a) "Na Flandres, na cidade da Cambrai, a solene elevação do sagrado corpo de S. Autberto Bispo, e Confessor, feita no ano 1015 o qual por quarenta dias contínuos honrou o céu com copiosíssimo número de milagres. Cujo bem-aventurado transito celebra a 13 de Dezembro, não somente a santa Sé de Braga, a que com a sua assistência, celestial conversação, e doutrina (como Prelado, que foi seu alguns anos) ilustrou, mas também a de Cambrai, a cujo Bispado (per morte de S. Aldeberto) foi promovido; achando os Cónegos, que só ele podia ocupar o lugar, e suprir a falta de tão santo Pastor, na qual dignidade resplandeceu com exemplos de excelentes virtudes, trazendo a Província da Hannonia, e outras circunvizinhas ao conhecimento, e culto do verdadeiro Deus, por cujo (com razão) é chamado Apóstolo daquelas gentes.
[...]
Convento de Corpus Christi |
c) Em Vila-nova [Vila Nova de Gaia] do Porto, no convento de Corpus Christi de Dominicanas, a inevitável partida desta para outra vida, da Madre Ana da Conceição de estremada penitência, pois de tal maneira domava sua carne com aspérrimas disciplinas de sangue, que dele, se recostava sobre uma tábua, envolta na manta, que na aspereza parecia vencer os tojos, e abrolhos, a qual (no dito convento) ainda hoje se mostra por estranha maravilha. Cingia-sede largo, e áspero cilício, jejuava muito frequentemente pão, e água, sendo por muitas vias cruel inimiga de si mesma. E tão lembrada dos sagrados mistérios de nossa redenção, que sua devoção achou meio para conseguir recolhida, o que a clausura (d'outra maneira) lhe não permitira: e assim andava de dia (a seu modo) perpetuamente correndo em casa as estações de Roma, e Jerusalém, gastando a maior parte da noite em contínua, e fervente oração. Com este teor de vida se conservou muitos anos, ficando victoriosa do demónio, que na última hora pretendeu perturbar sua pura, e cândida alma, acusando-a (como foi notório a todo o convento) de culpas da mocidade, e assim foi chamada do Senhor para o descanso perdurável.
[...]
[...]
[...]
f) No mosteiro de S. Francisco de Orgens território de Viseu, a feliz morte de Fr. Diogo de Amarante, varão em todas as virtudes perfeito, muito zeloso da guarda da sua regra, e de notável austeridade na vida, pois por toda ela se absteve de carne, e peixe jejuando continuamente, contentando-se com legumes, e ervas cozidas, trazendo habito remendado, andando sempre descalço, sendo perseverante na frequente oração, e nas mais virtudes: pelo que a vida tão penitente, e regulada com divino beneplácito, não podia faltar plácido fim, como teve; e assim faleceu deixando a seus irmãos eficazes exemplos de santidade, de que se honrar.
Convento de Nossa Senhora do Carmo (Tentugal) |
g) Em Tentugal, Bispado de Coimbra, no cenóbio das Carmelitas, a muito religiosa Maria da Conceição, na qual as virtudes (por divino favor) em grau eminente fizeram firme assistência, como o céu qualificou no caso seguinte: Estando a seu cargo tocar a Matinas, certo dia solene, desta sorte foi vencida do sono (ordenando-o Deus para manifestar os grandes méritos de sua serva) que não acordou, senão pela manhã; mas a divina providência, que das mínimas coisas de seus amigos tem especial cuidado, acudiu a esta falta, tangendo-se com tanta solenidade milagrosamente o sino, que bem mostrava ser mais, que humano, o instrumento, que o movia. Como caso novo repararam nele não somente as religiosas, e domésticas do convento, mas até os vizinhos. Investigada, e conhecida a causa, recresceu a Sór Maria maior opinião de virtude; com ela se conservou muitos anos, e sendo actualmente Prelada cheia de boas obras, e copiosos merecimentos partiu deste desterro para a pátria celestial. (Escrevemos de Sór Maria da Concepção, natural de Coimbra, pelas singulares virtudes com que resplandeceu no convento de Tentugal, onde repousou em paz no ano de 1605. Assim o refere o P. Mertola - incansável esquadrinhador das antiguidades de sua Ordem - nos m. f. que inuiou a Roma, e Castela para as Crónicas gerais.)
h) No Japão, na cidade de Fingo, alcançou neste dia ser feito vítima de Cristo Tomé, infatigável obreiro daquela Cristandade, que depois de recebido o sagrado Baptismo, foi sempre fiel, e inseparável companheiro dos Padres Jesuítas na conversão dos gentios, por cuja causa havia já padecido desterro. Restituído à sua pátria, ateando-se de novo à perseguição contra os fiéis, e estando, como dois formados esquadrões (entre si contrários) de uma parte o inferno, e seus sequazes os idolatras, da outra Cristo, e seus Anjos para esforçar os Cristãos; havendo eles padecido terríveis combates de priões, cárceres, desterros, e tormentos, o que tudo valorosamente haviam sofrido com socorro de tal Capitão. Destes coube tão venturosa sorte a Tomé, que depois de preso, e mostrando admirável constância, com que desenganava não poder ser vencido, excitou a embravecida fúria do tirano, que levando da catana de um golpe lhe cortou a cabeça, ostentando-se nele a Cristã generosidade dos antigos Mártires da Igreja Católica. (De Tomé, que padeceu no ano 1630 - imperando Texogunsáma - escreve o Pe. Matias de Sousa no Compêndio da Cristandade do Japão do próprio ano pag. 26 e o Pe. Cardim no Catal. pag. 58. Dos onzeMártires, que padeceram no meio ano escrevem também os ditos Padres; aquele pag. 38 onde diz que se chamava o último: Anagana Zaemon; este pag. 58 por estas palavras: Toxunguni à cubículo, serra ipsi per jugulum toto triduo reciptocata sublatus. Que é o penoso martírio da Serra, que referimos no texto.)
[...]
[...]
Sem comentários:
Enviar um comentário