15/06/14

CRISTANDADE DEPOIS DE ISABEL DE CASTELA !?

Demovam-se do equívoco aqueles militantes da "hispanidad" que difundem a ideia segundo a qual: depois de D. Isabel de Castela não há mais "cristandade".

"Cristandade" é uma palavra que continuou a ser aplicado depois do séc. XVI, aplicada a situações contemporâneas. Contudo, segundo consta, o conceito de "cristandade" no séc. XIX começa a ser deslocado. É neste século dominado pelas ideias liberais que surge o movimento restaurador da "hispanidad" em salvaguarda da identidade de Espanha (necessariamente católica), contudo o efeito do liberalismo numa Espanha já ocupada não permitiu guardar cada um dos conceitos menos fundamentais para o catolicismo: eis que o conceito de "cristandade" sofreu ligeiro deslocamento! Hoje será muito difícil devolver aos militantes da "hispanidad" a originalidade do conceito "cristiandad", visto que já rios de tinta gastaram para desenhar castelos sobre tão movediço solo. Eis o peso das instituições, eis o peso das manifestações conjuntas, eis o peso das obras publicadas e das famas feitas, coisa que nós, graças a Deus, cá na minha Pátria não teremos nunca de desmoronar para retirar a poeira à verdade arrecadada!

Encontramos "cristandade" e "cristandades" em tantos livros e documentos antes e depois do séc. XVI, todos eles aprovadíssimos pelas autoridades eclesiásticas ou régias, que admira. Assim pergunto-me, se os redactores da "hispanidad" militante estiveram sempre tão longe destes livros!

Trago apenas um exemplo, porque é o mais resumido e paradigmático que conheço: a Historia de La Entrada de La Christiandad en El Japon, y China, y en otras partes de las Indias Orientales: y de los hechos y admirable vida del Apostolico varon de Dios Padre Francisco Xavier de la Compañia de Jesus, y uno de sues primeros Fundadores (Valladolid, 1603) do Padre Horácio Turselino. Veja-se:


Pode dizer o leitor "o livro escreve sobre o que se tinha passado 50 anos antes". Sim, mas a cristandade, ou melhor, as mesmas "crintandades" a que o livro se refere continuaram a existir, e até com mais visibilidade ao tempo em que o livro foi escrito, e depois. Tal como em outros livros do género, e relativos à Índia portuguesa, dizem "cristandades" para apontar as diversas sociedades cristãs nascentes, e o seu desenvolvimento.

Como a Espanha não foi a última resistente ao poderio liberal (liberalismo que gradualmente tomou conta dos Tronos católicos, e foi tomando os Altares), os desenhadores da "hipanidad" retrocederam na história e transferiram a Espanha para as Américas, e nasce assim todo um conjunto de argumentações fantásticas que os leva ao momento dos "descobrimentos" de Colon e à "canonização" da Rainha Isabel de Castela. E de tal maneiras isto lhes agrada que não olham à fragilidade desta construção pueril! Portanto, já que a argumentação não a sujeitam à realidade, têm-se servido da propaganda, da repetição exaustiva, da acusação e calúnia aos outros povos cristãos de grandes feitos, e de todas as meras formas humanas que desde crianças conhecemos!

Há cristandade depois de D. Isabel de Castela!? Claro que sim, claro que houve cristandades várias, e provavelmente o maior exemplo é a criação da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa, que foi extinta por exigência de Príncipe D. Pedro (irmão do Rei D. Miguel I de Portugal). Este Patriarcado, unificou todo o território espiritual cristão-luso, revelando-se o maior entre todos os Patriarcados, e o único que foi instituído pela Santa Igreja depois de tão distante ficar a fundação das primeiras comunidades cristãs. Esta unidade espiritual, cristã, e sob uma mesma coroa, é a mesma que os adeptos da hispanidad almejam mas que nunca tiveram. Lamento dizer...

Mas sim, não em todos os Reinos ao mesmo tempo, as cristandades existiram depois do séc. XVI até ao séc. XIX (com a queda do último Reino católico: monarquia tradicional).

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