19/07/16

MASTIGÓFORO - INTRODUÇÃO (V)

(continuação da IV parte)

E quem a introduziu na Europa, quem a fomentou por artes, e manhas que parecem ter escapado à mesmíssima perspicácia de Satanás, excedido nesta parte pelos Mações, seus principais agentes neste mundo? Quem desencaminhou o mais pacífico, e leal de todos os povos para deslizar dos caminhos da honra e do apego aos seus Reis naturais, que lhes abriram os seus maiores, e que ele próprio havia trilhado com esse lustre, que reflectiu nas margens do Niemen e do vístula e de lá  mesmo foi atrair novos defensores da melhor de todas as causas? Quem iludiu os Portugueses com fantásticas promessas, abusando sacrilegamente do próprio amor, que eles têm do fundo da alma ao Senhor D. João VI para os fazer instrumentos do vilipêndio, ou antes mudas e lastimosas testemunhas do aviltamento das Sagradas Pessoas dos nosso Reis? Quem tratou uma Soberana digna dos respeitos e homenagens do mundo inteiro pela sua heróica oposição aos sistemas ímpios e revolucionários, de um modo com que não ousariam tratá-la os déspotas de Argel de Marrocos, pois já um destes mandou tratar como pessoa Real o Duque de Barcelos, que caia em seu poder depois da calamitosa jornada de Alcácer? Quem se atreveu a despedaçar o vínculo sagrado que prendia o Eminentíssimo Cardeal Patriarca à Santa Igreja de Lisboa sua Esposa que ele abrilhantou com a sua resistência aos mandados das insolentes pestíferas e facciosas Côrtes? Quem excitou à força de maus tratamentos, e de estúpidas ameaças os nossos Irmãos do Brasil para se desligarem da Mãe Pátria, e quem brindou aqueles remotos climas com o presente da Liberdade sempre funesto aos povos, e mormente aos que mal acabam de sair da infância do estado social, e que se uma especial providência não atentar pela conservação da integridade dos domínios da Coroa de Portugal, em ambos os hemisférios, não tardará a oferecer as lastimosas cenas de furor, e de carnagem, que um igual presente da revolução Francesa produziu na Ilha de São Domingos? Quem fez assoalhar as más doutrinas que há cinquenta anos a esta parte começaram de espalhar-se neste Reino ainda em subterrâneas, e com a capa das trevas, mas que em todo aquele período não fizeram tantos, e tão graves danos, como fez desgraçadamente o primeiro Semestre do regime constitucional? Quem concedeu uma inteira liberdade de pensar, de escrever, e de imprimir, que inadmissíveis num Reino Católico, devem trazer necessariamente consigo a irrisão das coisas sagradas, o menoscabo do sacerdócio, e a maior devassidão de costumes? Quem protegeu abertamente a publicação do Catecismo de Volney, as superstições descobertas, o Retrato de Vénus, o Compadre Matheos, a Vénus Maçona, as cartas de José Anastácio, o Cidadão Lusitano e cópia de mais escritos licenciosos, ímpios, e tendentes à corrupção geral da mocidade Portuguesa? Quem fez ensinar pelos Mestres de primeiras letras, que a nossa alma deve morrer com o corpo; que não há outra vida depois desta, que Nosso Senhor Jesus Cristo era apenas um herói, um homem grande, como foram Zoroastro, Confússio, Mafoma [Maomé]? Quem foi causa de se meterem à bulha todos os preceitos da Igreja, de se ir quase abolindo em muitas partes do Reino, a Confissão Sacramental, e de se escarnecer o Mistério do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, por modos e palavras, que fazem arrepiar os cabelos, e gelar o sangue? Quem aplaudiu, e folgou de ver impressas as Ladainhas Constitucionais, em que os seus autores devassos e estragados substituíam outros como eles, aos Santos do Paraíso, rematando-as com uma oração talvez a mais insultadora que se pode fazer à Majestade Divina, e que só ficaria bem nas sacrílegas penas de um Voltaire, de um Parny, ou de um Pigault de Brun?

O que tinha começado como plano implementado pela Maçonaria foi concretizado por mão papal a partir da segunda metade do séc. XX
Quem tomou a peito obstar por todos os modos a que se imprimissem os escritos, onde se declaravam as manobras da Seita, e fez perseguir os autores dos já impressos, como réus de sedição, por chamarem os povos à doutrina dos seus maiores? Quem animou com elogios, e com promessas de honrar, dignidades e mitras, essas nódoas do Sacerdócio, que se prostituíram, e desonraram a ponto de chamarem Santa, Divina e caída do Céu, uma obra que desde 1791 fôra denunciada como pestilente e vomitada dos Infernos? Quem expulsou dos seus Mosteiros os pacíficos Cenobitas, quem arrancou as virgens, dedicadas ao Senhor, dos próprios asilos, que tinham escapado à invasão Francesa? Quem inventariou as pratas, e alfaias das Casas de Deus, sem exceptuar os próprios cálices já tidos, e havidos como bens nacionais, e que se trocariam cedo em moeda, que pagasse aos novos Heliodoros o trabalho de desmantelarem e saquearem as nossas Igrejas? Quem se abalançou a sondar os arcanos do Tribunal da Penitência requerendo dos fiéis que se erigissem em denunciantes dos seus Confessores? Ah! que a minha pena desfalece não por cansada, mas porque tantos desvarios, impiedades, e balsfêmias não cabem no estreito âmbito da refutação a que me propus! Ora quem fez tudo isto e espera ainda hoje fazer mais, quem não terá sossego, em quanto não se verificarem os intentos de converter por exemplo a Igreja de S. Domingos em Templo da razão, onde alguma prostituta ocupando os altares do Deus vivo seja adorada como foi outra que tal no melhor templo da Cidade de Paris, quem afronta os raios do Céu, que ditosamente hão fulminado a obra das trevas, e se lisonjeia ainda como o cego, e obstinado Lúcifer, de colocar sobre os astros o seu trono, e de esmagar todos os adversários do Sistema Constitucional? Que merece? E confundido agora com as turbas, quer fazer como nacional o crime dos Pedreiros, lamentando o necessário efeito da corrupção dos nossos costumes! Nunca os Portugueses teriam acedido à Liga Maçónica, se lhe penetrassem logo os seus intentos, quando ela se jactava de curar as feridas da pátria, de melhorar a educação, e remediar todos os nossos males.... e agora que nos deixam a pátria nos últimos paroxismos, a educação viciada até às raízes, os nossos males agravados a um ponto, que assusta, e horroriza, vem muito fagueiros em tom de Demónios feitos prégadores, e calmando "Foram os nossos pecados, que fizeram tudo isto, haja virtudes (já se sabe as republicanas como as dos Manlios, e Regulos, e outras que tais citadas no Discurso, pois Santo que esteja no Céu, nem a pão o tiram, ou da língua, ou da boca dos Pedreiros) ... e por fim amnistia, e mais amnistia, perdões, e mais perdões, e não se olhe para o passado" como se do passado não se tirassem as melhores lições para acertar no futuro!!

E que dirão os Pedreiros a tudo isto? O que costumam dizer os seus irmãos em toda a parte do mundo. Espírito de intolerância, e de perseguição, ou como se exprime o Discursador, espírito ambicioso de quem deseja pescar em águas turvas!!! Alto lá meu amigo, que nessa parte há muito que dizer, e insta-me a obrigação de uma justa defesa, a que eu justifique a minha vocação para tratar estes assuntos, e me livre da nódoa que se lança gratuitamente no meu proceder.

Faço viagem embarcado nesta grande nau do Estado, e como tenho direito para acautelar, e evitar quanto em mim for, os seus riscos, e naufrágios, estou vendo ao pé de mim uns loucos, e desatinados, que forcejam por arrombar a nau, e levarem-na a pique. Ora nestes lances deverei eu ficar muito sossegado sobre a coberta da nau, e por mais que ouça trabucar os Pedreiros, e arrombadores, fazer que não ouço, e deitar-me a dormir? Eis aí o que eu não posso conseguir de mim, hei de falar sempre, hei de gritar contra os Pedreiros, que tentam arrombar a nau... e suceda o que suceder. Não digo, nem disse nunca, que os tolinhos serventes de pedreiro, sejam incluídos nas penas que os Mestres, como acinte desafiam, porém não levo à paciência, que os réus dos maiores crimes, que o Céu tem sofrido escapem à vara da Justiça, e andem por aí muito inchados, e senhores do seu nariz, insultando os Realistas, e porventura pedindo remuneração dos serviços feitos à nau, que eles só tratavam de escangalhar, e de arruinar, e que por milagre de Deus, e de Nossa Senhora da Rocha, não se afundiu no pélago constitucional. Expuz-me como todos sabem ao peso das vinganças constitucionais, porque o meu grito foi sempre: Antes morte do que tal constituição...... Não desconheço a estrada que levou Fernão de Magalhães à Côrte dos Reis Católicos, e tenho para mim, que não é vedado a qualquer Português o expatriar-se, e desnaturalizar-se.... Entretanto eu sempre quisera fazer alguma diferença nos motivos que impeliram aquele nosso conterrâneo a um passo tão violento, e desesperado. Pediu ele mercês ao seu Soberano, e indisposto de uma negativa, ou repulsa, que julgava não merecer, levou a sua espada, e os seus talentos a um Soberano estrangeiro... Eu não peço nada senão o meu repouso, depois de tantas lidas, e peregrinações, a que me condenou o infausto, e execrado Sistema Constitucional. Desafio a todos os Portugueses, incluso o Ministério d'ElRei Nosso Senhor, que mostrem algum papel em que eu requeresse mercês, ou galardões.... Nem o fiz, nem o espero fazer, e se a minha desgraça subir a tal ponto, que ainda eu chegue a contrair a manha dos pedreiros, que não querem outra coisa senão mandar, e governar, para terem mais ocasião de irem solapando as instituições políticas, e religiosas, já peço com instância aos Ministérios d'ElRei, que desprezem, e rasguem sem dó o meu requerimento, e me tratem de louco, e de insensato. Poucos haverá, (deixem-me ter uma pequena vaidade) que conheçam os pedreiros melhor do que eu, e ninguém receia menos doque eu as suas vinganças, pois não temo os que matam os corpos, só temo os que podem matar a alma.... Quem professar como eu a Divina Religião de Jesus Cristo, necessariamente há de pedir o castigo destas víboras, e pestes das suas Sociedades Religiosas, e Civil. Quem for tolerante com eles deixa-os trilhar à sua vontade o caminho da perdição, e cortar-lhe pela raiz todos os meios de se conhecerem, e emendarem, sem o que vivem e morrerm impenitentes, e não sei que isto seja querer-lhes bem, e desejar-lhes grandes venturas. Outro fora eu que desde o princípio das minhas investigações, e Lucubrações Anti-Maçónicas, tivesse seguido diferente rumo. Outro fora eu, que cingindo-me ao conselho de um Frade Bento, que perguntando por certo Monarca Aragonês sobre o que devia fazer a uns rebeldes, como estudioso que era do silêncio, levou o emissário a uma outra, e puxando de sua face, cortou o que não estava ao nível das outras plantas, arbítrio este, que segundo nos conta Aristóteles (Politic. L. 3 cap. 9), já fôra dado a Trasíbulo, num caso semelhante! Outra fôra eu, que expendendo bem os casos em que as penas se devem, ou temperar, ou executar, ou ainda agravar, mostrasse com evidência, que os Pedreiros Livres, em matéria de crimes, levam as alampadas aos incendiários, aos ladrões de estrada, aos fabricantes de moeda falsa, e a outros com quem nunca se deve usar de condescendência, ou piedade; mas que tenho eu feito?

(a continuar)

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