14/02/17

HARMONIA POLÍTICA DOS DOCUMENTOS DIVINOS (IX)

(continuação da VIII parte)
 
SENHOR
 
Maior dano faz ao Príncipe o Ministro que lhe persuade faltar à palavra, ainda em matéria leve, que o inimigo que lhe destruísse um exército, posto que grande; pois este não lhe tira os meios de se refazer; aquele sim, privando o da única joia que pudera empenhar. O que eterniza os Impérios, é cumprir as promessas (Q. Curt. lib. 8 de gest. Alex. Fides stabile, et aeternum facit imperium): o que faz os homens semelhantes a Deus, é tratar Verdade (Pythag. apud Stob. serm. II Interrogatus quid Deo símiles saceret homines; cum veritatem exercent, respondit), o que acredita a vista do entendimento, é sofrer sua luz (Stob. ferm. 2 de imprud. Ut solare lumen imbecillus et impotens visus aspicere nequit, ita veritatem, idque multo magis, infirma nens et invalida conspectare non potest): ou em que se sente que cura, é em amargar (St. Aug. ad Christ. Veritas dulcis est et amara, quando dulcis est, parcit; et quando amara, curat); assim como se devem tomar as medicinas amargosas, se devem evitar os venenos suaves (St. Aug. de doct. Christ. Sicut sumenda sunt amara salubria, ita sempre vitanda ext perniciosa dulcedo); com particular cuidado o da adulação (mal perpétuo dos Reis), porque ainda que sirva de mostrar qual se deve ser (Ex. Eras. Apoph. Prodest enim in boc ut homo prospicias, qualis esse debeat), e ainda que seja de prudente não se persuadir dela, seria de pedra não sentir seu abalo (Ex eodem. Lapidis est non sentire discrímen inter Laudante et vituperantem, sed Philosophi est, non ita commoveri, ut ab honesto recedat), que combate (Ex. lib. 20 lect. antiq. Cel Rhodig. Habere enim hoc in se naturale blanditias, ut cum rejiciantur etiam placeant, sapeque exclusas novissime recipi; remedium tanti mali est nole landari), e os Príncipes folgam de ser enganados. Conhecem-se os aduladores em sempre aplaudir; e os verdadeiros em algumas vezes reprovar (Girolamo Fracheta. nel Seminario di governi c.28 n.2) (que o melhor Príncipe como homem há de cometer erros); e para ouvir sempre Verdades, é único remédio premiar quem as falar, posto que pareçam ásperas, como faziam o Senhor Rei D. João II (Resende Chron. de D. João 2 c. João de Barros dec. 3 lib.7 c.7); pelo contrário diz a Política do Espírito Santo (Proverb. 29 n.12 Princips qui libenter audit verba mendicii, omnes Ministros babet impios). O Príncipe que de boa vontade ouve palavras mentirosas, todos os Ministros têm ímpios.
 
 
(a continuar)

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