(continuação da II parte)
Acabada a religiosa cerimónia do juramento, que o Visconde de Vila Nova da Cerveira declarou Sua Majestade a Raínha aceitar, imediatamente o Alferes-mor do Reino, o Conde de S. Lourenço, com a bandeira real desenrolada, disse em voz alta:
- "Real, real, real, pela muito alta, muito poderosa, a Fidelíssima Senhora Raínha D. Maria I Nossa Senhora".
Repetiram logo estas palavras os reis de armas, arautos, passavantes e todos os que se encontravam na Varanda, ao mesmo tempo que começaram a soar os instrumentos dos ministres, tímbales, clarins, charamelas e trombetas.
Feito êste primeiro auto, dirigiu-se o Conde de S. Lourenço ao balcão do meio da galeria que dominava a praça e repetiu a cerimónia da aclamação.
O que foi o entusiasmo do povo, nesse momento solene, não se pode descrever. Salvaram as peças de artilharia do Castelo, das Torres e das naus, repicaram os sinos da Sé e das demais igrejas da cidade; mas acima de tudo ouvia-se a vozearia do povo soltando incessantes vivas à amada Soberana que tão esperançosamente deu comêço ao seu reinado por actos de clemência, de justiça e de liberdade.
Era tal o delírio da multidão que, sem respeito pelas ordens dadas, ultrapassou os cordões da tropa que estava formada e invadiu a Varanda. Quiseram expulsá-la fora; porém, Sua Majestade a Raínha, com a sua infinita benignidade, deu ordem para que deixassem passar quem quisesse. Então, gente de todas as condições se precipitou sôbre a Raínha e, de joelhos, a beijar-lhe a fímbria do vestido e do manto real, nem a deixavam caminhar. Sua Majestade porém, que até ali se conservara melancólica, mostrou um sorriso de satisfação e, por fim, estava tão comovida que os olhos se lhe encheram de lágrimas.
Foi o momento mais belo das festas de ontem.
Todos afirmam que não há memória de Rei português aclamado com mais vivas de alegria nem maiores esperanças. E o Embaixador de Espanha dizia-me, à saída, que não podia haver Monarca mais aplaudido e mais amado do que era a Raínha Nossa Senhora."
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