro, e grandemente ilustrado. [Os liberais tinham com referência os Reinos onde as "novas ideias" tinham conseguido algum sucesso e implementação; para estas mentalidades em descatolização tudo isso era a alternativa ao que na "velha" Civilização já não entendiam, ou lhes desagradava; evidentemente, por "reforma dos costumes" entenda-se "abandono dos bons costumes" e com "reforma das leis" entenda-se de forma equivalente; uma Pátria assente na Civilização Cristã e milenar sabedoria é para eles uma "Nação decadente" - quando a única decadência foi aquela trazida pelos iluministas, pela a maçonaria, a revolução, e o próprio liberalismo; qual esplendor? Não é ele mais o dos tempos de D. João V? Não. Não é mais o de D. Manuel I? Não. É algum que os Reinos da cristandade se tivessem gloriado no passado? Não, nem isso! É uma outra glória fantasiada, e alimentada por meia dúzia de "doces" que o crime, a loucura, a impiedade das novidades do momento inspiravam.] Os Reformadores sempre encontrarão obstáculos nas suas empresas, e contradições temíveis. [Reforma? A mentalidade revolucionária, a mentalidade liberal, e até a mentalidade modernista conseguem chamar reforma à mutação; quais "evolucionistas-sem-o-saberem", que fazem de mutação "evolução". Nós depois de dois séculos não nos adianta gritar-vos daqui: NÃO FOI REFORMA, foi REVOLUÇÃO, mutação, mutação, foi o sem razão, foi a perseguição e o encerramento de TODAS AS ORDENS RELIGIOSAS ... que direis vós a isto se a nossa voz de hoje vos tivesse chegado a esse tempo? Mas outras vozes vos chegaram, e no vosso tempo, e bem mais ilustradas, e não as ouvistes, e deste-lhes perseguição e calúnia difamante, e zombastes delas, reunistes e promovestes os seus inimigos, nunca tivestes a verticalidade e honestidade de colocar os factos na mesma mesa para não vos submeterdes à honestidade à verdade. Se houvesse verdadeira reformas a fazer, seria a vós.] S. Bento, querendo reformar os seus Monges, eles lhe propinaram um copo de veneno [espertos... o Diabo sabe até as Escrituras de frente para trás]; e talvez que daí proceda a aversão que os Monges e Monjas mostram à Reforma da nossa Carta [e que cristão em são juízo se acharia certo, se ATÉ os monges de toda a sua Pátria o advertem com rigor? exigiria que Deus lhe fizesse baixar um Anjo do Céu em especial e particular missão? Não... nem que viesse o próprio Deus falar a estes liberais eles se demoveriam de seu fanatismo e cegueira]. O Salvador do Mundo foi acusado e condenado à Cruz, porque ele quis reformar a Sinagoga e o Gentilismo [reformismo, restauracionismo, etc, dizem estes liberais... viu-se onde foi parar o "restauro", viu-se onde foi parar a "reforma"; como se fosse o tempo apropriado para reformar, e logo para reformar ao contrário]; e é por isso que todos os Judeus anti-Constitucionais têm feito tamanha guerra à nossa Constituição. [e restaurou Cristo a mesma Sinagoga?]
Um dos lugares comuns e estribilho geral que os espíritos curtos e fracos opõem à Reforma é o seguinte: "Reformar não é destruir - não se vai contudo ao cabo - temos de ir muito devagarinho". [há noção de que a população e as autoridades não devem ser provocadas, e que a "reforma" seja feito o mais discreto possível, gradualmente; sem medo podemos achar que é esta a versão conservadora dentro dos liberais] Sim, Senhores, isso é justamente o que querem os nossos contrários para nos apanharem sempre no meio da obra, e atirarem tudo por terra em um momento. [enfim, a estes "nossos contrários" chamemos Portugal tão somente]. Estes frios Conselheiros nunca poderiam ser Médicos nem Cirurgiões, e deixariam morrer os doentes antes da sangria, ou do cáustico. Saibam pois os tais prudentíssimo que nós sabemos o que é reformar: sabemos que reformar não é destruir. [vejamos como dá a volta ao leitor] Reformar em bom Português é tornar a fazer, ou fazer de novo [então, ficou a definição a meio? isso é apenas "refazer", e não reformar]; e para isto às vezes é preciso destruir [... ora cá está o ponto de chegada]. Os Pontífices Clemente XIII e XIV quiseram reformar os Jesuítas por muitas vezes, e com muito melindre, e vendo a sua contumácia, Ganganelli os destruiu finalmente, e foi envenenado por eles [já é a segunda vez em tão pouco tempo que falam em envenenar. Ó liberalhões da ceita pedreiral, quem envenenou D. João VI, quem disparou contra D. Carlos e D. Luís Filipe (e quem colocou um cúmplice no Panteão Nacional?)?]. Pedro Grande quis reformar os Austerlitz, e afinal os destruiu. O nosso Augusto Reformador não quer destruir [mas destruiu muito], quer edificar [não edificou], e quer pôr Portugal no seu antigo pé [totalmente ao contrário], conformando a sua Reforma com as Luzes do século XIX [ora aqui está... no séc. XX chamaram a este tipo de manha destruidora o doce nome de aggiornamento], e não com as trevas do século XI [no séc. XXI, porque as provas são contrárias, já se calaram os sérios historiadores de dizer que a Idade Média foi a Idade das Trevas, e, pelo contrário, descobriu-se que os inventores de tal lenda negra foram os inimigos do Catolicismo; eis o ilustradíssimo liberal sem acertar uma que seja, mas conseguindo enganar os leitores liberais na cidade do Porto], quando se erigiu a Monarquia. É triste cousa amarrar os vivos às costas dos mortos, e querer por força que façamos o que se fazia há oitocentos anos! [triste artifício hoje muito apresentado pelos mesmos liberais, republicanos, e outros que tal: em vez de pegarem no argumento do oponente, colocam-lhes boca um falso argumento (com algumas semelhanças), e vestem a pele de autoridade moral para disparar a correcção].
O nosso Augusto Legislador e Reformador quer plantar em um campo cheio de abrolhos [o velho artifício que já parvos engana: fazer que tudo pareça muito, mal muito mal, para forçar e justificar e animar a uma rebelião em força; mais uma vez há que lembrar que as dificuldades que tinha havido em Portugal deviam-se sim às tentativas de invasão maçónicas: seja do lado de franceses, seja do lado de ingleses, etc.]; quer fazer reverdecer a Seara Nacional [é grande a maldade para mentir assim; isto foi escrito em tempos do Rei D. Miguel, o qual estava a restituir as instituições e tudo de bom e grande que nos tinham levado]; e para isso é indispensável arrancar cardos e joio para florescer o trigo [ora cá está onde queria ele chegar, e que veio a ser realizado; como a diferença de que, distraidamente, talvez, confundiram "joio" por "trigo"]. Quem é cardo e ervilhaca tenha paciência: bem lhe basta a substância que já extraiu do terreno. Nas Ilhas dos Açores já se fez tudo isso; e os Ilhéus muito contentes abençoam a Memória do seu Reformador. Nós queremos abelhas no cortiço queremos mel, e muito poucos gangaãos. Bem sabemos a fábula dos Patrícios do Povo Romano. É preciso haver Fidalgos, Magistrados, Padres, e Empregados Públicos; mas não queremos traidores, nem homens que, sem fazer nada vivam à custa dos Forais e Dízimos, e de mil Direitos Banais, que se inventaram nos tenebrosos tempos do Feudalismo, e que tem entisicado a Nação por tantos séculos para engordar gente perigosa, ou pelo menos inútil.
(a continuar)
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