"..., a fé coopera nas nossas obras, e assim progredimos na graça que nos torna justos aos olhos de Deus. Pois está escrito: Que o justo (isto é, aquele que possui, pela graça santificante, a amizade de Deus) se torne cada vez mais justo. E ainda: "Avançai no estado de justiça até à morte". É este aumento da graça que a Igreja pede quando diz a Deus (XIII domingo depois do Pentecostes): "Dai-nos um aumento de fé, de esperança e de caridade".
Como vêdes, o santo Concílio indica-nos que, juntamente com as nossas obras, o exercício das virtudes, principalmente das virtudes teologias, é a fonte do nosso progresso, do nosso crescimento na vida espiritual de que é princípio a graça.
Como se realiza isto? Primeiramente, pelas boas obras. Já vos disse que toda a boa obra feita em estado de graça, sob o impulso da caridade divina é meritória; "toda a obra meritória é uma fonte de aumento da graça em nós": Quolibet actu meritorio meretur homo augmentum gratiae. As boas acções da alma em estado de graça não são apenas frutos ou manifestações da nossa qualidade de filhos de Deus; são também, diz o Concílio de Trento, causa de aumento dessa justificação, que nos torna agradáveis a Deus. Por isso, à medida que se multiplicam as nossas obras, a graça aumenta; torna-se mais forte, mais poderosa; e com ela aumenta a caridade; aumenta também a glória futura, que não é senão o desabrochar no céu do nosso grau de graça neste mundo. Por esta razão o santo Concílio nos repete a palavra de S. Paulo: "Sêde firmes e constantes, trabalhando sempre cada vez mais na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil ao Senhor".
Mas é sobretudo pela prática das virtudes que cresce a vida da graça.
Sabeis que no homem a natureza faz surgir certas faculdades, - inteligência, vontade, sensibilidade, imaginação, que são em nós princípios de acção, fôrças de operação, que nos permitem obrar inteiramente como homens; sem elas, um homem não é perfeito na sua completa realidade de homem.
Coisa análoga se passa na vida sobrenatural. A graça santificante informa a nossa alma, e, dando-nos como que um novo ser, Nova criatura, torna-nos filhos de Deus. Mas Deus, que tudo faz com sabedoria e difunde os seus dons com munificência, deu a este ser faculdades que, proporcionadas à sua nova condição, dão-lhe capacidade para obrar em conformidade com o fim sobrenatural a atingir, isto é, como filho de Deus, que espera a herança de Cristo na bem-aventurança eterna. Essas faculdades são as virtudes sobrenaturais infusas.
Chamam-se virtudes (do latim virtus, "força"), porque são aptidões da acção, princípios de operação, energias que subsistem em nós como hábitos estáveis, e que, actuando no momento oportuno, fazem-nos produzir prontamente, com facilidade e alegria, obras agradáveis a Deus. Como essas forças de operação não têm a sua origem em nós e tendem a fazer-nos obrar para um fim que ultrapassa as exigências e excede as forças da nossa natureza, chamam-se sobrenaturais. Enfim, a palavra infusas, indica que o próprio Deus as deposita directamente em nós no dia do Baptismo com a graça santificante.
Pela graça somos filhos de Deus; pelas virtudes sobrenaturais infusas, podemos obrar como filhos de Deus, produzir actos dignos de nosso fim sobrenatural.
Devemos distinguir as virtudes infusas das virtudes naturais. Estas são qualidades, "hábitos", que o homem, mesmo incrédulo, adquire e desenvolve em si por esforços pessoais e actos reiterados; tais são a coragem, a força, a prudência, a justiça, a doçura, a lealdade, a sinceridade. São siposições naturais que cultivamos e que se tornaram, pelo nosso exercício, hábitos adquiridos. Aperfeiçoam e embelezam o nosso ser natural no domínio intelectual ou simplesmente moral.
Uma comparação vos fará compreender a natureza da virtude natural adquirida. Conheceis diferentes línguas estrangeiras; essa ciência não a recebestes ao nascer; exercícios e esforços reiterados vô-la fizeram adquirir; uma vez adquirida, está em vós como hábito, como força, prestes a declarar-se à menor ordem da vontade. O mesmo se dá com aquele que aprendeu a arte da música; pode não praticar constantemente essa arte; mas possui-a como um hábito; quando o artista quiser, tomará o arco ou colocar-se-á diante do teclado, e tocará com a mesma facilidade como que outros abrem os olhos, andam, etc. Compreendeis igualmente que a virtude natural adquirida, como todo o hábito adquirido, deve, para não se perder, ser mantida e cultivada; e isto, pelo mesmo princípio que a fêz surgir, isto é, pelo mesmo princípio que a fêz surgir, isto é, pelo exercício.
São doutra essência as virtudes sobrenaturais infusa. Primeiramente, elevam-se acima da nossa natureza. Sem dúvida, praticamo-las pelas faculdades com que a natureza nos dotou, (inteligência e vontade), mas essas faculdades são ainda mais elevadas, são levantadas, se assim me posso exprimir, até ao nível divino, de sorte que os actos dessas virtudes atingem a proporção indispensável para obter o nosso fim sobrenatural. Depois, não é por esforços pessoais que as adquirimos; mas o seu gérmen é deposto em nós com liberalidade por Deus, com a graça de que formam o cortejo: Simul infunduntur." (Jesus Cristo Vida da Alma. Dom Columba Marmion, Livraria Litúrgica Editora (Braga), 1939. pag. 314)
2 comentários:
Autores do blog Ascendens, sugiro que transcrevam mais textos deste livro, são simplesmente maravilhosos.
Saudações de boa Quaresma
SALVE MARIA
Abrigado pela sugestão.
Há alguns anos o blog ASCENDENS foi acusado em certa "ala" de fazer propaganda neo-FSSPX, por outra "ala" de fazer propaganda à Resistência, etc. sem que fosse verdade. Desde então, mais raramente, são feitos artigos onde não fiquem de fora as várias alas. e mostrando o que cada qual defende ou faz num mesmo tema (FSSPX, Resistência, Inóspita Trincheira).
Há alguns anos, o responsável do blog ASCENDENS foi acusado (dos lados da FSSPX) de "demasiadamente empenhado" na promoção espiritual tradicional; quer na promoção de textos, quer na catequização ou oração conjunta do terço diário etc.. Se tudo é feito com descrição levanta-se a acusação de formação de um grupo sigilista, como levantou (dos lados da FSSPX), ganhando este autor o maldoso e fugaz epíteto de "Plínio das Beiras". Quando começaram sessar este tipo de conteúdos o blog foi dado (dos lados da FSSPX) como ímpio.
A situação só pararia se o autor do blog "desaparecesse", ou aceitasse de certa forma integrar ou submeter-se ao poderio da FSSPX; o que não acontece desde Julho de 2010.
Enviar um comentário