(Memórias Para a História Ecclesiástica do Arcebispado de Braga, Primaz das Hespanhas - Tomo I. Lisboa, 1732):
Tuy ... de direito, era portuguesa?! |
650. Tyde, ou Tuy era, e é uma Cidade na Província da Galiza, situada nas margens do rio Minho, da parte Norte, e a poucas léguas da foz do sobredito rio. É hoje Cidade mui conhecida, e fronteira à nossa Vila de Valença do Minho, que corre entre estas duas Povoações, como diremos na Geografia moderna da Diocese de Braga.
651. Florião do Campo no primeiro livro, capítulo quarenta e dois refere, que antigamente havia duas Cidades deste nome. À primeira chamavam Tyde, e esta diz estar situada entre os rios Lima, e Minho, nos Povos Gravios, que vem a ser no distrito de Portugal. À segunda diz que chamavam Tydiciano, isto é Tyde pequena, ou Tyde segunda, e esta afirma que era a mesma, que hoje existe com o nome de Tuy. Não alega Florião do Campo Autores em que funde esta sua relação; mas parece que a funda na descrição de Ptolomeu, que na segunda Tábua de Europa, no capítulo sexto, na descrição da Chancelaria de Braga, que ele coloca entre os rios Douro e Minho, situa a Tuy. E a Turupciana, que Florião diz estar corrupto, e dever ler-se Tydiciano, coloca na Chancelaria de Lugo, que a ele parece começar do rio Minho para cima.
652. Contudo é certo, que a Chancelaria de Braga chegava acima do rio Minho, segundo deixamos referido no primeiro Livro. E é certo, que Tuy estava nas margens do rio Minho, da mesma parte onde hoje está, segundo refere Plínio, no livro quarto, capítulo vinte. Nem entre os Geógrafos antigos se acha menção de outra Cidade de Tuy. Em Ptolomeu sim há Turupcina, mas era Povoação diversa, como declara o nome; e querer, que de Tyde se derivasse o diminuitivo Grego Tydiciano, não tem fundamento, porque nem os Códices de Ptolomeu lêem Tydiciano. E Plínio, que floresceu muito antes de Ptolomeu, à Povoação, que hoje chamamos Tuy, chama Tyde, e não Tydiciano: Castellum Tyde::::::: Minus amnis. É verdade, que esta Cidade antigamente tece algumas mudanças no sítio, como declara Sandoval no livro, que compôs das suas antiguidades, mas estas todas foram da parte de Além Minho: Tyde, ou Tuy eram nome nacional, e na sua primeira origem Grego, e imposto pelos Gregos, que ali povoavam. Ptolomeu situa a Tuy em oito graus, e vinte minutos de longitude, quarenta e dois graus, e quarenta e cinco minutos de latitude.
(Memórias Para a História de Portugal... Tomo III. Lisboa, 1732):
Cap. CCLXXX
Como ElRei foi sitiar a Cidade de Tuy, e com efeito foi tomada.
1552. Feitas as Côrtes de Lisboa, e correndo o ano de 1389, depois que ElRei cuidou nas matérias civis do seu Reino, e dispôs tudo o que pertencia a elas, estando já findas as primeiras tréguas com Castela, e achando-se na Província de Entre Doutro e Minho, teve um recado de Paio Serodia, (como lhe chamam os nossos Escritores, ainda que outros dizem Paio Serradim, e alguns Paulo Sodré) que governava Tuy, de que queria passar ao seu serviço, e entregar-lhe a Cidade, que é uma das mais importantes do Reino de Galiza, fundada sobre o rio Minho, e oposta a Valença, nos confins de Portugal, aos onde graus, e dezoito minutos de Longitude, e quarenta e dois graus de Latitude; e ainda que escarmentado do engano, que lhe fez Pedro Rodrigues da Fonseca em Olivença com outro igual aviso, lhe pareceu, que não seria inútil a segunda experiência, e com efeito moveu o seu campo para Tuy, onde chegou aos 23 de Agosto do dito ano, com intento de que não sendo sincero o ânimo do Governador, sitiar então a Praça; e como o desígnio deste era ver se o podia colher dentro para o deixar prezo, conforme a ordem DelRei de Castela, dilatou, e afectou de sorte o ajuste de entrega, que ElRei de Portugal veio no conhecimento de que era traição a promessa, e tratou logo de ordenar o sítio; e como vinha prevenido para ele, dispostas as máquinas militares, se fizeram os aproxes, e plantaram as baterias, havendo sempre repetidas escaramuças, que de ambas as partes deixavam mortos, e feridos; e desejando ElRei, que a Rainha também assistisse nesta operação, a mandou buscar à Cidade do Porto, onde se achava; e como os combates eram contínuos, e Paio Serodia visse a constância deles, recorreu a ElRei de Castela para que o socorresse, de que procedeu dizer-se, que ele vinha em pessoa com grande poder a introduzir os socorros; e ElRi então nesta dúvida, mandou chamar o Condestável, e outros Fidalgos mais, que logo lhe obedeceram, e fez aviso ao Conselho de Lisboa, para que o ajudasse com a gente que pudesse, que com efeito foi logo, e com ela o Doutor João das Regras, sem embargo de se haver recebido no mês antecedente com a filha de Martim Vasques da Cunha, como se diz no cap. 114, nº 687 quando se trata dele; e estas gentes vieram todas por mar em seis Galés, que se armaram para a sua condução, por não haver em quem irem por terra, e tiveram tão feliz viagem, que dentro em cinco dias chegaram a Tuy. Porém foram falsas as novas da vinda DelRei de Castela, porque este não tendo Exército capaz da sua Pessoa, mandou só, por contemporizar com os seus, a D. Pedro Tenório, Arcebispo de Toledo, e Martim Anes de Babuda, Mestre de Alcântara, que juntos com D. Garcia Manrique, Arcebispo de Santiago, partissem com a gente, que tivessem a empreender o socorro; mas ou fosse, que não vieram, ou não chegaram a tempo, ElRei apertou de sorte aos sitiados, que se lhe renderam com todas as honras militares, e Paio Serodia se fez seu Vassalo; mas faltando logo à fé, e palavra, fugiu para Castela, e ElRei deu então o governo da Praça a Gonçalo Vasques Coutinho com o presídio necessário.
Cap. CCLXXXV
De outros Fidalgos mais, que foram para Castela; e com ElRei tornou sobre Tuy, e da desgraça, que padeceram os seus na passagem do Minho.
1560. Depois que Matim Vasques da Cunha, e seus irmãos se resolveram passar para o serviço de Castela, acção certamente indigna das suas grandes pessoas, por mais que queiram desculpá-la com o pouco agrado, que sempre acharam em ElRei, depois que tão claramente se lhe opuseram à sua aclamação, com a diferença com que eram tratados à vista do Condestável, e com a violência com que foram despojados das terras, que haviam recebido, em remuneração de tantos, e tão relevantes serviços; seguiram tão nocivo exemplo, e como menos causa, João Fernandes Pacheco, Egas Coelho, João Afonso Pimentel, e outros Fidalgos, entregando todos a ElRei de Castela, não só as suas pessoas, mas as Praças, e Castelos, que governavam, para fazerem mais notória, não a sua queixa, mas a sua traição, cuja notícia foi para ElRei de Portugal de novo sentimento; mas nem por isto desistiu da entrada, que intentava fazer em Castela; e assim passou a Ponte de Lima com 4000Lanças, e muita Infantaria, com as quais marchou até Monção, e aí pediu a Diogo de Avreu, Governador desta Praça, algumas guias para passar o Minho, e ele lhe deu Fernão de Arias, e João Vasques, com os quais foi logo demandar o rio; e sabendo, que o inimigo o esperava da outra parte dele, junto a Salvaterra, com intento não só de disputar-lhe o passo, mas de socorrer Tuy, no caso que ele a cercasse, como se entendia, quis logo passá-lo, e como era já noite, e o rio ia muito caudaloso, e o vão era oblíquo, depois de passar ElRei, que foi o primeiro com o seu Alferes mor, João Gomes da Silva, que levava a Bandeira, indo os guias conduzindo os outros, ou porque com a pressa, que levavam, ou pela escuridade, que já fazia, errassem o vão, os que os seguiam foram dar a um pégo, que fica junto a ele, e soçobrando os primeiros, tão fora estiveram de servir de escarmento aos segundos, que antes lhes aumentavam a confusão; e como se não ouviam mais, que as vozes dos naufragantes, que pediam socorro, o mesmo impulso de querer ministrar-lho, era segundo estímulo para novo naufrágio. Nesta horrorosa consternação se passou a noite, que ainda encobria o perigo, e retardava a lástima, até que raiando o dia, se foi pouco a pouco descobrindo aquele funesto espetáculo, que em tantos, e tão vários cadáveres, que ia arrojando à praia a corrente do Minho, representava tragicamente a fortuna, cujo sempre lastimoso, e lamentável sucesso foi aos 4 de Maio da Era de 1436, que vem a ser o ano de 1398 no qual pereceram quinhentas pessoas, e entre elas algumas de distinção, como D. Afonso, sobrinho do DelRei, (a que Fernão Lopes não dá mais título, nem mais declaração) João Rodrigues Pereira, e outros, perda em fim a mais considerável, que ElRei teve em tantas, e tão perigosas ocasiões de guerra, e por isso com razão a mais sensível, principalmente por se originar de um descuido, ou de uma inadvertência, por lhe não chamar bisonha, ou temeridade.
1561. Com este improviso acidente retrocedeu ElRei o rio, e o intento, em quanto exercitava os actos de piedade, a que o induzia o seu ânimo, mandando dar sepulturas, e fazer sufrágios aos mortos, que iam aparecendo, com mais cautela atravessou o Minho, e com menos trabalho tomou Salvaterra, e foi por sítio a Tuy.
Cap. CCLXXXVI
De como foi tomada segunda vez a Cidade de Tuy
1562. Ajustada a primeira trégua com ElRei de Castela, e restituída Tuy, depois que lhe foi a primeira vez tomada, e quebrada a segunda, como fica dito, continuou ElRei de Portugal as hostilidades, e ganhada Badajoz, passou então outra vez a sitiar Tuy, onde também estava por Governador o mesmo Paio Serodia, tendo consigo seu sogro João Fernandes de Andrade, Gonçalo de Açores, e outros Cavaleiros, com muitas munições de guerra, e boca, e presidiu superabundanete para a sua defesa, em que incessantemente se aplicavam, com grande desejo de conservá-la, não só por crédito, mas também por gosto.
563. ElRei, dispostos os engenhos de combatê-la, e vendo o dano, que faziam na Cidade, receando, que também o fizessem na Igreja Catedral, em que se dizia estava o corpo de S. Fr. Pedro Gonçalves, assentou com os Castelhanos não atirar de noite, em que a pontaria era sempre incerta, e que eles o não fariam com setas ervadas. Depois disto, parecendo-lhe ocasião de assaltá-la, mandou arrimar-lhe as escadas; mas quebrando uma, e saindo curta outra, foi preciso suspender o assalto, e retirar-nos, o que visto pelos que estavam no muro, nos increparam a retirada, não só com acções de zombaria, mas com palavras de injúria; e vendo que estes primeiro intento nos havia custado não só muito sangue, mas algumas vidas, e entre estas a de um esforçado Cavaleiro, chamado João Preto, perda de grande sentimento, assim para ElRei, como para todos os que o conheciam, se persuadiram a que este desistiria da empresa, e levantaria o sítio; mas como entendessem, que o seu intento era persistir nele até ganhar a Praça, deram conta a ElRei de Castela, pedindo-lhe socorro, e pondo-o este em conselho, se lhe disse: Que não só o mandasse com a gente, que tivesse, mas que publicasse, que ia ele em pessoa; e juntamente, que o Infante D. Diniz, com os Portugueses, que ali estavam, entrasse pela Beira, intitulando-se Rei de Portugal, para o que concorriam muito Martim Vasques da Cunha, e seus irmãos, e os outros Fidalgos, que os seguiam; e que o Mestre de Santiago fizesse o mesmo no Alentejo, e também, que se preparasse logo uma Armada, para vir a Lisboa; porque assim era sem dúvida, que vendo-se o Mestre de Aviz acometido por tantas partes, necessariamente levantaria o certo de Tuy, pois antes quereria conservar o próprio, que conquistar o alheio, além de que poderia talvez conseguir-se o fazer Rei ao Infante D. Diniz, como aqueles Fidalgos seguravam, e que se fosse, era também certo, que o seria com toda aquela subordinação, que Castela quisesse.
1564. Tomada esta resolução, se mandou dizer aos sitiados, que brevemente seriam socorridos, e eles nesta certeza se davam por tão seguros, que cada dia nos insultavam, mais com as vozes, que com as armas, e com efeito veio em seu socorro o Condestável D. Rui Lopes de Avalos, em que obrou tão pouco, como se dirá logo. Ao mesmo tempo entrou pela Beira o Infante D. Diniz, aclamando-se Rei de Portugal, e com Bandeira, e Armas Reais, acompanhado de Matim Vasques da Cunha, e de todos os outros Fidalgos, que se haviam passado para Castela, que com a mais gente, que trazia, seriam 2000 Cavalos; e discorrendo livremente pela Província, fizeram nela um grandíssimo estrago. O Mestre de Santiago mostrou querer fazer o mesmo na do Alentejo. De Biscaia saíram 27 embarcações entre grandes, e pequenas, e mais duas Galés; e de Savelha veio o Almirante D. Diogo Furtado de Mendonça, com 13 Galés, e outros tantos Navios, sendo por todas 55 velas, as quais unidas, vieram sobre Lisboa.
1565. ElRei tendo notícia de tantos, e tão vários aprestos militares, que contra ele se dispunham, disse publicamente: Que nada bastaria a fazê-lo desistir da empresa de Tuy; e ainda que o Condestável estava tão distante, e era tão necessária a sua assistência no Alentejo, o mandou chamar para que viesse ajudá-lo na batalha, que esperava dar a ElRei de Castela, que se dizia vir em pessoa a socorrer a Praça; e ele, que então se achava em Montemor, passou logo a Évora, a ajuntar a sua gente, e estando aqui, lhe veio recado da Beira de Gonçalo Vasques Coutinho, para que quisesse acudir à Província, que a ia assolando o Infante D. Diniz. Neste mesmo tempo teve aviso de que o Mestre de Santiago vinha sobre o Alentejo, e juntamente, que a Armada inimiga estava sobre Lisboa; e vendo-se chamado de tantas, e tão diversas partes, que todas igualmente necessitavam de pronto socorro, e não sendo possível acudir a todos, nem tendo forças com que poder dividir-se, se viu na maior aflição, que pode considerar-se, e muito mais quando consultando com os seus o que havia de fazer-se, os achou com bastante tibieza, dizendo alguns: Que não era razão, que arriscassem tantas vezes as vidas sem prémio, nem agradecimento DelRei, e o que mais era, que nem ainda lhes pagasse os seus soldos; e como o Condestável se achasse sem dinheiro para satisfazer-lhos, ainda se viu em maior consternação; e saindo a desafogar a sua pena com Martim Afonso de Melo, não só achou nele consolação, mas remédio, e satisfeitos os Soldados, partiu a encontrar-se com o Infante D. Diniz, que não quis esperá-lo, como tudo, e os mais se refere na vida do mesmo Condestável, no cap. 146, nº 855 e 856 onde também se transcreve a carta, que ele primeiro escreveu ao Infante, antes de acometê-lo.
1566. Neste tempo, que não foi tão breve, que se não passassem dois meses, continuou ElRei o sítio da Praça, e confirmando-se cada vez mais a notícia do socorro, soube ele, que o trazia D. Rui Lopes de Avalos, e que do seu campo só distava uma légua, e assim mandou para a outra parte do rio todas as barcas, que ali estavam, para impossibilitar aos seus a retirada, e lhes mostrar, que não tinham outra defesa, mais que a dos seus braços, e se fortificou na melhor foram, que pôde, esperando ao inimigo; porém como o intento deste era amedrontar-nos, e não acometer-nos, vendo que não deixávamos o sítio, nem saiamos fora das nossas trincheiras; passou a diante, e foi campar à Aldeia de S. Paio, e no dia seguinte chegou a Pontevedra, onde estava o Arcebispo de Santiago D. João Garcia Manrique, a quem acharam sentidíssimo todos os Castelhanos, não pelo que não fizeram, mas pelo que ElRei lhe fez, pois chamando ao Duque de Benavente D. Fadrique, que para ele era réu, e segurando-o da sua parte o Arcebispo, ElRei faltando à sua mesma palavra, e violando a fé pública, o prendeu, e ele com este desgosto se passou depois a Portugal, onde foi Bispo de Coimbra, e teve DelRei a estimação, que merecia a sua grande pessoa, e capacidade; e assim retirado o Mestre de Santiago, (como antes havia feito o Infante D. Diniz) que por vir a este socorro, deixou de fazer a invasão do Alentejo, e recolhida a Armada inimiga, se desvaneceu totalmente tanto marcial ruído, e bélico aparato, que soava em todo o Reino, e desafiava a expectação do Mundo.
1567. Desembaraçado ElRei de tantas oposições, e cuidados, ficou livremente prosseguindo o sítio de Tuy, e aos 24 de Julho Véspera de Santiago, lhe deu segundo assalto, também com pouco fruto, pela grande defesa dos sitiados, os quais vendo, que novamente nos rechaçaram, entenderam, que tão cedo não empreenderíamos terceiro; porém ElRei reparando prontamente o dano, que nos fizeram, mandou logo no outro dia, que era o do Santo, assaltar terceira vez a Praça, o que se executou com melhor sucesso, porque depois de uma porfiada resistência, lhe subimos os muros, e ganhámos as Torres, sendo o primeiro, que chegou a pizá-los Vasco Farinha, que depois foi escudeiro do Conde D. Afonso. Então os de dentro, perdida toda a esperança de defender-se, propuseram partidos para entregar-se, para o que veio falar a ElRei Pedro Fernandes de Andrade, pedindo-lhe que os deixasse ir livres com todos os seus bens; e ainda que eles pela sua obstinação, e petulância mereciam, que não só lhos tirassem, mas também as vidas, ElRei com a sua natural piedade lhas perdoou, e lhes deu as suas armas, ficando tudo o mais à nossa discrição, com que saindo os Castelhanos, no dia seguinte tomou ElRei posse da Cidade, e depois de dar graças a Deus da mercê, que lhe fizera, armou Cavaleiro a seu filho D. Afonso, e alguns Fidalgos mais, e repartindo os bens, que nela se acharam pelos seus Soldados, deu toda a riqueza, que os seus moradores tinham recolhido na Igreja Catedral, (que era muita) a Lopo Vasques, Comendador mor de Aviz, a quem nomeou Governador da Praça; e deixando-lhe os instrumentos da expugnação, que não podia conduzir, partiu para a Cidade do Porto, onde a Rainha estava, e aí o veio ver o Condestável, com cinquenta Cavaleiros, ao qual ElRei fez as honras costumadas, e à sua instância se reconciliou outra vez com o Prior do Crato, que para este fim viera com ele, como fica dito, ainda que desta segunda vez abusou tanto da piedade DelRei, como da primeira.
3 comentários:
Caro Ascendes, por esta é que eu na estava à espera. Então a Irmã Lúcia nunca saiu de Portugal! Há espanhois que acham que as aparições de Fátima também são espanholas, pelo episódio de Tuy. Não adianta mostrar-lhes que o episódio foi privadíssimo, a uma portuguesa, e falado em língua portuguesa, porque eles insistem na geografia. Pronto... a geografia é que conta para eles. Afinal, Tuy provavelmente é um território que nos pertence, porque nos pertencia Braga (com o reconhecimento da Igreja Católica), e Tuy era contida nesse território. Isto muda tudo... e coloca a injustiça e ambição de Espanha sobre Portugal no meio das aparições. Não será por acaso que Fátima está relacionada com o maior defensor de Portugal contra as ambições de Castela: o Beato Nuno Alvares Pereira, o Santo Condestável de Portugal. Isto está interessante, está!!!!! E aquele assunto do dia de Nuno Alvares Pereira ser a 13 de Maio? Lembra-se?
(não me identifico, mas digo o motivo: não quero ficar sem missas.... explicado?)
Caro anónimo,
certamente estou a falar com um tradicional católico de língua portuguesa-internacional.
Muitos assuntos ao mesmo tempo, e para tratar de todos devo dividi-los:
1 - Essa questão do 13 de Maio como dia da morte de Nuno Alvares Pereira, há anos, comecei a tratá-la aqui. Para quem não sabe, eu cheguei a publicar o princípio desta investigação que fiz, e eis o "fenómeno": a mais afamada obra de compilação de santos e varões virtuosos de Portugal, o Agiológio Lusitano, tem uma indicação contraditória, que em dado local coloca a morte de D. Nuno Alvares Pereira a 13 de Maio. Sim, é um erro, mas não um erro qualquer que não mereça ser olhado... porque a obra demorou muitos anos (e está incompleta), foi feita com uma reunião gigantesca de recolhas por todas as igrejas e lugares, e esta data atribuída a D. Nuno Alvares Pereira aparece ao início da obra, muito distante em páginas do dia que é hoje atribuído à sua morte. Esta dualidade não pode ser uma distracção, porque nem acertam no número do dia nem no mês, nem há outro nome parecido com o de D. Nuno etc... Como esta obra foi sendo feita aos poucos, e ia sendo editada em tomos, tudo indica que houve dados que apontaram para o tal dia 13, e assim ficou o autor a julgar a morte do santo, e assim registou, mas que mais tarde juntou a indicação oficial do dia da morte. Não se pode ignorar este dado, tanto mais pelo dia que é (13 de Maio), sendo este Nobre especialmente mariano, Conde de Ourém (território onde está Fátima), tendo ele rezado com as tropas no local da Cova de Iria e onde parece que lhe aconteceu um certo milagre (não tenho agora presente para afirmar mais e melhor). Foi este nobre que mandou fazer em Inglaterra a imagem da Imaculada Conceição que séculos mais tarde veio a ser coroada como Rainha de Portugal por D. João IV quando nos livrámos do ilegítimo e pesado reinado dos castelhanos Filipes (novamente aparece a figura de Castela e do nosso território a salvo). Aqui há coisa... mas não sei o que seja... mas que há, há!
2 - Quanto a Tuy, é como diz.
Roma reconheceu o Reino de Portugal, mas os limites não constaram... Pelos vistos o critério maior para os nossos vizinho sempre foi exclusivamente geográfico, enquanto para nós o último sempre foi o geográfico e régio. As demarcações eclesiásticas, as propriedades dos habitantes, a população, culturas, sempre foram da nossa preferência. E eis o motivo pelo qual Roma nos reconheceu, e pelo qual também nós nos achámos no direito. Já Castela achava que por traçar linhas e proclamar-se sobre o que era dos outros lhe dava o direito. A REconquista exigiria uma REstituição, e não uma apropriação. É certo, certíssimo, que julgámos Tuy como nossa, e lutámos para a defender como tal... não creio que o motivo fosse outro, e isso indica uma ordem de princípios diferente, entre nós e os nossos vizinhos. Como veremos, Portugal cedeu, relativamente a Tuy, não por força da razão e da justiça, mas pela necessidade de certa tranquilidade tão importante no seu jovem percurso. Fica a pergunta: Tuy pertencia-nos por justiça?
(a continuar, noutra hora)
Caro anónimo/a
pode fazer o favor de se identificar via mail? (ascendensblog@hotmail.com)
Obrigado
Depois continuarem a reposta que ficou a meio.
Enviar um comentário