(continuação da IV parte)
E que poderemos dizer de um sistema, em que cada um se acha na dependência absoluta de uma multidão desenfreada, que só respira o roubo, e os assassínios, de um sistema em que não há outra lei, que a força, outra liberdade, que as paixões, nem outra regra, que nossos desejos; no qual por nossas absurdas constituições estabelecemos o Mundo Moral com os pés para cima, e a cabeça para baixo; em que por meio da regra do grande número se fazem os homens senhores do Todo-Poderoso, os filhos dos pais, os criados de seus amos, os vassalos de seus Soberanos, os membros da cabeça, os exércitos de seus Generais, os diocesanos de seus Bispos, os pobres dos ricos, as últimas famílias das primeiras, os que nada têm dos que alguma coisa possuem; de um sistema em que os princípios mais evidentes da natureza e do nascimento, das sociedades e da subordinação são destruídos, despedaçadas todas as leis da Moral, e da Religião, arruinadas as autoridades Divina, e Humana, lançados por terra, e arrancados os limites da licença; em que a ínfima ralé de tudo recebemos de seus mãos, bens, honras, e poderes: em que Deus nada figura; pelo qual (sistema) não lhe devemos nem culto, nem adoração, nem sacrifícios; pelo qual os Templos são destruídos, arruinadas as Igrejas, alvitado o Sacerdócio, e assalariados seus Ministros; pelo qual se pode adorar, ou não adorar; fazê-lo cada um a seu modo, seguir suas leis, ou não as seguir, ter fé, ou não a ter; um sistema, pelo qual a ínfima ralé, em razão do grande número, tudo domina, tudo governa, e tudo decreta; pelo qual pode fazer quanto lhe vier à vontade, amotinar-se, reunir-se, assassinar, pedir partilhas das terras, esbulhar a seus Legisladores, e pedir outros Representantes; saquear as casas, e degolar os proprietários; pelo qual é preciso contemplá-lo em suas mesmas sedições; um sistema finalmente, em virtude do qual não é lícito enviar tropas contra este Povo sem fazer-se culpado de Lesa Majestade Soberana?! .... Tudo isto é uma consequência necessária do princípio deste absurdo, chamado pacto social!.....
“Oh ! Vós todos, que tanto apreciais as vantagens dos Governos Representativos, (sejam de uma, ou duas Câmaras, porque na essência são o mesmo) conheceis bem seus elementos, e tendes profundado suas consequências?!.... Vós, que pedis seu estabelecimento, Soberanos ou súbditos, grandes e pequenos, quem quer que sejais, sabeis por ventura o que desejais? Tendes pensado bem, que assim será a ínfima relé quem vos dará a lei; a ínfima plebe senhora de cada hum de vós por si, ou por meio de seus Representantes?! E que esta ínfima plebe, que nada tem, não pode deixar de respirar o saque, e o roubo, os atentados, e os assassínios; que o inferno com toda a sua perversidade não podia imaginar uma cousa mais desastrosa; e que merecem os últimos suplícios todos os que insistem em pregar esta monstruosa doutrina?!....”
Até aqui o grande Apóstolo das legitimidades o Abade Torel. Na verdade não se pode mostrar com uma lógica mais convincente o excessivo, e contraditório absurdo do Pacto Social, nem se pode mostrar com uma eloquência mais triunfadora os tristes resultados de tão nefandos
princípios. Oxalá que nas mãos de todos os Portugueses, que se jactam de ilustrados
e Realistas, se encontrasse este Livro Divino, ele seria o antemurak contra as
invasões democrático-filosóficas, e o escudo invulnerável, que preservasse os
Povos dos tiros da Maçonaria. Para ele remetemos os Leitores desejosos de se instruírem cientificamente sobre tão importante matéria. Talvez nos arguam de prolixos
nesta digressão; mas só tudo achamos
pouco quando se trata da Causa de Deus, e dos Reis, e quando é necessário
desenganar os Povos, para que jamais deem atenção, a quem no meio deles se
apresentar lisonjeando-lhe os seus direitos, e oferecendo-se para seus
advogados "fugite partes adversae".
N.B. - Em Português acha-se traduzida esta Obra,
hoje rara, porque os Pedreiros, e Contrabandistas Sociais a consumiram; mas esta Tradução não é de muita estima, porque foi
feita sobre a 1.ª Edição: o Autor fez 2.ª e 3.ª, a qual não só é muito mais aumentada, mas segue outro plano, a melhor método: de maneira que, a que se
acha vertida em hermoso Castelhano,
belo tipo, e excelente papel, e se Deus o permitir, e os meus Compatriotas
não desestimarem este meu trabalho, que a eles consagro, ainda poderão ter em
linguagem esta 2.ª Edição, para que nela vejam arrancados pela raiz todos os
princípios democráticos. É já tempo de que as nossas ideias se fixem sobre a
verdadeira base da sociabilidade. D. Tr.
SETEMBRIZAR [Septembrisar] - Este Vocábulo foi um dos primeiros enfeites, e adornos da Língua Republicana. É de origem Francesa, e significa matar inocentes, porém de um modo que horrorize até aos tigres. Em sentido rigoroso não convém inteiramente à Itália; porém no sentido lato, como é, despojar, oprimir, tiranizar, etc. etc. optimamente lhe convém; porque neste sentido não só tem sido Setembrizada, mas ainda Novembrizada, e Dezembrizada, e por quantas horas, dias, e meses tem o ano. Daqui é que praticamente se introduziu na Língua a Democrática.
(* Podemos dizer o mesmo de Portugal, que o Autor diz da Itália. Entre nós não chegou a ter o seu verdadeiro e rigoroso sentido a palavra Setembrizar; (graças à Providência que nos livrou, servindo-se de um instrumento visível, que foi o Senhor D. MIGUEL) mas em sentido mais extenso, isto é, de despojar, oprimir, tiranizar, etc. etc. claramente a vimos posta em prática pelos nossos Regeneradores Políticos (isto é, ladrões descarados). Foi a nossa Pátria Augustizada pela Revolução de 1820, em que se abriram os diques à impiedade, à blasfémia, e em que o país clássico da fidelidade foi profanado pela perfídia de uns monstros, cujos nomes e feitos serão sempre execráveis à posterioridade!.... Foi Setembrizada quando em Lisboa retumbou o eco medonho da Revolução Portuense, com um escândalo sem igual, fazendo que o dia sempre memorável da Restauração Portuguesa contra o Tirano da Europa tivesse o nefando contraste de uma perfídia, que arrancou o Septro do Poder das Mãos, que legitimamente o empunhavam, para o entregar a uma cáfila de bandidos, pérfidos, e rebeldes, que em nome do Povo Soberano começaram o saque geral dos direitos, propriedades, e vidas. Foi Novembrizada pela célebre desavença entre os nossos Regeneradores, que não chegando os altos empregos, a que todos aspiravam, para tantos empregadores da fortuna alheia, pretenderam uns suplantar os outros, e pela boca dos canhões, e pela eloquência das baionetas se quis anunciar a Constituição Espanhola! Com a maior justiça se deu a este grande feito da Regeneração o nome de Martinhada, e seria talvez melhor chamar-lhe Borracheira Maçónica. Foi finalmente Dezembrizada por todas as horas, dias, e meses, em que ditaram as Leis ao próprio Soberano, dilapidaram os Mosteiros, profanaram os Templos, etc. etc.. E se da primeira Época Revolucionária passássemos à segunda, ou Carteira, veríamos a mesma farsa, sem dúvida mais perversa do que a primeira; porque o crime nunca é tão terrível como quando se cobre com a capa da virtude; nem a revolução tão medonha como quando se apresenta com os enfeites e atavios de Legitimidade! As carnes de Soldados fieis caindo a pedaços na praça de Alcântara (sed multa sileo!...) é um monumento eterno desta verdade.) D. Tr.
(continuação, VI parte)
SETEMBRIZAR [Septembrisar] - Este Vocábulo foi um dos primeiros enfeites, e adornos da Língua Republicana. É de origem Francesa, e significa matar inocentes, porém de um modo que horrorize até aos tigres. Em sentido rigoroso não convém inteiramente à Itália; porém no sentido lato, como é, despojar, oprimir, tiranizar, etc. etc. optimamente lhe convém; porque neste sentido não só tem sido Setembrizada, mas ainda Novembrizada, e Dezembrizada, e por quantas horas, dias, e meses tem o ano. Daqui é que praticamente se introduziu na Língua a Democrática.
(* Podemos dizer o mesmo de Portugal, que o Autor diz da Itália. Entre nós não chegou a ter o seu verdadeiro e rigoroso sentido a palavra Setembrizar; (graças à Providência que nos livrou, servindo-se de um instrumento visível, que foi o Senhor D. MIGUEL) mas em sentido mais extenso, isto é, de despojar, oprimir, tiranizar, etc. etc. claramente a vimos posta em prática pelos nossos Regeneradores Políticos (isto é, ladrões descarados). Foi a nossa Pátria Augustizada pela Revolução de 1820, em que se abriram os diques à impiedade, à blasfémia, e em que o país clássico da fidelidade foi profanado pela perfídia de uns monstros, cujos nomes e feitos serão sempre execráveis à posterioridade!.... Foi Setembrizada quando em Lisboa retumbou o eco medonho da Revolução Portuense, com um escândalo sem igual, fazendo que o dia sempre memorável da Restauração Portuguesa contra o Tirano da Europa tivesse o nefando contraste de uma perfídia, que arrancou o Septro do Poder das Mãos, que legitimamente o empunhavam, para o entregar a uma cáfila de bandidos, pérfidos, e rebeldes, que em nome do Povo Soberano começaram o saque geral dos direitos, propriedades, e vidas. Foi Novembrizada pela célebre desavença entre os nossos Regeneradores, que não chegando os altos empregos, a que todos aspiravam, para tantos empregadores da fortuna alheia, pretenderam uns suplantar os outros, e pela boca dos canhões, e pela eloquência das baionetas se quis anunciar a Constituição Espanhola! Com a maior justiça se deu a este grande feito da Regeneração o nome de Martinhada, e seria talvez melhor chamar-lhe Borracheira Maçónica. Foi finalmente Dezembrizada por todas as horas, dias, e meses, em que ditaram as Leis ao próprio Soberano, dilapidaram os Mosteiros, profanaram os Templos, etc. etc.. E se da primeira Época Revolucionária passássemos à segunda, ou Carteira, veríamos a mesma farsa, sem dúvida mais perversa do que a primeira; porque o crime nunca é tão terrível como quando se cobre com a capa da virtude; nem a revolução tão medonha como quando se apresenta com os enfeites e atavios de Legitimidade! As carnes de Soldados fieis caindo a pedaços na praça de Alcântara (sed multa sileo!...) é um monumento eterno desta verdade.) D. Tr.
(continuação, VI parte)
2 comentários:
Destaque importante para este trecho:
"[...] E se da primeira Época Revolucionária passássemos à segunda, ou Carteira, veríamos a mesma farsa, sem dúvida mais perversa do que a primeira; porque o crime nunca é tão terrível como quando se cobre com a capa da virtude; nem a revolução tão medonha como quando se apresenta com os enfeites e atavios de Legitimidade! As carnes de Soldados fieis caindo a pedaços na praça de Alcântara (sed multa sileo!...) é um monumento eterno desta verdade."
Rafaela,
Obrigado pelo comentário.
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