O PUNHAL DOS CORCUNDAS
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Nº. 16
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Ostendam gentibus nuditatem tuam
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EDUCAÇÃO PÚBLICA
Assunto é este que desde a chamada reforma de Lutero há merecido os cuidados e atenções de toda a espécie de sectários. Julgaram eles, e mui sensatamente, que se chegassem a dominar o coração e o espírito da sempre incauta mocidade, poderiam contar de certo que seus erros teriam voga, e mui dificultosamente chegariam a desarraigar-se. Já no séc. XVI foram as línguas mortas uma das capas com que se cobriram os malévolos intentos das novas seitas, para melhor propagarem as suas doutrinas; e foi um rasgo visível da Providência que ao mesmo passo em que a heresia lançava mão deste fatal expediente, começassem a existir os filhos de Santo Inácio, cujo principal intento era a direcção dos estudos da mocidade, para que saísse das escolas preparada com o auxílio das sãs doutrinas, a fim de se precaver das seduções que tão frequentes eram naquele desgraçado século. Por mais que se tenha clamado entre nós contra o Senhor D. João III, que removeu do ensino as aulas menores os Buchanans, os Grouchys, os Vinetos, e outros abalizados cultores das letras humanas, nem por isso ajudarei essas pouco reflectidas e mui desassisadas invectivas. Um Rei Católico antes quer que uma dúzia de seus vassalos fiquem menos instruídos em Grego ou Hebraico, do que, sob o pretexto de se adiantarem neste estudos, beba toda a mocidade do seu Reino pelas taças envenenadas da heresia e da incredulidade; além de que para se condenar, com alguma justiça, aquele Soberano, era necessário que me convencessem de que os Jesuítas Padres - João Baptista Perpinhão, Manuel Alvares, e Cipriano Soares eram inábeis para ensinarem Latim, Retórica, e Grego à mocidade destes Reinos.
Manifestou-se pois, desde o berço da Companhia de Jesus, uma figadal aversão aos novos Mestres destinados para a educação da mocidade, e não foram as decantadas máximas sobre o regicídio, e as sonhadas associações com os Chatels, e outros inimigos dos Reis; mas principalmente a sua preponderância no Reino de França (por assumirem os cuidados da instrução pública), que suscitaram contra eles a perseguição que lhes foi movida pelos Hugonotes, em extremo aflitos e desesperados de se lhes contrariarem as suas ideias e os seus projectos. Grande número de provas tiradas dos escritos do fim do séc. XVI, e de todo o século XVII poderia eu trazer em confirmação destas verdades, se o meu intento não fosse deliberar apenas esta matéria, a fim de chegar, o mais cedo possível, à desastrosa influência daqueles princípios neste Reino.
É sabido que os Pseudo-Filósofos do séc. XVIII, já para se fazerem senhores da educação pública, intrigaram e minaram tudo para conseguirem a extinção dos Frades da Companhia, cujo maior delito era certamente o de lesa-filosofia; porque obstavam denodada e valorosamente aos seus progressos de tal maneira, que nunca o estandarte da irreligião se arvoraria na capital da França, nem se chegaria a perpetrar o regicídio de Luís XVI, se a Côrte de França, por extremo corrompida, não desse as mãos aos Filósofos para se conseguir aquela extinção. Sobejas vezes o tenho ponderado, e não me cansarei de o repetir, que é bem digno de lástima esse indiferentismo ou desleixo, com que depois da extinção dos Jesuítas foi tratada a educação religiosa pelos Soberanos, que, desconhecendo os seus verdadeiros interesses, coadjuvaram pela maior parte, e sem o advertirem, a causa da impiedade. A conservação da Fé, no meio das tormentas que têm ameaçado por vezes submergir a barca de S. Pedro, é sem dúvida um milagre fixo e permanente, e para mim tão admirável como se eu visse a passagem do mar vermelho ou a ressurreição de Lázaro. Era impossível que forças humanas guardassem puro e ilibado o sacrossanto depósito das verdades católicas, sem que ele tivesse o menor perigo durante a guerra, ora encoberta ora descoberta, que lhe têm feito os ímpios há cem anos a esta parte. E o que me robora ainda mais nesta persuasão é o ver a suma diligência e actividade com que os Filósofos se meteram a seu salvo na direcção dos primeiros estudos da mocidade, fazendo imprimir livros recheados de heresias e obscenidades para serem o primeiro objecto das leituras da infância. Mete dó considerar-se que a impiedade tivesse sobejas forças para imprimir tais livros, e para os disseminar por todo um reino tão vasto e populoso como a França, e os distribuir gradualmente, a fim de segurar melhor as suas infernais conquistas, e que não prevalecesse ao mesmo tempo o contrário sistema de fazer imprimir e espalhar gratuitamente os bons livros, ainda que estes desejos de alguns Pastores talvez desmaiassem perante os esforços da autoridade civil, que, pouco ou nada escrupulosa na eleição dos Mestres, fechava de todo as portas à esperança de que homens indignos e imortais quisessem servir-se dos bons livros em pró dos seus ouvintes.
Desta perseguição ao Cristianismo se deriva o malfadado sistema de remover os Frades a todo o custo de educação da mocidade, e por isso neste últimos tempos em que mais de uma vez se têm renovado essas odiosas contestações, só o nome de Frades tem consternado, e feito mudar de côr alguns Ministros, secretos agentes da maçonaria, como se viu há pouco tempo na França, quando se tratou de admitir ao ensino público os Padres das escolas cristãs, que só este nome é uma declaração de guerra aos ímpios do século, que não receiam coisa alguma tanto como a propagação do Cristianismo.
Da mesma envenenada fonte procederam as instruções dadas neste Reino, em tempos do Senhor D. José I, para que os Frades se excluíssem do magistério, visto que apenas sabiam ler o seu breviário, e já modernamente, nos anúncios de oposição às cadeiras menores, se afixou nas portas da Universidade, e nos outros lugares onde convinha, a famosa excepção dos Frades, que por mais que soubessem, e acompanhassem de excelente morigeração os seus bons estudos, acharam um veto absoluto, que tantas vezes escandalizou os homens probos e assisados.
Apenas se instalaram as Côrtes Lusitanas começou de manifestar-se algum cuidado pela instrução pública, e logo se viu que a maçonaria tratava de ser fiel aos princípios e doutrinas de seus Mestres Franceses, e não desperdiçava este meio de fazer prosélitos; e como até para ser Bispo se recomendou uma virtude exótica, peregrina e de novo cunho, que não tinha lembrado ao Apóstolo S. Paulo, a saber, adesão ao sistema, ainda mais se exigia nos cultivadores das tenras plantas, que se as fizessem crescer no espírito maçónico teriam ainda mais valor para os Pedreirões, do que se fossem Bispos, que nunca foram nem hão de ser pessoas de grande monta no conceito dos Pedreiros, que só os querem lá, ou para espantalhos ou para agentes da propagação da seita, e preenchido que fosse o seu fim os indemnizaria depois com dinheiro, ou empregos civis, do que tivessem perdido em honras e privilégios... Devem tratar-se com alguma extensão estes dois artigos, Livros e Mestres, em que apareceram factos mui curiosos, e mui dignos de chegarem à notícia do público, e de fixarem toda a atenção do Governo sobre um dos assuntos de maior consideração, em que o simples descuido, não digo somente de meses, mais de dias e horas, acarretará males gravíssimos sobre este Reino. Comecemos.
(continuação, II parte)
É sabido que os Pseudo-Filósofos do séc. XVIII, já para se fazerem senhores da educação pública, intrigaram e minaram tudo para conseguirem a extinção dos Frades da Companhia, cujo maior delito era certamente o de lesa-filosofia; porque obstavam denodada e valorosamente aos seus progressos de tal maneira, que nunca o estandarte da irreligião se arvoraria na capital da França, nem se chegaria a perpetrar o regicídio de Luís XVI, se a Côrte de França, por extremo corrompida, não desse as mãos aos Filósofos para se conseguir aquela extinção. Sobejas vezes o tenho ponderado, e não me cansarei de o repetir, que é bem digno de lástima esse indiferentismo ou desleixo, com que depois da extinção dos Jesuítas foi tratada a educação religiosa pelos Soberanos, que, desconhecendo os seus verdadeiros interesses, coadjuvaram pela maior parte, e sem o advertirem, a causa da impiedade. A conservação da Fé, no meio das tormentas que têm ameaçado por vezes submergir a barca de S. Pedro, é sem dúvida um milagre fixo e permanente, e para mim tão admirável como se eu visse a passagem do mar vermelho ou a ressurreição de Lázaro. Era impossível que forças humanas guardassem puro e ilibado o sacrossanto depósito das verdades católicas, sem que ele tivesse o menor perigo durante a guerra, ora encoberta ora descoberta, que lhe têm feito os ímpios há cem anos a esta parte. E o que me robora ainda mais nesta persuasão é o ver a suma diligência e actividade com que os Filósofos se meteram a seu salvo na direcção dos primeiros estudos da mocidade, fazendo imprimir livros recheados de heresias e obscenidades para serem o primeiro objecto das leituras da infância. Mete dó considerar-se que a impiedade tivesse sobejas forças para imprimir tais livros, e para os disseminar por todo um reino tão vasto e populoso como a França, e os distribuir gradualmente, a fim de segurar melhor as suas infernais conquistas, e que não prevalecesse ao mesmo tempo o contrário sistema de fazer imprimir e espalhar gratuitamente os bons livros, ainda que estes desejos de alguns Pastores talvez desmaiassem perante os esforços da autoridade civil, que, pouco ou nada escrupulosa na eleição dos Mestres, fechava de todo as portas à esperança de que homens indignos e imortais quisessem servir-se dos bons livros em pró dos seus ouvintes.
Desta perseguição ao Cristianismo se deriva o malfadado sistema de remover os Frades a todo o custo de educação da mocidade, e por isso neste últimos tempos em que mais de uma vez se têm renovado essas odiosas contestações, só o nome de Frades tem consternado, e feito mudar de côr alguns Ministros, secretos agentes da maçonaria, como se viu há pouco tempo na França, quando se tratou de admitir ao ensino público os Padres das escolas cristãs, que só este nome é uma declaração de guerra aos ímpios do século, que não receiam coisa alguma tanto como a propagação do Cristianismo.
Futuro D. José I |
Apenas se instalaram as Côrtes Lusitanas começou de manifestar-se algum cuidado pela instrução pública, e logo se viu que a maçonaria tratava de ser fiel aos princípios e doutrinas de seus Mestres Franceses, e não desperdiçava este meio de fazer prosélitos; e como até para ser Bispo se recomendou uma virtude exótica, peregrina e de novo cunho, que não tinha lembrado ao Apóstolo S. Paulo, a saber, adesão ao sistema, ainda mais se exigia nos cultivadores das tenras plantas, que se as fizessem crescer no espírito maçónico teriam ainda mais valor para os Pedreirões, do que se fossem Bispos, que nunca foram nem hão de ser pessoas de grande monta no conceito dos Pedreiros, que só os querem lá, ou para espantalhos ou para agentes da propagação da seita, e preenchido que fosse o seu fim os indemnizaria depois com dinheiro, ou empregos civis, do que tivessem perdido em honras e privilégios... Devem tratar-se com alguma extensão estes dois artigos, Livros e Mestres, em que apareceram factos mui curiosos, e mui dignos de chegarem à notícia do público, e de fixarem toda a atenção do Governo sobre um dos assuntos de maior consideração, em que o simples descuido, não digo somente de meses, mais de dias e horas, acarretará males gravíssimos sobre este Reino. Comecemos.
(continuação, II parte)
4 comentários:
Em Timor ainda há quem ame Portugal
http://www.independenciaslusa.info/mau-pelo-o-cuidador-da-bandeira-de-d-maria-ii-em-timor-leste/
Caro "anónimo",
obrigado por comentar.
Há anos, D. Basílio do Nascimento contou coisas bem significativas a este respeito. Os timorenses gabam-se perante os seus vizinhos pelos costumes superiores deixados dos tempos em que eram portugueses. Alguns anciãos guardam a língua e em torno dela costumes e a religião, e falam do tempo em que Portugal ainda não os tinha abandonado. Sim... eles sentem-se abandonados por Portugal, porque foi isso mesmo que aconteceu... infelizmente! Quando a selecção nacional portuguesa perde, é como se fosse luto nacional em Timor...
Obrigado pelo belo material que aqui veio deixar.
Volte sempre.
A mesma Bandeira alguns anos antes:
http://2.bp.blogspot.com/-IBjo7_RRKq0/TejfkHjKnkI/AAAAAAAATmo/ZfIWhgryUkA/s1600/Bandeira+em+Timor.jpg
Há mais casos
http://1.bp.blogspot.com/-Ej5tqrCp1nE/UyWjadq4dcI/AAAAAAAAgVY/XslHKuY6-vw/s1600/Timor.jpg
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