14/10/12

UM LIBERAL EM PARIS...

O liberalíssimo Marquês da Fronteira, José Mascarenhas Barreto, dá-nos conta da vida em Paris (onde os liberais se sentiam muito a gosto). Fica patente que os liberais provenientes dos Reinos que ainda tinha a monarquia tradicional mantinham alguma ligação ao  bons-costumes católicos e preceitos. Veja-se a difusão da superficialidade nas sociedades onde a Igreja e a verdadeira monarquia foi calada:

"Durante a Quaresma não havia bailes naquela época, em França, mas sim grandes concertos. Assistimos a alguns, tanto nas Embaixadas como nos palácios dos Ministros de Estado e em salas públicas, dirigidos pelo maestro Rossini, os quais muito admirámos pela sua excelente execução e pelos grandes talentos que ouvimos. Fizemos conhecimento com a famosa Catalani, que ainda cantava e era admirada; a sua longa estada em Portugal tinha feito com que ela falasse português, como nós,e conhecesse todos os nossos parentes.

O culto em França ainda se ressentia da Grande Revolução que, contudo, tinha acabado. As igrejas, na Semana Santa, estavam desertas e o culto nada era em comparação do que tínhamos visto em Portugal.

Havia um costume antigo, que era, na quinta e sexta feira e nos últimos dois da Semana Santa, ir visitar a igreja de Longchamp no Bois de Boulogne. A igreja tinha desaparecido pela Revolução Francesa, mas os elegantes iam, nesses dias, nas suas mais belas equipagens fazer a volta do bosque, e era então que se dava a moda para as equipagens, librés e toilett das senhoras.

A falta de culto na Semana Santa era muito sensível para um português de certa educação, e com saudade me lembrava da pátria naqueles momentos. Não sou eu que o digo, mas sim o meu amigo, o nosso famoso poeta Garrett, que, narrando o Natal de Londres, mostra as saudades que tem da nossa missa do galo". (III parte das Memórias do Marquês de Fronteira e d'Alorna)

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