(continuação da I parte)
2 - Depois do monumental testemunho do Censor e Orador Régio Pe. José Agostinho de Macedo, escutemos o A Aurora Fluminense, 23 de Janeiro de 1829, nº 145, para comparar as ideias e o estilo:
"Depois de haver discorrido sobre o Infante, e seu regime diz [transcrevendo o republicano e francês Courrier Français]: "O poder sacerdotal se colocou entre os governos, e D. Miguel: D. Miguel é um monstro, mas observa as práticas exteriores do Cristianismo; revoltou-se contra seu Pai, mas obedecia o seu confessor; atraiçoou seu irmão, e o monarca, que o havia acolhido, mas ofereceu candeeiros de prata a não sei, que Imagem célebre na Áustria; enganou os seus súbditos por um juramento derrizorio, mas ia de ajuste com um Bispo; banha-se sem sangue, mas protege os frades; mata os vassalos para lhes confiscar os bens, mas dota os conventos. É portanto o Rei modelo; o Príncipe piedoso, segundo o partido apostólico; o eleito das Sacristias; o ídolo dos beatos. Houve Te Deum pela sua subida ao trono, há bênçãos para cada um dos seus crimes: o reinado de D. Miguel é a Utopia do partido Padre-Realista."" [É esta a imagem horrenda que se fez circular no Brasil (o qual preferiu encontrar na França revoltosa de então o modelo e nova raiz). O tradicionalismo da época, se assim lhe podemos chamar, estava por D. Miguel quem não deixou derramar a nossa Monarquia; aos liberais isto cheirou a "sacristia" e "servilismo".]
3 - Continuando no mesmo número do A Aurora Fluminense:
- "Infeliz Reino [Portugal], tu e a Espanha são, como disse um profundo Político Francês [eu avisei...], vivos documentos do que traz consigo o regime absoluto! Todo o horror, que os Brasileiros têm ao Absolutismo, é ainda pouco; é mister que os nossos Compatriotas aprendam a amar a Liberdade, e a Constituição, tanto, como a própria existência; a serem de uma inabalável firmeza às ameaças e seduções do Despotismo." (pág. 619) [Ora cá está...ter que aprender a odiar o próprio passado, os seus antepassados, raiz, somente tolerar os antigos Reis e Príncipes"opressores" e "esclavagistas"... não vá a opressão seduzir os brasileiros, dizem!!! Esta manha, esta facada tão funda nas raízes, este ardil difamatório, esta forma baixa de enganar os brasileiros revolta ouvi-la hoje, séculos depois! Pobre Brasil, levado, seduzido pelas falsas liberdades a custo de difamação e vã esperança! Um falso Brasil a ocupar o verdadeiro, um outro! Escutemos o que segue... insólito...]
- "... um princípio comum produziu na mesma época os mesmos efeitos por essa vastidão do Brasil; este princípio é, como dissemos, o amor da Liberdade, natural nos Brasileiros (embora o Jornal do Comércio nos chame aduladores do Povo) e a educação começada do regime Constitucional, que vai melhorando sensivelmente o carácter da população, aperfeiçoando as ideias confusas de amor de Pátria, e de direitos cívicos que a pressão do absolutismo, e ao depois os choques da anarquia, tinham viciado, ou mesmo feito esquecer." (pág. 741) [É de voltar a ler a anterior e tornar a esta, como se de um único texto se tratasse... Já que tivemos que permitir a fasquia da seriedade, que tal uma ironia? Cá vai: Hoje o Brasil sentiu a necessidade de se debater pelo debate da "escola sem ideologia"...!!!]
- "Se há esse espírito, atribua-se a culpa aos que governam (se não todos, uma grande parte) que parecem querer minar surdamente o Edifício Constitucional, e excitam suspeitas no Povo, que não quer perder as suas caras Liberdade. Trabalham em vão, porque o absolutismo é planta, que não vinga no nosso solo;" (pág. 767)
- "Diz B. P. que se deve ter mais cautela com o Republicanismo do que com o Despotismo; porque o salto dos nosso sistema para o do Republicanismo é mais breve, mais fácil, e separado apenas por um caminho, que os seus adoradores costumam semear de flores." [Não tinham descoberto que a "monarquia" constitucional, ou liberal, foi a forma de acabar com a monarquia existente!? Nos Reinos mais "absolutos" e menos danificados pela propaganda revolucionária, quem teria aguentado a imposição de uma república!? Veja-se como os próprios liberais sabem do pequeno paço que os separa do Republicanismo. Mas... depois destas palavras escritas, é de ler a continuação na frase seguinte escrita pelo mesmo jornalista, que tinha dito que a planta do absolutismo nunca poderia vingar no Brasil, porque o Povo não deixa... escutemos:] "Não sabemos se isto é exacto; porém é indubitável, que o salto dos nossos costumes, usos, hábitos, etc. é muito mais breve para o absolutismo, de cujos terros saímos há poucos anos;" [ora cá está quem se apanha mais rápido que um cocho.... arre liberais!!!] (pág. 808)
- "Apesar do que diz a Abelha, nós cremos que os Japoneses não aspiram por agora ao absolutismo puro; porém sim a tornar nulas na prática as Instituições liberais, tolhendo o livre exercício dos direitos cívicos, e fazendo conceber ao Povo falsas ideias contra os que defendem os seus foros e liberdades." (pág. 846) [Tanto receio que estes liberais têm dos "oprimidos" tentarem restaurar a "opressão" sobre si mesmos!!!... De seguida veremos como o uso da palavra "absolutismo" era panaceia contra tudo o que não fosse da sua linha e regime, qualquer um, como até a República.... Para os liberais brasileiros havia que meter medo com o "absolutismo"... eis o único "argumento" da sua incansável e medrosa campanha.]
- "O. Sr. Holanda Cavalcante disse que os absolutistas de hoje eram os mesmos [os próprios] republicanos, descontentes por não haverem saído Deputados." (Pág. 856) [vemos também como NUNCA é refutado ou criticado algum argumento da oposição e se lhe inventam infantis fundamentos.]
- "; que não houvesse o menor temor de absolutismo, pois o Governo conhecia mui bem seus próprios interesses; que estava certo da impossibilidade de plantar-se no Brasil o Despotismo, até pelo progressivo aumento das luzes do século;" (pág. 899) [Ao contrário do que se dizia, afirmam os de agora que os "absolutistas" eram inspirados pelo iluminismo; na verdade o liberalismo, o iluminismo e a maçonaria, estes sim, sem dúvida alguma são farinha do mesmo saco; tal os documentos da época PROVAM. Os maiores vultos da língua portuguesa insurgidos contra o iluminismo e maçonaria, no início do séc. XIX escreveram, aceitando a alcunha de "absolutistas" e indo contra o Constitucionalismo e Liberalismo. Do lado dos liberais, nesta altura, nem um cálamo houve que ousasse ir contra a maçonaria e iluminismo! A maçonaria que então se espalhou rapidamente por todo o Brasil, ela sim é difusora das "luzes" contra a "opressão absolutista"... (são factos registados na documentação da época)! Aqui está... não de outra forma... está escrito abundantemente, fontes, independentemente da vontade e habilidade dos autores posteriores. O Marquês de Pombal foi o delírio da maçonaria: anti jesuítico, anti inquisitório, importador e cultor das "luzes"]
- "A Espanha e Portugal (disse Depradt) à maneira desses condenados, que se penduram nos caminhos, para correcção, e exemplo dos facinorosos, mostraram hoje à Europa e ao Mundo o que é o regime, que por irrisão intitulam "paternal" [trata-se da restituição da monarquia segundo o tempo anterior às revoluções liberais e republicanas, que foram eclodindo por todo o lado]. Não acumulamos declamações vãs: os factos estão diante dos olhos; e os extracto de um Jornal de D. Miguel não podem ser suspeitos. O Correio do Porto [que na verdade era jornal liberal, não de D. Miguel, sim contra D. Miguel] refere miudamente as últimas execuções, de que a segunda Cidade do Reino foi testemunha, e lhe ajunta reflexões tais, de tão atroz hipocrisia que recusámos copiá-las [os autores liberais fizeram questão de passar esta notícia como verdadeira, mas tudo indica que não o é]. Ali são elevadas às nuvens as virtudes do Rei carrasco [nem os liberais escondem que ao Rei D. Miguel os portugueses louvavam as virtudes e os feitos de bom católico]; a sua piedade, e clemência são oferecidas como modelo aos Príncipes, e a memória das vítimas infelizes é insultada com uma frieza, digna de um Sectário do absolutismo ["sectário" porque nesta altura em que o mundo Cristão estava já ocupado por falsas monarquias (sistemas liberais) aqueles que resistiam à gigante onda liberal e republicana eram minoria no mundo, da qual foi última por inteiro Portugal - os liberais tomaram o seu sistema como a regra, eles que na verdade eram a "seita"... Faz-me lembrar o caso de Mons. Marcel Lefebvre que por manter fidelidade ao que estava antes do concílio, e ser já parte da minoria, passou logo a ser apontado como sectário - absurdos!]. Pareceu-nos ver o hediondo Algoz esbofeteando aqueles mesmos, que acaba de decapitar [veja-se o tipo de honestidade jornalística que até se socorre a um "parece-nos" tão fantasioso na falta de realidades que sustentem o seu intento] . Os destinos do triste Portugal reclamam lágrimas ainda dos corações indiferentes [a necessidade de mostrar Portugal de forma negativa, quando era ele o herói entre os Reinos Católicos na resistência ao Liberalismo e invasões napoleónicas.... E que brasileiros tão distantes geograficamente poderiam vir confirmar ou desmentir estas calúnias naquela época!?]; e também reclamam sisuda reflexão: tal é a sorte, que espera a todos aquele povo, que perder as suas liberdades; que por sua negligência deixar que os absolutistas derrubem as Instituições preciosas, que afiançam os direitos individuais, e políticos, e que formam barreiras contra a opressão [fica claro, não estarmos perante a "liberdade" e o "direito" segundo a nossa Civilização cristã e sim perante conceitos cozinhados, promovidos pelo eixo iluminismo-liberalismo - veja-se ainda que verdadeiramente os liberais não reconheciam o colectivo de leis régias, o costume, a moral, a lei natural, a Lei divina, a Doutrina, como autoridade segura, mais que decorativa]. De um lado a anarquia da canalha; do outro a vara de ferro dos privilegiados: os homens bons, porém moles, que não defenderam com todo o esforço os seus direitos; derramam ao depois lágrimas inúteis sobre uma pátria escravizada... Não; o Brasil nunca há de dobrar-se ao jugo do poder absoluto [eis finalmente o receio sobre o qual a campanha difamatória está montada]; debalde lho agoiram vis satélites da escravidão [já cá faltava esta...]. Um Príncipe, amigo do povo [D. Pedro I, no Brasil, pois claro!!!]; afeiçoado às ideias generosas do Século nos é segura garantia; não temos em redor de nós a Aliança de vinte Déspostas, que não sofressem que a liberdade respire em qualquer ponto do Continente Europeu. Os privilégios [referindo-se à Nobreza], e a fradaria [assim tratavam ao Clero maioritário que era ainda pela Tradição] não imprimem o pé maldito sobre o nosso solo: os Brasileiros, ou aqui nascidos, ou ligados ao país por laços de interesse, de confraternidade, e de sangue, amam a ordem constitucional, e meditam sobre os males da antiga Mãe Pátria, para os removerem do solo que habitam, ou que os viu nascer. - Viva a Constituição!!! (942 pág) [Está tudo muito claro!]
- "Mas o que há de pior são as suspeitas e temores de absolutismo, que com pouco ou muito fundamento se estão derramando de uma maneira, que aflige os amigos da Constituição e da Monarquia". (pág. 945)
- "O Pharol Paulista refere que circulavam na Cidade e Província de S. Paulo boatos de absolutismo, dizendo-se que se proclamaria do dia 12 de Outubro. O digno Redactor do Pharol se esforça para mostrar quanto é absurdo semelhante rumor, que só pode ter origem nos sonhos, e desejos de alguns malintencionados e farropilhas de todas as classes, que esperam fazer fortuna no meio da anarquia". (pág. 986) [a superficialidade é uma constante na propaganda liberal, raramente apoiada em queixas reais e mais na caricatura: pelo facto dos opositores lhes resistirem às ideologias, entre elas o constitucionalismo, NOVA base de ordem social liberal, difamavam-nos de "anarcas"... como se anarquia tivesse sido característica da "repressiva" Monarquia anterior.]
- "Tem-se-nos escrito diferentes correspondências, relativas a alguns dos agraciados, habitantes nas províncias, expondo que são homens conhecidos, por se haverem oposto com todas as suas forças à nossa independência política, ou por trabalharem abertamente em favor do absolutismo. Não lhes demos publicidade, por que são pessoas, que ninguém aqui conhece." (pág. 1083) [... retiremos das duas transcrições anteriores duas palavras de queixa: "despotismo", "anarquia"! Basta dizer que não se conhece o articulista, para impedi-lo de ter de expor em jornal os erros liberais e as doutrinas tradicionais... Está tudo dito...]
- Rio de Janeiro "A Opinião Constitucional é agora mais firme no Rio de Janeiro do que nunca: temos visto muitas pessoas, em quem os prejuízos haviam deixado profundas impressões, mudarem de pensar, converterem-se sinceramente para a causa liberal, e virem engrossar as fileiras dos amigos da Constituição Monárquica-Representativa [clara indicação de que no Rio de Janeiro havia resistência às hostes liberais - muita atenção à designação "Constituição Monárquica-Representativa"]. Debalde se procura alienar gente desse esquadrão sagrado, despregando contra eles a bandeira da perseguição dissimulada, ou manifesta [como havia força para fazer perseguição se o poder "absolutista" tinha caído!?... é notável que, apesar dos liberais terem imposto o seu novo regime, a resistência tinha permanecido entre a população; eis o motivo da incansável propaganda liberal nada fundamentada, muito emotiva principalmente depois da própria vitória]; debalde lhes apresentam diante dos olhos o exemplo das recompensas, que são a partilha dos que pensam, ou se conduzem em sentido contrário, dos que suspiram pelo regresso do absolutismo, e fazem garbo disso. A causa da liberdade e da razão é muito bela [honestamente, sem razão, com emoção, com falso conceito de "liberdade", com desprezo pelos critérios maiores como o são o "dever" e a "legitimidade"], para deixar de ganhar a si numerosos afeiçoados, logo que pode ser conhecida, tal qual é". (pág. 1091) [este "tal e qual é" deve ser entendido "tal e qual o liberalismo a difundiu", tanto que é até esta a palavra que dá nome ao liberalismo]
- "Que se desmascarem os traidores! Conheça o Brasil aqueles, que vivendo ou tendo nascido no seu seio, lhe preparam ferros, e os mesmos dias abomináveis, que Portugal, Nápoles, e a Espanha têm presenciado. O que havia de mais instruído, de mais ilustre, de melhor nos dois reinos da península Hispânica, discorrem, sem pátria pelo Universo, perecem de miséria, acabam a vida nas prisões, ou sobre o cadafalso. Depois que as suas Constituições foram derribadas, ainda não houve para esses países um momento de repouso, as conspirações, as sedições se sucedem; os Reis mesmos não têm se não um fantasma de autoridade, que as Juntas Apostólicas efectivamente exercitam. Que se desmascarem os traidores! O Brasil deve conhecê-los; e não é justo que um Povo, que ama as suas liberdades, veja nos mais elevados empregos os declarados sectários do absolutismo acobertarem-se com uma simulada neutralidade, enquanto nos seus discursos não respiram mais do que ódio à Constituição, desprezo pelas suas máximas, rancor a todos quantos a estimam e estão prontos a dar a vida por ela". (pág. 1088) [Traidores? Os liberais propunham um sistema próprio, diferente, contra aqueles a quem chamavam traidores, estes "traidores" quais não faziam mais que proteger o que até então tinha havido (hoje, os semi-liberais querem fazer crer que estes "traidores" tinham teses próprias inovadoras, nascidas no iluminismo; mas, ao vermos a documentação histórica confirmamos algo bem diferente: estes sempre manifestaram interesse em defender o que sempre tinha havido, e nunca propuseram um sistema novo, sempre quiseram proteger o que era de tradição e pureza da Fé, condenaram a maçonaria, condenaram o liberalismo, condenaram o iluminismo mas defenderam a autoridade do Rei contra as propostas fragmentárias do liberalismo - eis o único motivo pelo qual os revoltosos os chamaram de "absolutistas")! Veja-se também o cenário emotivo, a chantagem, a apresentação que o articulista faz dos "ferros" da escravatura, quando, como sabemos pela história anterior e posterior, foi o liberalismo quem praticou a escravatura no sentido menos católico da palavra. E os factos? Que factos são esses apresentados pelo articulista? Pelas fontes incontestáveis, sabemos que, pelo menos no que respeita a Portugal, os "factos" apresentados não passaram de propaganda liberal, como já se tinha feito na revolução em França, e como se viera a fazer curiosamente na revolução marxista (o fenómeno é semelhante)..., eis o pequeno vício da formação das "lendas negras", que não é mais que a calúnia social para assentar em jornal e em livro!]
- "É finalmente um monstro, digno de erguer o grito do absolutismo, e de estar à frente do partido, que suspira pelos ferros da escravidão." (pág. 1197) [como temos visto, os liberais tentavam apresentar à população um motivo credível pelo qual os "absolutistas" lutassem pelo "absolutismo" e que seria o motivo de quererem recompensas e cargos, ou porque eram liberais descontentes por não lhes terem dado os cargos e benesses almejadas; mas isto é dito depois da vitória liberal e sem sequer referirem ALGUM DOS ARGUMENTOS dos "absolutistas". Não há sequer tentativas de refutação, portanto, tudo dos liberais fica mais pela propaganda e encobrimento do ideário "absolutista" grande inimigo da maçonaria (e amigo do Clero e da pureza da Fé - por isso também chamados de "partido apostólico", "frades", etc.). A muitos leitores, que até agora tenham acompanhado, isto fará alguma confusão porque receberam a história por via dos vencedores, a qual, por mais católica que hoje se diga ser, bebeu já a informação predominante naquela época. O texto do artigo refere-se a Joaquim Pinto Madeira, militar condenado à força pelos liberais]
Embora nos restasse uma significativa quantidade de páginas do Aurora Fluminense, as referências ao "absolutismo" que faltam ver estão já metidas naquilo que foram as tentativas do Crato (Brasil): o restauro da Monarquia tradicional do Brasil, por ocasião da abdicação de D. Pedro I; agora não nos interessa continuar a seguir por aqui o uso da palavra "absolutismo".
Haverá talvez jornais brasileiros melhor exemplo que o Aurora Fluminense, e se houver tempo é de ir a eles, noutra ocasião.
Nas suas campanhas os liberais apresentaram como "anarquia", "arbitrário" e "despotismo" a oposição à criação de uma Constituição. Tinham em seu programa que só a defesa da criação de uma Constituição, ou da permanência dela, teria direito a ser interpretada como "querer lei"; eis um dos absurdos da ala liberal: na prática negavam de toda a lei anterior por estar ela fora de uma Constituição (segundo o conceito liberal-republicano), e demitindo toda a autoridade que não fosse democrática, ou quase. Ora, os "absolutistas" nunca em seus escritos se insurgiram contra a existência de lei, facto que deveria ter sido honestamente assumido pela propaganda liberal, mas sim contra a criação de uma Constituição segundo o conceito liberal-republicano. Um dos mais ilustrados "absolutistas" portugueses, o Pe. José Agostinho de Macedo chegou inicialmente a apoiar a criação de uma Constituição até se aperceber de que espécie de coisa se tratava realmente. Não defendeu nunca a não existência de leis, pelo contrário: defendeu que a verdadeira constituição de Portugal está no conjunto de leis e costumes do Reino, segundo a Lei de Deus e da Igreja etc... Tal como este, também todos os portugueses "absolutistas" que escreveram na época defenderam o mesmo, e os posteriores grupos que se quiseram chamar de "tradicionalistas" a si mesmos disseram ter naqueles ilustres primeiros pais os seus Mestres. Sem dúvida alguma, a experiência espanhola foi diferente e grande em números, se bem que qualitativamente seria Portugal a ter de ajudá-la!
(a continuar)
- "Mas o que há de pior são as suspeitas e temores de absolutismo, que com pouco ou muito fundamento se estão derramando de uma maneira, que aflige os amigos da Constituição e da Monarquia". (pág. 945)
- "O Pharol Paulista refere que circulavam na Cidade e Província de S. Paulo boatos de absolutismo, dizendo-se que se proclamaria do dia 12 de Outubro. O digno Redactor do Pharol se esforça para mostrar quanto é absurdo semelhante rumor, que só pode ter origem nos sonhos, e desejos de alguns malintencionados e farropilhas de todas as classes, que esperam fazer fortuna no meio da anarquia". (pág. 986) [a superficialidade é uma constante na propaganda liberal, raramente apoiada em queixas reais e mais na caricatura: pelo facto dos opositores lhes resistirem às ideologias, entre elas o constitucionalismo, NOVA base de ordem social liberal, difamavam-nos de "anarcas"... como se anarquia tivesse sido característica da "repressiva" Monarquia anterior.]
- "Tem-se-nos escrito diferentes correspondências, relativas a alguns dos agraciados, habitantes nas províncias, expondo que são homens conhecidos, por se haverem oposto com todas as suas forças à nossa independência política, ou por trabalharem abertamente em favor do absolutismo. Não lhes demos publicidade, por que são pessoas, que ninguém aqui conhece." (pág. 1083) [... retiremos das duas transcrições anteriores duas palavras de queixa: "despotismo", "anarquia"! Basta dizer que não se conhece o articulista, para impedi-lo de ter de expor em jornal os erros liberais e as doutrinas tradicionais... Está tudo dito...]
- Rio de Janeiro "A Opinião Constitucional é agora mais firme no Rio de Janeiro do que nunca: temos visto muitas pessoas, em quem os prejuízos haviam deixado profundas impressões, mudarem de pensar, converterem-se sinceramente para a causa liberal, e virem engrossar as fileiras dos amigos da Constituição Monárquica-Representativa [clara indicação de que no Rio de Janeiro havia resistência às hostes liberais - muita atenção à designação "Constituição Monárquica-Representativa"]. Debalde se procura alienar gente desse esquadrão sagrado, despregando contra eles a bandeira da perseguição dissimulada, ou manifesta [como havia força para fazer perseguição se o poder "absolutista" tinha caído!?... é notável que, apesar dos liberais terem imposto o seu novo regime, a resistência tinha permanecido entre a população; eis o motivo da incansável propaganda liberal nada fundamentada, muito emotiva principalmente depois da própria vitória]; debalde lhes apresentam diante dos olhos o exemplo das recompensas, que são a partilha dos que pensam, ou se conduzem em sentido contrário, dos que suspiram pelo regresso do absolutismo, e fazem garbo disso. A causa da liberdade e da razão é muito bela [honestamente, sem razão, com emoção, com falso conceito de "liberdade", com desprezo pelos critérios maiores como o são o "dever" e a "legitimidade"], para deixar de ganhar a si numerosos afeiçoados, logo que pode ser conhecida, tal qual é". (pág. 1091) [este "tal e qual é" deve ser entendido "tal e qual o liberalismo a difundiu", tanto que é até esta a palavra que dá nome ao liberalismo]
- "Que se desmascarem os traidores! Conheça o Brasil aqueles, que vivendo ou tendo nascido no seu seio, lhe preparam ferros, e os mesmos dias abomináveis, que Portugal, Nápoles, e a Espanha têm presenciado. O que havia de mais instruído, de mais ilustre, de melhor nos dois reinos da península Hispânica, discorrem, sem pátria pelo Universo, perecem de miséria, acabam a vida nas prisões, ou sobre o cadafalso. Depois que as suas Constituições foram derribadas, ainda não houve para esses países um momento de repouso, as conspirações, as sedições se sucedem; os Reis mesmos não têm se não um fantasma de autoridade, que as Juntas Apostólicas efectivamente exercitam. Que se desmascarem os traidores! O Brasil deve conhecê-los; e não é justo que um Povo, que ama as suas liberdades, veja nos mais elevados empregos os declarados sectários do absolutismo acobertarem-se com uma simulada neutralidade, enquanto nos seus discursos não respiram mais do que ódio à Constituição, desprezo pelas suas máximas, rancor a todos quantos a estimam e estão prontos a dar a vida por ela". (pág. 1088) [Traidores? Os liberais propunham um sistema próprio, diferente, contra aqueles a quem chamavam traidores, estes "traidores" quais não faziam mais que proteger o que até então tinha havido (hoje, os semi-liberais querem fazer crer que estes "traidores" tinham teses próprias inovadoras, nascidas no iluminismo; mas, ao vermos a documentação histórica confirmamos algo bem diferente: estes sempre manifestaram interesse em defender o que sempre tinha havido, e nunca propuseram um sistema novo, sempre quiseram proteger o que era de tradição e pureza da Fé, condenaram a maçonaria, condenaram o liberalismo, condenaram o iluminismo mas defenderam a autoridade do Rei contra as propostas fragmentárias do liberalismo - eis o único motivo pelo qual os revoltosos os chamaram de "absolutistas")! Veja-se também o cenário emotivo, a chantagem, a apresentação que o articulista faz dos "ferros" da escravatura, quando, como sabemos pela história anterior e posterior, foi o liberalismo quem praticou a escravatura no sentido menos católico da palavra. E os factos? Que factos são esses apresentados pelo articulista? Pelas fontes incontestáveis, sabemos que, pelo menos no que respeita a Portugal, os "factos" apresentados não passaram de propaganda liberal, como já se tinha feito na revolução em França, e como se viera a fazer curiosamente na revolução marxista (o fenómeno é semelhante)..., eis o pequeno vício da formação das "lendas negras", que não é mais que a calúnia social para assentar em jornal e em livro!]
- "É finalmente um monstro, digno de erguer o grito do absolutismo, e de estar à frente do partido, que suspira pelos ferros da escravidão." (pág. 1197) [como temos visto, os liberais tentavam apresentar à população um motivo credível pelo qual os "absolutistas" lutassem pelo "absolutismo" e que seria o motivo de quererem recompensas e cargos, ou porque eram liberais descontentes por não lhes terem dado os cargos e benesses almejadas; mas isto é dito depois da vitória liberal e sem sequer referirem ALGUM DOS ARGUMENTOS dos "absolutistas". Não há sequer tentativas de refutação, portanto, tudo dos liberais fica mais pela propaganda e encobrimento do ideário "absolutista" grande inimigo da maçonaria (e amigo do Clero e da pureza da Fé - por isso também chamados de "partido apostólico", "frades", etc.). A muitos leitores, que até agora tenham acompanhado, isto fará alguma confusão porque receberam a história por via dos vencedores, a qual, por mais católica que hoje se diga ser, bebeu já a informação predominante naquela época. O texto do artigo refere-se a Joaquim Pinto Madeira, militar condenado à força pelos liberais]
Embora nos restasse uma significativa quantidade de páginas do Aurora Fluminense, as referências ao "absolutismo" que faltam ver estão já metidas naquilo que foram as tentativas do Crato (Brasil): o restauro da Monarquia tradicional do Brasil, por ocasião da abdicação de D. Pedro I; agora não nos interessa continuar a seguir por aqui o uso da palavra "absolutismo".
Haverá talvez jornais brasileiros melhor exemplo que o Aurora Fluminense, e se houver tempo é de ir a eles, noutra ocasião.
Nas suas campanhas os liberais apresentaram como "anarquia", "arbitrário" e "despotismo" a oposição à criação de uma Constituição. Tinham em seu programa que só a defesa da criação de uma Constituição, ou da permanência dela, teria direito a ser interpretada como "querer lei"; eis um dos absurdos da ala liberal: na prática negavam de toda a lei anterior por estar ela fora de uma Constituição (segundo o conceito liberal-republicano), e demitindo toda a autoridade que não fosse democrática, ou quase. Ora, os "absolutistas" nunca em seus escritos se insurgiram contra a existência de lei, facto que deveria ter sido honestamente assumido pela propaganda liberal, mas sim contra a criação de uma Constituição segundo o conceito liberal-republicano. Um dos mais ilustrados "absolutistas" portugueses, o Pe. José Agostinho de Macedo chegou inicialmente a apoiar a criação de uma Constituição até se aperceber de que espécie de coisa se tratava realmente. Não defendeu nunca a não existência de leis, pelo contrário: defendeu que a verdadeira constituição de Portugal está no conjunto de leis e costumes do Reino, segundo a Lei de Deus e da Igreja etc... Tal como este, também todos os portugueses "absolutistas" que escreveram na época defenderam o mesmo, e os posteriores grupos que se quiseram chamar de "tradicionalistas" a si mesmos disseram ter naqueles ilustres primeiros pais os seus Mestres. Sem dúvida alguma, a experiência espanhola foi diferente e grande em números, se bem que qualitativamente seria Portugal a ter de ajudá-la!
(a continuar)
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