Administrar fielmente a Fazenda Real! Ora eu já deu uma coça nos Judas, mas como foi de papel, não prestou: é necessário que lhes aconteça como ao de quem fala hoje a Igreja "Suspensus crepuit medius" enforça-los, e rebentá-los. Mas quem são esses Judas? é pergunta, que há pouco me fizeram de Lisboa. Eu não estou em circunstâncias de responder "Qui intingit manum in paropside".... Todo o que siza da Fazenda Real, ou que faz para sua culpa que ela não medre, é Judas; e o que mais culpas tiver a este respeito, é o Judas maior. Mas não faltam Teólogos, Padres, e Frades, que persuadam a esses Judas que não ofendem a Deus, por muito que menoscabem a Fazenda delRei, que é o Ungido de Deus! Teólogos, Padres, e Frades dos Judas, que nas suas decisões, respostas, e na mesma administração dos Santos Sacramentos não seguem a tradição, seguem somente a razão, especialmente se esta fôr dourada, ou argumentada, ou mesmo açucarada, ou engarrafada, ou emantilhada. Pois também a razão sem tradição nos Padres Mestres! Também as trevas nesses Reverendos Provinciais, Secretários, Definidores, e mais Camerários Religiosos? Também nos Conventos não há luz?
Tocam as tabuletas: agora sim, agora são as mesmas trevas em pessoa: espreito os Conventos; também lá, também lá! As mesmas Freiras dos... apagarão a luz, então em trevas! Não haverão remédios? Sim: logo que cesse a matraca, se ela for bem ouvida, a luz aparecerá. O malhadismo, ou as trevas têm aparecido, e vão aparecendo por toda a parte, até mesmo onde a luz parecia inextinguível; o espírito de Satanás pôde já introduzir-se nas Eleições dos Regulares, para ali se encabeçar o erro, e o vício. Uma Abadessa Malhada! Que lições de inocência poderá dar às suas Religiosas? As suas subalternas, e adjacentes não serão também da escolha da mesma Abadessa? Não franquearam elas as portas à devassidão, e à licença? Não serão consentidas comunicações escandalosas, tratos vergonhosos? E se ainda alguma Religiosa, a quem Deus queira reservar para si, levantar a sua voz em defesa das tradições do seu Convento, não será ela abafada pela gritaria das outras, que não querem seguir mais que a sua razão, estando a sua razão somente na libertinagem? Desgraçadas as Religiosas, que vivem debaixo do Abadessado Malhado, ou das trevas, que vale o mesmo!!! Quanto a mim, a haver de sofrer um dos males, quereria antes ser governado por Malhados, que por Malhadas, porque uma Malhada é um vórtice de inconsequências, e de maldades; roda, que não para, nem há prégo, que a sujeite, enquanto não der cabo de tudo o que encontra. As Religiosas porém, que buscam remédios aos seus achaques de espírito, achá-los-hão na oração, e no sofrimento; sem embargo de que não contradiz à humildade uma súplica em termos ao Bispo, ou Governador do Bispado, se ele quiser atender às Esposas de Jesus Cristo. Mas basta de remédios de Freiras; porque não nasci eu para dissipar as trevas dos Conventos, nem para lhes tirar as suas malhas!
Igreja dos Clérigos erguida em 1732 no Porto, símbolo da generosidade portuguesa para com os Clérigos mais necessitados. |
As trevas estarão também nos Religiosos? Como? Empunhando o Ceptro algum dos Súcios, e afilhados de José da Silva Carvalho! Tocará logo a matraca sobre os bons Religiosos! Licença à depravação, soltura às paixões, desenfreio à mocidade! Lá irá até a Ordem de S. Francisco, se Deus lhe não permitisse uma duração igual à do Mundo! Pedreiros, Constitucionais, Malhados, também nas Igrejas, nos Conventos, e empolgando os maiores Empregos!.. De certo é entregar aos inimigos da Igreja o Património da mesma Igreja! Logo que eu vejo ocupando lugar numa Congregação de Regulares algum Padre de pouca idade, de menos merecimentos, mas de muita presunção, e que já aspira a uma Mitra!!... Estou para dizer Adeus às Corporações Religiosas, se não tivesse em Deus uma esperança viva, de que não há de permitir que as trevas ocupem para sempre toda a terra! Continuam as trevas. Onde? Em uma grande Sé de Portugal! Como? Ora apalpem lá como puderem, porque isto não o vê quem deve; mas eu lho digo. Um Clérigo de mau nome em toda a extensão da palavra desde os pés até à cabeça, desde o seu nascimento até à sua elevação, procura em toda a Diocese assinaturas do Clero, Nobreza, e Povo, para que ElRei Nosso Senhor o eleja para Bispo, ou Arcebispo, ou o quer que é, que a língua não quer chegar!!! As trevas continuam, mas a Epigrafe não. Apaga-se a luz: se os Portugueses querem ver, e ouvir o que lhes convém, sigam todos os costumes, que seus Ascendentes praticavam no ano de 1732, e haverá então Justiça, e Religião; haverá Paz, e Prosperidade; haverá Rei, e Vassalos; todas as coisas estarão no seu lugar, e eu no que me cumpre, que é o da morte, para não ver tantas, e tantas coisas, que parecem inventadas pelo diabo, para não haver coisa boa. [demova-se aquele que amaldiçoa o séc. XVIII sem discriminar Reinos]
Rebordosa 18 de Abril de 1832.
Fr. Alvito Buela Pereira de Miranda
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