03/03/14

PORTUGUESES - "REDENTORES DOS LUGARES SANTOS" (I)


"Na igreja de S. Tiago no mais alto do Monte Sião viu Fr. Pantaleão memórias de Mecia Pimenta, natural de Vila Viçosa, e ali mesmo por essa ocasião se disse uma Missa com um muito rico paramento, que havia dado para o Santo Sepulcro D. João Soares, Bispo de Coimbra. Mandadas pela mesmo português havia obras no monte Olivete. Estando o nosso franciscano no templo de Jerusalém, ao qual D. João III dava 300 cruzados anualmente para o azeite das lâmpadas e para o mesmo fim tinha deixado Jorge da Silva em tempo de D. Sebastião 100 cruzados, vieram ter com ele três moiras, e querendo lhe dar a intender que moravam em terras de cristãos diziam-lhe "Goa, Portugal, Cochim, Portugal, Frangi", querendo com aquelas palavras significar serem daquelas partes da Índia, e que também eram portuguesas. Naquela cidade de Jerusalém havia naquele tempo uns trinta judeus nascidos em Portugal, entre os quais um médico famoso, natural de Évora. (...)

Já passados muitíssimos anos, em 1816, um frade português exclama: "Os caminhos por onde os habitantes de Jerusalém iam às solenidades de Sião estão desertos, porém graças à divina Providência que ainda ali conserva um pequeno resto de fiéis adoradores sustentados pelas esmolas dos cristãos, em cujo número os portugueses ocupam um lugar tão distinto, que ali têm merecido o glorioso nome de "Redentores dos lugares santos!".

O título de Redentores dos Lugares Santos talvez não pareça exagerado, quando lermos o que diz Fr. António do Sacramento, guardião do Convento de Belém na Terra Santa. "Grande é a quantia de dinheiro, que todos os anos vai da cristandade para a Terra Santa de Jerusalém. Só do nosso Portugal vão 40.000 cruzados em dinheiro de contado, além de outras muitas coisas necessárias para o Culto dos lugares santos, que importam em grosso cabedal. Dos mais reinos também são remetidas esmolas muito copiosas, sendo que nenhum, nem todos junto, importam tanto como Portugal e Espanha." (Viagem à Terra Santa, Lisboa, 1718). Diz ainda mais: para a grande despesa, que se fez na igreja de Santa Clara da Nazaré se aplicou uma conducta do nosso Portugal, que constava de 40.000 cruzados, e foi feita pelos anos de 1730.

O tecto moderno do templo do Santíssimo Sepulcro custou mais de 100.000 cruzados, e disseram-me os religiosos e procuradores que fôra a sua redenção,uma conducta de Portugal, que constava de 50.000 cruzados, a qual havia chegado na mesma ocasião da obra.

D. Pedro II confirmou em 25 de janeiro de 1669 um alvará de D. Filipe II, passado no ano de 1605 pelo qual se concediam todos os anos na tesouraria da Casa da Índia 300 cruzados para se conservar acesa uma lãmpada no Santo Sepulcro de Jerusalém. Confirmou também outro alvará antigo, em que se ordenava a todas as câmaras, vilas e lugares deste Reino, seus estados e conquistas, que, tendo elas 400$000 réis de renda, fossem obrigadas a dar de esmola para a Terra Santa 4$000 réis. Confirmou mais outro alvará de 26 de Maio de 1657, pelo qual mandou a todas as justiças deste Reino, que ajudassem a cobrar e cobrassem as esmolas dos santos lugares, e assistissem com todo o favor e ajuda ao comissário geral delas e seus companheiros. Mandou por alvará de 13 de novembro de 1686 que se cobrassem excutivamente as dívidas dos lugares santos na capitania de Pernambuco. Ofereceu aos mesmos lugares santos, para sua veneração e ornato, várias peças de oiro e prata, e vários paramentos, que servem para o culto divino. No ano de 1674 mandou uma lâmpada de prata, cujo feitio importara em réis 378$720. No ano de 1682 enviou um ornamento tão ricamente bordado, que custou mais de 5.000 cruzados. No ano de 1688 remeteu 12 lâmpadas perfeitíssimas de latão, por saber que eram necessárias desta sorte nos lugares santos. No ano de 1691 mandou uma lâmpada sobredoirada, que serve dentro do Santo Sepulcro. E, para que esta, como mais preciosa, estivesse guardada e reservada para as festas principais, mandou juntamente outra de prata para estar sempre com luz no mesmo lugar todos os dias. Juntando as ofertas referidas veio a mandar este piisimo monarca: 23 lâmpadas, 12 de latão e 11 de prata, e além destas e dos ornamentos, mais uma bacia grande de prata, que levava três almudes de água, para servir no Sábado Santo.

D. João V ainda na sua menoridade, sendo Príncipe, mandou no ano de 1695 uma estrela de oiro para o lugar venerável, que primeiro tocou, saindo do ventre materno, o grande Baptista. Em 21 de janeiro de 1715 confirmou amplamente todos os alvarás e provisões dos seus predecessores; assim como o privilégio de se cobrarem as dívidas pertencentes à Terra Santa, da mesma forma executiva, que se cobravam as da sua real fazenda etc. Mandou no ano de 1719 uma custódia de prata sobredoirada para o Santo Presépio de Belém, e para adornar a capela do Santo Sepulcro mandou em 1728 uma riquíssima armação de veludo carmesim lavrado e tecido em fio de oiro com tanta grandeza e preciosidade que fez a régia admiração de todos, que a viram. A sanefa dessa régia armação era de uma só peça, e da mesma matéria e riqueza, mas de diferente lavor, tendo também entre os ramos 23 escudos com as armas de Portugal; e para seu complemento foi mais uma porção do mesmo brocado.

Mandou ElRei fazer tudo isto em Génova, e custou 22.000 cruzados. Como fosse muito abastada aquela armação, dela se pôde tirar um precioso ornamento de pontifical inteiro com os mesmos escudos das armas reais para o Convento de S. Salvador, e não servia senão em Quinta Feira Santa e dia de Páscoa.

D. José confirmou as provisões anteriores em 26 de abril, 25 de maio e 20 de novembro de 1760, 13 de julho de 1762, 23 de maio de 1766, e 6 de outubro de 1769, mandando as somas mencionadas na conta junta.

D. Maria I confirmou as provisões anteriores em 3 de setembro de 1777, 11 de maio de 1778, 12 de fevereiro, e 13 de março de 1781, 22 de fevereiro de 1787, 24 de agosto, e 8 de outubro de 1790, e 13 de outubro de 1800; e além das somas, que mandou, e de outras devidas que fez, enviou a Jerusalém em 1782 uma lâmpada de oiro para o Santo Sepulcro, avaliada em réis 2.600$000.

A pedido do padre comissário geral se expediu a pastoral do Bispo da Guarda, de 8 de abril de 1817, sobre as esmolas para a conservação dos santos lugares.

De particulares temos:
Jorge da Silveira, que passou com ElRei D. Sebastião a África, e lá morreu; deixou 100 cruzados por ano para o azeite das lâmpadas, que ardem assim na Casa Santa, como em Belém.
D. Maria de Oliveira, que deixou 5.000 cruzados para um juro real cujo rendimento se aplicasse e entregasse aos lugares santos de Jerusalém por sua alma; e muitos legados avulsos de Portugal e do Brasil.

Pelo que respeita a esmolas, convém saber que estas foram mandadas para a Terra Santa pelos padres comissários, e por via de Roma até 1668; depois por via de Castela até 1691, e deste ano em diante directamente de Portugal. No ano de 1710 fez-se a primeira remessa com carta de ElRei D. João V para o guardião do sacro Monte Sião, datada de 14 de janeiro.

Mandou pois Portugal para a Santa Casa de Jerusalém, em dinheiro de contado, desde 1660 até 1733:
Esmolas ..............................................................................................................348.406$147
Despesas com o transporte das mesmas esmolas com paramentos sagrados ...........28.402$493
Total ...................................................................................................................376.808$640

Esmolas de 1734 a 1756, a 40.000 cruzados por anos .........................................368.000$000
Despesas com o transporte das mesmas esmolas, a 400.000 réis cada remessa .........9.200$000
Total ....................................................................................................................377.200$000

Esmolas de 1757 a 1796 ......................................................................................560.000$000 (+575.320$000)
Despesas com o transporte das ditas esmolas a 480$000 réis cada remessa ..............15.000$000
Total.....................................................................................................................1.329.328$640

(continuação, II parte)

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