25/01/18

O PUNHAL DOS CORCUNDAS Nº10 (I)

O PUNHAL DOS CORCUNDAS


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Nº. 10

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Ostendam gentibus nuditatem tuam


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D. Pedro I do Brasil - o grande perseguidor das ordens religiosas em Portugal - estátua equestre
na Praça da Liberdade, no Porto. É o mais significativo monumento ao Liberalismo; na sua lateral tem
a lista de nomes dos desgraçados liberais ("mártires da pátria") condenados à força, que postumamente o liberalismo fez heróis.

A PERSEGUIÇÃO DAS ORDENS RELIGIOSAS

Como faltaria aos nossos Liberais este requisito, que é de essência para ser ou parecer homem grande no séc. XIX? Esse próprio ferrete de ignomínia, que um Bispo Constitucional e Regicida imprimiu nos que aborrecem gratuitamente e como por ofício as Ordens Religiosas, é para os nossos Liberais um título de honra, e mais um brasão que deve acrescentar-se aos muitos que eles tem ganhado à custa da antiga Crença, e da Piedade Cristã. "Um óleo figadal às Ordens Religiosas é o carácter dominante das Seitas modernas" explica-se desta maneira o citado Bispo (Mr. Gregoire); e se de uma tal asserção podemos tirar consequências da maior honra para o Estado Religioso, nada mais se exigia por outro lado, para que os Pedreiros Livres requintassem naquele ódio, e o manifestassem por todas as artes e meios, que a sedução, as intrigas, e as baionetas puseram ao seu alcance. Tal Pedreiro houve, que ostentou publicamente de seguir o novo sistema, porque este lhe deparava em seus dias o gostinho de assistir à extinção da Canalha fradesca, e que só esta doce esperança o faria desembainhar gostosamente a espada, a fim de cometer a mais abominável perfídia, voltando-a contra quem lha cingira, e o cumulara de honras e privilégios.

A república Maçónica em 1914 fez juntar esta placa ao monumento Liberal da estátua equestre de D. Pedro de Alcântara. Lateralmente contém a lista de nomes dos desgraçados liberais e maçons a quem a maçonaria insiste em chamar "mártires da pátria". Estes devotos de D. Pedro, o maior inimigos das Ordens Religiosas em Portugal, que a todas extinguiu.
Todas as miras Fernandinas se puseram logo nos cabedais e possessões dos Mosteiros, como seguríssimos fiadores do sistema, que ou conseguiram faze-lo andar para diante quando alguma vez emperrasse nos maus passos e caminhos por que deveria transitar, ou em último recurso tapariam o deficit enorme, que às mãos cheias de outro Português espalhado na França e na Inglaterra pelos irmãos Propagandistas, causariam antes de pouco tempo.

Tão aleivoso como ingratos, mostravam-se fagueiros e benévolos para com as próprias vítimas destinados ao sacrifício, e aí dos Mosteiros que ficavam expostos à passagem destas aves de rapina, quando vieram fazer o seu ninho na Capital do Reino, pois viram consumir-se em um dia o que talvez chegaria para o seu gasto ordinário de muitos meses!!! Apenas repimpados no Trono Bragantino, que pasmou de se ver assim usurpado e denegrido, com sairão logo de assoalhar, por via dos seus emissários incumbidos de apalparem os ânimos, e sondarem a opinião pública, as sátiras indecentes, os aleives mais descomedidos, e as calunias mais atrozes, contra os frades, que nem sequer pestanejavam ou se buliam contra um sistema, que vão proclamando por entre arcos triunfais, e uma adesão, que parecia livre e espontânea, de todo o Reino. Quase não assomou um só dia no nosso horizonte esse memorando Astro da Lusitânia, sem despejar alguma porção de suas manchas e fazes contra as Ordens Religiosas, e que em se lembrasse de vexar e denegrir algum Mosteiro, em qualquer dos seus habitadores, achava sempre uma porta aberta de par em par naquele execrado papel, em que a mordacidade supria as vezes de talento, e a desenvoltura das expressões era todo o mérito que o fez estimado da gentinha, e dos adeptos. Quando poderão esquecer neste Reino essa torrente de calúnias despejada sobre os Padres de Maceiradão, sobre os Padres Carmelitas descalços dos Conventos do Porto, e de Olhalvo?

Tais infâmias só deverão ter cabimento nos anais dos Filibusteiros, ou dos Argelinos; e para nossa vergonha foram tramadas por homens Portugueses!!! Não... Não ...

Que se havia de esperar de escritores subalternos, que por ventura mais apertados de fome que de outro qualquer poderoso e estímulo, se metiam por devoção na Irmandade dos caluniadores, quando o próprio Diário do Governo se ocupava gostosamente em recolher nessa verdadeira estrebaria de Augeas toda a imundície dos Claustros... Se algum Frade vicioso ou descontente queria desafogar a sua paixão... escrevia para o Diário do Governo... e o Diário do Governo lançava em suas hediondas páginas mais este documento de licença e de imoralidade... e como se tudo isto fôra ainda pouco, e ainda muito abaixo da importância e dignidade da matéria; os próprios Corifeus da Horda Revolucionária, furtando à Nação o tempo que esta julgou conceder-lhes para somente a felicitarem, e remirem da viuvez em que se considerava na ausência do seu Rei, do seu Benfeitor, do seu querido, e tão querido Pai; geraram um novo Periódico, que debaixo do nome de Independente só realizou esta alcunha pondo-se muito acima do que fôra decretado nas Bases, e na própria Lei da Liberdade da Imprensa, vomitando contínuos insultos às Ordens Religiosas, qualificando de inimigas da Pátria as mais conspícuas e autorizadas Corporações, e fazendo-se o arauto dessa Tolerância Religiosa, único fim de todos os novos Legisladores. Pobre de quem saísse ao encontro desses Fernandes, desses Borges, ou não temesse os prestígios da Moura encantada, que por mais razão que tivesse, e por mais força de que revestisse os seus argumentos, deveria necessariamente ou fugir ou ser amarrado num calabouço, que a este ponto chegaram as pomposas liberdades que os nossos Regeneradores tantas vezes nos prometiam e anunciavam.

No meio porém de todos esses ameaços feitos as Ordens Religiosas notou-se uma certa inacção, um certo desleixo assaz repreensível em homens audazes e empreendedores. Aprontou-se tarde o Projecto de Reforma, Ainda mais tarde se discutiu, e parece que não foi desserviço, antes especial favor para as Ordens Religiosas todo esse procedimento, pois as medidas legais, e não os dicteiros das Gazetas são as que podem mostrar o verdadeiro espírito dos Governos.

Assim discorreram ainda hoje os Pedreiros Livres para se fazerem menos odiosos, e talvez para serem tidos na conta de protectores (à francesa pode ser) e amigos dos Frades!!! Estratagema é este não menos ocioso que ridículo, que nem esses mesmos poderão ficar largo tempo iludidos! Sempre com os olhos fitos na sua honrada vizinha, e no bom ou mau sucesso das traças de seus Regeneradores, virão os nossos que a extinção dos Mosteiros de Espanha foi um dos principais incentivos da guerra civil, e que depois de ter coberto de luto inumeráveis famílias que se mantinham da beneficência e generosidade daqueles Mosteiros; depois de ter chegado a uma vida errante, vagabunda, e miserável os há pouco fartos e abastados; depois de ter feito despejar nos cofres Nacionais somas imensas, que tiveram a mesma sorte da água com que as Danaides, conforme a antiga mitologia, deviam encher uma pipa sem fundo; longe de preencher as vistas dos Reformadores, só conseguiu aumentar e engravescer os já crescidos males da Pátria... assustaram-se... retrocederam um pouco, a fim de poderem lá mais para diante fazer a salvo quanto pretendiam ...

Foi decretado nas Lojas Maçónicas que a extinção das Ordens Religiosas fosse lenta e vagarosa. Não obstante a impaciência de muitos Vigilantes, Rosa Cruzes, e Veneráveis, para os quais já tardavam muito as formosas Quintas de Fôja, de Almaiara, da Cardiga, e outras semelhantes, concordou-se nas delongas, como de absoluta necessidade para se obter o fim sem graves incómodos, e sem perigo de comoções, e efervescências populares, já que uma Ordem, que não é das ricas, e o devia ser pelo muito que a tenho visto empregar-se no serviço da Igreja e da Pátria, quero dizer a dos Agostinhos Descalços, sendo a própria que exigia a supressão de alguns dos seus Conventos, achou a mais viva resistência nos povos circunvizinhos dos tais Conventos, que poderiam às Côrtes a conservação dos seus Frades, que não o seu refúgio nas doenças da alma e do corpo, sustentando os pobres nas suas portarias, e assistindo a todos de dia e de noite nos transes da passagem deste mundo para a eternidade.

Guardando para outra vez um exame seguido e especial dos Projectos de Reforma dos Regulares, que as circunstâncias do tempo não consentiram fossem analisados da maneira que convinha, e então farei ver a monstruosa ilegalidade de tais Comissões, e a ignorância dos mui altos sabedores que as formalizaram, nomeadamente o primeiro, visto que os Autores do segundo fizeram talvez mais do que se devia esperar de homens sufocados pela irresistível preponderância da Facção Fernandina; por ora tocarei somente em uma anedota, que põe à claras o verdadeiro espírito daquela Comissão. Tenho-a de um varão egrégio em ciência e costumes, por quem suspiram as principais Mitras deste Reino, e que fez parte das Côrtes chamadas Constituintes, o qual ouvindo nomear a Comissão de Reforma dos Regulares, lembrou-se (pelos bons estudos que tem nestas matérias, e noutras as mais estranhas do fim principal de suas continuadas e indefesas aplicações) lembrou-se de apontar algumas espécies de interesse para os tais colaboradores do Projecto de Reforma. Chegou à porta do gabinete, ou casa onde trabalhavam, e por obrar de boa fé, e segurar-se, perguntou.. Trata-se de reforma, ou de extinção? De extinção. Respondeu um Ex-Frade, classe esta donde costumam sair desde Lutero para cá os melhores reformadores das Ordens Religiosas, como veremos a seu tempo!! A Estas palavras retirou-se pasmado o nosso Transmontano, e nunca mais duvidou que o Sistema Constitucional era ou se reputava incomparável com a existência de Frades, pois de que servem Frades em um Reino que apostáta do Cristianismo? E o Sistema Constitucional, como o traçaram os nossos Regeneradores, não pode existir sem a mais viva, e encarecida guerra ao Cristianismo: sim ao Cristianismo, que prescreve a sujeição aos Rei como dever de consciência, e nem os próprios Neros julga amovíveis do trono; sim ao Cristianismo, que fulmina todos os juramentos de liberdade, de igualdade, e ódio à realeza; sim ao Cristianismo, que será constantemente uma barreira invencível ao progresso das Ideias Liberais, que onde entrarem, e dominarem, hão acarretar necessariamente consigo a expulsão dos Frades, Clérigos e Bispo, das Santas Imagens, dos Sacramentos, e de tudo que cheirar a princípios Cristãos. Perdoem-me os Leitores esta pequena digressão, e voltem comigo ao meu principal intento.

(
continuação, II parte)

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